A morte fulminante de uma menina de apenas 16 anos, vítima do novo coronavírus, na quinta-feira(26), num quadro em que “a onda epidêmica se agrava”, abala a França. E ampliou o sinal de alerta: em apenas 24 horas 365 pessoas perderam a vida, 1.698 desde o início do contágio, ocorrendo um óbito a cada quatro minutos.
No total, o país europeu conta com 3.375 pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) – +548 em um único dia -, de um total de 13.904 hospitalizados e 29.581 infectados, detalhou o diretor-geral de Saúde, Jérôme Salomon. “A epidemia continua a piorar” e mobiliza “de maneira excepcional e sem precedentes” todos os hospitais, públicos e privados.
De acordo com os familiares, Julie era saudável e não pertencia ao grupo de risco (hipertensos, asmáticos e diabéticos – nem acima dos 60 anos). “É um choque perder um filho, a vida perde o sentido, mas temos a obrigação de continuar. Ninguém é invencível”, declarou Sabine, mãe de Julie.
“DOENÇA SE AGRAVOU RAPIDAMENTE”
Conforme Sabine, os sintomas da doença começaram leves, com uma tosse seca, se agravando rapidamente no último final de semana, quando Julie passou a produzir secreção e começou a perder o fôlego. Na segunda-feira, um clínico geral constatou o rompimento dos brônquios e solicitou a internação do adolescente no Hospital Essone, sendo feito no mesmo dia um teste para Covid-19, que deu negativo.
A situação piorou e Julie foi transferida para o Hospital Necker, onde mais dois testes para o vírus deram negativo. Julie continuou internada sem assistência respiratória até que um telefonema do Hospital Essone revelou que o primeiro teste havia, na verdade, dado positivo. A francesa foi então entubada na terça-feira em um respirador artificial, mas seu pulmão não resistiu.
“Foi violento. Tivemos tempo de vê-la, mas depois tudo aconteceu muito rápido. Por causa das circunstâncias da epidemia, o protocolo para o enterro é muito rigoroso. Sei que é complicado, mas um pouco mais de humanidade é necessário”, defendeu a mãe.
O corpo será velado na próxima segunda-feira diante de, no máximo, 10 pessoas, como estabelece o decreto do governo. Na sua escola os colegas planejam realizar uma homenagem no dia 4 de maio – data em que está previsto o retorno às aulas.
“É UMA TENSÃO TREMENDA”
“A onda epidêmica está varrendo a França, é extremamente alta e está submetendo todo o sistema de cuidados e saúde a uma tensão tremenda”, reconheceu o premiê Édouard Philippe, alertando que “a situação será muito difícil nos próximos dias”.
Autoridades da região metropolitana de Paris estão correndo para encontrar mais leitos em UTIs, ventiladores e pessoal médico e distribuir a carga de pacientes pela capital e seus subúrbios mais amplos. A França já aumentou o número de UTIs de 5 mil para cerca de 8 mil, mas médicos dizem que a capital se encontra no limite após praticamente dobrar sua capacidade para cerca de 1.200 leitos.