As associações médicas da Nicarágua lançaram nesta segunda-feira um chamado à população para que “inicie com urgência uma quarentena de forma voluntária, que ajude a reduzir o impacto da Covid-19”. Conforme as entidades, é necessário, “urgentemente”, um período de isolamento de três a quatro semanas para enfrentar a propagação do coronavírus, que “ameaça se agravar nos próximos dias e semanas, com terríveis e funestas consequências”.
No comunicado, 34 associações médicas qualificaram de “dramática” a situação no país e alertaram para a irresponsabilidade do governo Daniel Ortega “continuar negando” e rechaçando a necessidade de medidas restritivas – que qualifica de “extremas” – como paralisar o transporte ou fechar o comércio. Sob a alegação de que a pandemia “está sob controle”, denunciaram, se segue contaminando a pretexto de não prejudicar a economia, como se a vida nada importasse.
Muito diferente dos números oficiais, a Organização Não Governamental (ONG) Observatório Cidadão, integrada por médicos e pela sociedade civil, contabilizou em seu relatório de 27 de maio a 3.725 contágios suspeitos e 805 mortos, bastante superior aos 759 casos e 35 óbitos reconhecidos pelo Ministério da Saúde no mesmo período. Um novo levantamento governamental divulgado nesta terça-feira elevou para 1.118 o número de pessoas infectadas.
O aumento exponencial do coronavírus, explicaram os médicos, ”provocou um colapso no sistema de saúde pública e privada, com hospitais saturados: faltam camas, medicamentos e produtos essenciais, como oxigênio”.
O comunicado das entidades foi divulgado horas após ter sido confirmada a morte do dermatólogo e catedrático Aldo Martínez Campos por Covid-19, lamentou o presidente da Associação de Anestesistas, Róger Pasquier, frisando que, com a perda do médico de 83 anos, se somam pelo menos 29 profissionais da saúde levados pela pandemia no país.
O Conselho Superior da Empresa Privada (Cosep) respaldou a quarentena proposta pelas associações médicas e defendeu que “os negócios não essenciais que reúnam as condições para fazê-lo, os encerrem enquanto não se reduz a taxa de contágio”. Congregando cerca de 80% das empresas privadas nicaraguenses, o Cosep recomendou que as entidades que forneçam serviços ou produtos essenciais que passem a “utilizar o trabalho à distância na maior quantidade possível”.
A Associação de Vítimas de Abril qualificou como “crime” o fato de que quase uma centena de “presos políticos” continue encarcerados em meio à pandemia, alguns em greve de fome desde o dia 28 de maio, quando já foram liberados milhares de réus condenados por diferentes tipos de delitos. “A cada dia que Ortega está no poder é um dia de morte e de dor para as mães nicaraguenses”, concluiu a mensagem.