Leia de Almeida, sobrinha de Angelita Pereira que morreu vítima da Covid-19, no dia 4 de fevereiro de 2021, foi ao ato em defesa da democracia e contra o governo Bolsonaro neste 7 de Setembro, no Vale do Anhangabaú, na capital paulista, para honrar a memória de sua tia na data em que ela faria aniversário.
“Ela sempre foi uma mulher muito alegre, uma mulher que sempre gostou da vida. Infelizmente essa doença levou ela. Hoje ela faz parte dos mais de 584 mil mortos. Só que ela não foi só mais uma vítima. Ela tinha família. Está sendo muito difícil para nós superar essa dor. Hoje era aniversário dela, dia 7 de setembro e eu achei que não tinha maneira melhor de honrar a memória dela do que aqui”, disse Leia, emocionada.
“Eu só tenho a dizer que esse pessoal que apoia Bolsonaro também tem sangue nas mãos. Não é possível uma pessoa apoiar quem é contra a vida. E eu vou vir aos protestos quantas vezes for necessário para defender não só a memória da minha tia, mas de todos os outros 584 mil mortos”, afirmou.
“Não podemos abaixar a cabeça. Não podemos nos calar diante desse massacre que está acontecendo por conta deste presidente genocida”, concluiu Leila.
Assim como Leia, milhares de pessoas ocuparam o Vale do Anhangabaú, no centro da capital paulista, contra as ameaças à democracia realizadas por Bolsonaro. O protesto contra Bolsonaro também se estendeu pelos primeiros quarteirões da Avenida São João.
Portando diversas faixas e cartazes criticando o governo pela má condução da pandemia, os escândalos de corrupção envolvendo a compra de vacina, as rachadinhas e privatizações, os movimentos sociais, centrais sindicais e entidades estudantis mobilizaram o ato que também contou com a presença de diversas lideranças políticas.
Vamos enfrentar Bolsonaro
O deputado federal, Orlando Silva (PCdoB), denunciou as ameaças do governo Bolsonaro à independência do país. “Neste 7 de Setembro, nesse momento em que o país é governado por um traidor, que quer vender os Correios, a Eletrobrás, liquidar o Estado brasileiro, que quer colocar o Brasil de joelhos diante dos EUA, é simbólico que o povo se levante”.
“Nós vamos enfrentar Bolsonaro. Nós vamos derrotar Bolsonaro. E assim como foi na proclamação da nossa Independência, nós vamos ter que ter muita capacidade de dialogar e de juntar gente que não necessariamente pensa igual a nós. Mas juntar todo mundo que queira isolar Bolsonaro”, continuou o deputado.
Orlando destacou que ‘O Grito dos Excluídos’ (ato que é realizado há 27 anos no Dia da Independência) é uma manifestação por emprego, salário digno, vacina no braço, educação para nossa juventude. “E esse ano acrescenta um ponto a mais, que é muito importante. A luta mais importante do momento que é a defesa da democracia. Bolsonaro tenta quebrar o regime democrático do Brasil e nós teremos que continuar nas ruas. Porque para o impeachment, é necessário ter muita gente na rua e ampliar a luta em torno da defesa do nosso país e da democracia”, frisou.
A presidente do PT deputada, Gleisi Hoffman, destacou o fracasso da mobilização orquestrada por Bolsonaro neste 7 de Setembro.
“Bolsonaro está há dois meses convocando manifestações com dinheiro obscuro. Ainda assim não conseguiram fazer os atos que eles queriam. Fracassaram. Não conseguiram invadir o Congresso e o STF como eles queriam”, disse.
A deputada federal ressaltou que “a pauta dos bolsonaristas não é a pauta do povo”. Não falou em vacina, em combater o desemprego, a fome… O ato deles é pra eles, não para o povo. Estamos aqui com a pauta que interessa para o povo, que é a da democracia”.
“Vamos resgatar o Brasil para os brasileiros. Eles são minoria. Aqui tem gente que está ao lado do povo brasileiro. Viva a luta do nosso povo e Fora Bolsonaro”, concluiu.
Lutamos pela Democracia
Lucca Gidra, diretor da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES-SP), destacou que o retorno às ruas é uma necessidade frente às ameaças à democracia realizadas por Bolsonaro. “O Brasil pertence àqueles que lutam pela democracia, aos que lutam contra as injustiças e é isso que a gente está fazendo aqui hoje: mostrando que existem essas pessoas e que nossa luta é incansável pela democracia”, destacou.
