O governo francês e a Comissão Europeia, o órgão executivo da União Europeia, se somaram ao repúdio à polêmica declaração do presidente da farmacêutica francesa Sanofi, de que os EUA teriam a primazia na vacina contra a Covid-19 que está desenvolvendo, caso seja bem-sucedida, por terem “investido mais”.
“A vacina antiCovid-19 deveria ser um bem público mundial”, enfatizou o primeiro-ministro francês, Édouard Philippe, reproduzindo a declaração do presidente Emmanuel Macron na conferência virtual da Organização Mundial da Saúde, de 24 de abril, que preparou a conferência de doadores para o desenvolvimento de vacinas e tratamentos do coronavírus, que no início de maio levantou 7,4 bilhões de euros.
Por sua vez, a Comissão Europeia se pronunciou prontamente exigindo que o acesso a uma vacina contra o coronavirus seja “equitativo e universal.”
Como o primeiro-ministro francês reiterou, “o acesso igual de todos a uma vacina não é negociável”. Ele revelou ter recebido do presidente do Conselho da Sanofi, Serge Weinberg, “todas as garantias necessárias quanto à distribuição na França duma eventual vacina do grupo”. A Sanofi – acrescentou – é “uma grande empresa profundamente francesa.”
A vice-ministra da Economia, Agnes Pannier-Runacher, fora a primeira a repelir o anúncio feito pelo presidente do grupo farmacêutico, o inglês Paul Hudson, à agência de notícias Bloomberg. “É inaceitável que exista acesso privilegiado de outro país sob um pretexto financeiro”.
O projeto de vacina da Sanofi está sendo tocado em parceria com a farmacêutica inglesa GlaxoSmithKline, com a expectativa de produção de 600 milhões de doses anuais, com a perspectiva de duplicar. O plano é começar os testes em humanos no segundo semestre deste ano, com o objetivo de ter a vacina disponível em torno da segunda metade de 2021.
A Sanofi recebeu de um órgão de fomento de pesquisas do governo norte-americano US$ 30 milhões para o projeto da vacina, e US$ 226 milhões para ampliar a capacidade de produção de vacina contra a gripe.
Hudson explicou suas polêmicas declarações como um chamado a que a Europa entre na corrida com os EUA e a China por uma vacina contra o coronavírs, irrigando generosamente os cartéis farmacêuticos, ou “ficará para trás”.
A OMS vem buscando unificar os esforços multilaterais para obtenção de uma vacina que seja acessível igualmente a todos os países – esforço do qual os EUA estão de fora.
Na quinta-feira, tomou posse em Washington o “novo czar das vacinas”, Moncef Slaoui, por coincidência ex-executivo do setor de vacinas da GlaxoSmithKline. Ele afirmou que era “crível” mas “difícil” ter uma vacina até o final do ano, mas se comprometeu a tentar.
Slaoui comentou que o prazo previsto pelo infectologista Anthony Fauci já era bem puxado. “Francamente, 12-18 meses já é um cronograma muito agressivo”, afirmou, acrescentando não achar que Fauci “esteja errado”.
Trump chamou de “Warp Speed” o projeto de vacina, a ser tocado por um general, e que usará em sua campanha de reeleição para asseverar que o fim da pandemia já está a caminho.
Segundo e-mail enviado pela Sanofi à Bloomberg após a repercussão da sua matéria, a produção da vacina em unidades fabris nos EUA iria “principalmente para aquele Mercado, enquanto a capacidade [fora dos EUA] iria cobrir a Europa e o resto do mundo”. O e-mail também asseverava que o grupo farmacêutico estava tendo “conversas muito construtivas” com os governos francês e alemão e as instituições da União Europeia.