
“Vocês mataram meu irmão em 10 segundos e agora vão esperar quantos meses para amenizar o que minha mãe está sentindo?”, rebateu uma senhora
Após o crime cometido pela Vale em Brumadinho (MG), representantes da mineradora se recusaram a aceitar reivindicações emergenciais da comunidade.
A negativa da empresa gerou revolta, tensão, gritos, lágrimas e discussões durante uma reunião, na terça-feira (5), que durou mais de 2 horas e contou com cerca de 450 moradores e produtores rurais da região devastada pelo rompimento da barragem na mina do Córrego do Feijão.
A reunião, com um gerente e dois advogados da Vale, teve a presença de representantes do Ministério Público de Minas Gerais, Ministério Público Federal, das defensorias públicas da União e do Estado, além de entidades religiosas.
Os moradores solicitavam da empresa a doação de R$ 5 mil a todos os moradores do Parque da Cachoeira, um dos bairros mais afetados pelo desastre; que a Vale assuma as dívidas contraídas pelos produtores rurais para financiar as lavouras e plantações perdidas; o pagamento mensal de um salário mínimo a todos os moradores, meio salário a todo adolescente e 25% do mínimo por criança.
Estas reivindicações foram feitas há mais de uma semana. Após três reuniões, os prepostos da mineradora alegaram que não poderiam atender os pedidos e que “precisam de informações para tomar a decisão” e “não têm autonomia para isso”.
“Não temos condições de assumir responsabilidade sobre algo que não temos conhecimento. Precisamos entender a extensão deste problema. Ainda não temos informações suficientes para responder a estas solicitações”, repetiam os representantes da Vale.
Muitos moradores choravam ao ouvir as negativas dos funcionários da Vale. A tensão aumentou e houve pedidos dos representantes da mineradora por reforço policial.
O promotor estadual André Sperling, um dos líderes da negociação com a Vale, chegou a discutir com um advogado da empresa que chamou o rompimento da barragem de acidente.
“Parem de picaretagem”, disse Sperling, aplaudido pelos moradores. “Não mintam e não usem respostas fáceis”.
“O Ministério Público não aceita que foi um acidente. Aqui, você não vai chamar de acidente. Foi um crime. Chame como quiser, mas não de acidente”, disse.
Os moradores também rebateram os representantes da mineradora. “Perdi o emprego, agora vou viver como?”, gritou um morador da plateia ao ouvir que a empresa não atenderia aos pedidos.
Uma senhora questionou: “Vocês mataram meu irmão em 10 segundos e agora vão esperar quantos meses para amenizar o que minha mãe está sentindo?”.
“Para matar vocês são rápidos”, disse outra mulher, amparada por colegas. “Em Mariana foi igualzinho”, completou, em referência à ruptura da barragem do Fundão, em 2015, que matou 19 pessoas.
Segundo o procurador da República Elder Magno Silva, apenas três pessoas receberam a doação de R$ 100 mil que a Vale prometeu a famílias que perderam parentes na tragédia.
Um representante da mineradora alegou que 107 pessoas já foram beneficiadas.
“Muito estranho. Ontem, o diretor jurídico da Vale, Alexandre S. D’Ambrosio, me disse pessoalmente que três pessoas receberam o dinheiro”, questionou o procurador. “Vocês devem ficar atentos”, disse, dirigindo-se à plateia. “Doação é uma estratégia da Vale. Ela quer ficar bem para o acionista e para a imprensa”.
Até quarta-feira (6), o número de mortos na tragédia provocada pela Vale subiu para 150 e o de desaparecidos estava em 182.
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