“Hoje é um dia muito importante. O Dia da Independência, é um dia que a gente tem que mostrar que o Brasil é do povo brasileiro, não daqueles que estendem a bandeira do Brasil, mas fazem atrocidades, atacam o nosso povo, atacam o povo brasileiro, deixam as pessoas à deriva da morte, armam esquemas de corrupção em cima de vacina…”, ressaltou Lucca.
O dirigente estudantil ressaltou ainda a campanha da UMES de conscientização para que a juventude tire o título de eleitor. “Estamos fazendo uma campanha e conscientizando a juventude a tirar seu título de eleitor para não só derrotar o Bolsonaro nas ruas como estamos fazendo hoje, mas também derrotar nas urnas!”. “Nós temos que tirar o nosso título para juntos derrubarmos o governo Bolsonaro e fazermos com que esse cara saia da Presidência de qualquer forma, de qualquer jeito”, concluiu.
A presidenta da UNE, Bruna Brelaz, defendeu que o lugar de Bolsonaro é a cadeia. “Nós, povo brasileiro, somos a maioria, nós, povo que luta e que defende este país, somos a maioria que luta contra os descasos do governo Bolsonaro. Do outro lado, eles falam em negacionismo, do outro lado, eles falam em morte, do outro lado eles falam em fuzil, mas nós sabemos que fuzil não enche o bucho de ninguém”, disse.
“Eles do outro lado, estão tirando foto com o Queiroz, um dos maiores bandidos desse país é exatamente porque são iguais a ele. Bolsonaro é o bandido e precisa de forma imediata estar na cadeia. Chegou a hora da gente unificar, dialogar com os mais diversos setores para de uma vez por todas derrotar este governo genocida, derrotar este governo que não representa a nossa luta por uma nova independência do Brasil”, ressaltou Bruna.
“O povo unido não acredita em mito! Nós estamos dizendo pra eles que não terá um genocida tentando implementar um golpe no nosso país, pois estamos aqui defendendo a democracia. Hoje, nós estamos dizendo que não vamos abaixar a cabeça para ditadorzinho que acha que manda no nosso país, que deixa o nosso povo morrer de fome, deixa nosso povo morrer na rua, que deixa nosso povo morrer sem educação”, afirmou Rozana Barroso, presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundarista (UBES).
A líder estudantil criticou a apropriação que Bolsonaro tenta fazer dos símbolos nacionais “Se ele acha que a bandeira do Brasil é dele, ele está enganado. O verde e amarelo é deste povo aqui e estamos na rua hoje pra dizer que nós reconstruiremos nosso país, que Bolsonaro vá bater continência pra bandeira americana longe daqui, porque o povo patriota de verdade grita por vida, vacina, pão e educação. O povo é soberano, o povo é que diz e ele não vai mais continuar apagando o nosso país, o nosso Brasil. Nós estamos no ato para defender a democracia e aqui fascista antidemocrático não se cria”, destacou.
União contra Bolsonaro
Carolini Gonçalves, presidente do núcleo religioso do PSDB, destacou que o partido foi às ruas na luta pela democracia. “Para nós a questão não é ideologia política, não é legenda, não é 2022, é uma questão muito clara, tem um cara que está contra a democracia, está contra as instituições e a gente precisa tirar ele de lá. Então quanto mais partidos se unirem a gente consegue mobilizar”, destacou.
“São Paulo é democracia, se os partidos se unirem aqui, a gente mostra um recado muito claro pra toda nação e a galera vem junto. O PSDB mais uma vez está aqui hoje no dia 7, nós estaremos presentes em todos os outros atos que forem contra o Bolsonaro dia 12, seja com quem for, o PSDB vai estar do lado pra derrubar o genocida”, ressaltou Carolini.
O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, destacou que Bolsonaro tenta dividir o país. “São três anos de destruição dos empregos, das vidas, da esperança. Nunca vi alguém destruir tanto para defender bandidos que é o que são os filhos dele. Eles vão responder na justiça. Eles vão responder pelo estrago que estão fazendo nesse país”.
Guilherme Boulos, liderança do Movimento dos Sem Teto e dirigente nacional do PSOL, criticou a tentativa de apropriação de verde e amarelo por Bolsonaro e seus apoiadores e destacou que o povo não tem medo das milícias bolsonaristas.
“Eles tentaram se apropriar dos símbolos nacionais, tentaram se apropriar da bandeira nacional, mas eles não vão tomar as ruas da gente. Nós não temos medo de ameaça golpista. Nós não temos medo de intimidação miliciana. O medo está do lado de lá. O medo é do Carluxo que vai ser preso logo mais. O medo é do Queiroz. O medo é do Bolsonaro, ladrão de vacina, genocida, que vai esbarrar no Tribunal de Haia para responder pelos seus crimes”, iniciou Boulos.
Para ele, “o Brasil não quer saber de ataque às urnas eletrônicas, de ataques às instituições. O Brasil quer saber é de combate à fome. Saber do preço do feijão e não do fuzil. Do botijão de gás, do litro da gasolina a R$ 7. O Brasil quer saber do combate ao desemprego. O Bolsonaro e a turma dele não têm resposta para isso. É exatamente por isso que, no desespero, eles atacam a democracia”.
“Nós somos herdeiros de uma geração que deu a vida pela democracia, que foi torturada, perseguida, censurada, assassinada. E nós não vamos entregar a nossa liberdade a eles e nem desistir da nossa luta e dos nossos sonhos. Vamos até o fim. Aqui tem mais de 50 mil pessoas e olha que eles fizeram tudo para não ter. Imagina como será a próxima? É com coragem que vamos derrotar esse genocida”, destacou o dirigente do PSOL.
Simone dos Anjos, dirigente da Coalizão Evangélica contra Bolsonaro esteve no ato e destacou que entre os religiosos há muita divergência quanto ao governo Bolsonaro e criticou o fundamentalismo religioso.
“Eu quero dizer aqui que a coalizão evangélica contra Bolsonaro é pelo Estado Laico e contra o fundamentalismo religioso. A bancada evangélica não representa os evangélicos e se tem um demônio que tem que ser expulso do Brasil, esse demônio se chama capitalismo na figura de Bolsonaro. Hoje a classe trabalhadora vai exorcizar Bolsonaro do Brasil. Se existem demônios hoje que precisam ser exorcizados hoje, são os ministros de Bolsonaro”, afirmou Simone.
“Sou uma mulher evangélica da periferia que tem a solidariedade de classe com as mulheres que compartilham o amor, a solidariedade, que compartilham o cuidado, as mulheres que compartilham a religião tem que se unir contra aqueles que pregam o ódio, que são contra nossos filhos. Fora Bolsonaro e viva a classe trabalhadora”, destacou a líder religiosa.
“Se você perdeu alguém da sua família, é culpa do Bolsonaro”
Nesse dia nós devemos proclamar a verdadeira liberdade, que se esconde dos arrombos autoritários de Bolsonaro, esse é exatamente o seu desejo, o de rasgar a Constituição do país, de entregar a nossa Petrobras a nossa Caixa Econômica, o Banco do Brasil, a Eletrobrás, os Correios, aos interesses do grande capital especulativo, aos interesses do imperialismo norte-americano”, destacou o presidente da Central Geral dos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil (CTB) Adilson Araújo.
“Se você perdeu alguém da sua família, alguém próximo, é culpa do Bolsonaro. O seu interesse era de arrancar, a cada vacina comprada, a propina em troca. Nós temos hoje 15 milhões desempregados e mais 6 milhões de famílias desoladas. São quase 80 milhões de brasileiros e brasileiras fora da força de trabalho e é nesse momento que o Bolsonaro usa o 7 de Setembro, mais uma vez, pra agredir as instituições do Brasil. Eles agridem os governadores, o STF, o Congresso. Estamos aqui defendendo o nosso país, o SUS, os trabalhadores contra este governo genocida”, destacou o sindicalista.
Sergio Nobre, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), destacou que a manifestação deste 7 de setembro, no Anhangabaú é histórica pela defesa da democracia. “A democracia é fundamental porque é nela que a classe trabalhadora avança em conquista, avança em direitos”.
“Hoje é um dia histórico no Anhangabaú porque esse ato, ao contrário do que ocorre na avenida Paulista, é um ato de solidariedade. Solidariedade às famílias que já perderam quase 600 mil brasileiros para o coronavírus. E a gente sabe que muitas dessas mortes poderiam ter sido evitadas se não fosse o governo criminoso de Jair Bolsonaro. Esse, que quer acabar com a soberania do nosso país, entregar as estatais a preço de banana e colocar trabalho precário no serviço público”, afirmou o presidente da CUT.
COBERTURA: RODRIGO LUCAS, PRISCILA CASALE, MAÍRA CAMPOS
JÚLIA CRUZ, TIAGO CÉSAR E ANDRÉ SANTANA
Veja imagens do ato do Vale do Anhangabaú:
Muito obrigada por compartilhar um pouco sobre a minha tia. Sra Angelita Dias Pereira, ela foi mais uma das mais de 584 mil vítimas desse desgoverno! É muito emocionante para mim e para minha família conseguirmos ser a voz do legado enorme que ela deixou. Parabéns pela matéria.
Nós é que agradecemos a você, pela confiança. Um abraço.