Segundo a polícia, foram oito tentativas de assassinar o pastor; filhos e neta do casal foram presos
Nesta segunda-feira (24), a Polícia Civil do Rio de Janeiro apontou a deputada federal Flordelis dos Santos de Souza como a mandante do assassinato a tiros, do marido, o pastor Anderson do Carmo. O caso ocorreu em junho do ano passado e teve envolvimento de cinco dos 55 filhos do casal.
Equipes da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá (DHNSGI) e do Ministério Público Estadual do Rio prenderam sete envolvidos no assassinato. Cinco filhos do casal e uma neta foram presos. Flordelis chorou na chegada da polícia à sua casa, Niterói, na Região Metropolitana.
A deputada não pôde ser presa na operação por ter foro privilegiado.
O plano, segundo as investigações, começou em maio de 2018, com um envenenamento em doses por arsênico ou cianeto, e terminou com a execução. O pastor foi morto com mais de 30 tiros em 16 de junho de 2019, na porta de casa.
“Flordelis, além de arquitetar todo esse plano, financiou a compra dessa arma, convenceu pessoas a realizar esse crime, avisou sobre a chegada da vítima ao local e tentou ocultar provas. Não resta a menor dúvida de que ela foi a autora intelectual, a grande cabeça desse crime”, afirmou o delegado Allan Duarte.
A deputada, segundo uma das interceptações da investigação, teria dito que não poderia se separar de Anderson.
“Quando ela fala com um dos filhos sobre os planos de matar Anderson, ela disse: ‘Fazer o quê? Se eu separar dele, vou escandalizar o nome de Deus’”, afirmou o promotor Sérgio Luiz Lopes Pereira, do Grupo de Atuação Especializada e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público.
Segundo o MPRJ, Flordelis também foi denunciada por associação criminosa, feita para matar o pastor Anderson.
“Uma associação criminosa que começou para matar por envenenamento, depois por arma de fogo, e por último para fraudar as investigações, com uso de contrainformações”, finalizou o promotor.
Inicialmente descrito como um suposto assalto à casa da família em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, desenrola-se numa elaborada trama, envolvendo suspeitas de traição, briga por dinheiro, envenenamento, destruição de provas e mais elementos até a ação de hoje para o cumprimento de nove mandatos de prisão.
O Ministério Público, na denúncia contra os dois filhos de Flordelis – Lucas e Flávio –, afirma que uma das motivações para o crime foi o “descontentamento com a forma como a vítima controlava as finanças” da casa. O próprio Flávio afirmou, em depoimento, desconfiar que Anderson estava dando “volta financeira” na mãe. Misael também deu um depoimento no mesmo sentido e afirmou que a mãe estava descontente com a questão financeira e achando que Anderson estava “dando a volta nela”.
Envenenamento
As denúncias de tentativas de envenenamento do pastor Anderson do Carmo começaram em maio de 2018. Ao assumir como deputada federal, ela se sentiu mais empoderada para realizar o assassinato, disse o promotor Sérgio Luiz. O envenenamento foi de forma gradual. O arsênico era colocado na comida do pastor. Ele teve várias passagens em hospitais de Niterói, com diarréia, vômitos, sudorese.
Pereira diz que a família chegou a fazer buscas na internet sobre cianeto depois que o uso de arsênico não trouxe o resultado esperado.
Causa
O inquérito concluiu que Anderson foi morto por questões financeiras e poder na família — o pastor controlava todo o dinheiro do Ministério Flordelis, hoje rebatizado de Comunidade Evangélica Cidade do Fogo.
De acordo com as investigações, Flordelis já planejava desde 2018 o assassinato de Anderson.
A deputada vai responder por cinco crimes: homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima), associação criminosa, falsidade ideológica e uso de documento falso. Pelo envenenamento, ela responderá por tentativa de homicídio.
A jornalistas na delegacia, o advogado Anderson Rollemberg disse ter ficado surpreso.
“A defesa foi surpreendida com essas prisões preventivas das cinco filhas da deputada e da neta. Tomaremos conhecimento do que há de indícios para que essas prisões fossem feitas e para o indiciamento da deputada, já que na primeira fase da investigação, passou longe de qualquer prova que a apontasse como mandante”, afirmou.
“A deputada está muito aborrecida e chateada com tudo que está ocorrendo porque tem com ela a inocência. Jamais foi mandante desse crime bárbaro”, destacou.
Segundo o advogado, Flordelis não tinha ingerência sobre o dinheiro da família. “Ela é cantora gospel, líder religiosa e parlamentar federal. A questão dela sempre foi dar o melhor para os necessitados. Por isso tinha mais de 50 filhos. Na opinião da defesa, está havendo um grande equívoco no desfecho desta investigação”.
Prisões
As prisões foram expedidas pela 3ª Vara Criminal de Niterói, que aceitou a denúncia do MP e tornou Flordelis ré.
Com a Operação Lucas 12, chega a sete o número de filhos presos no caso. Todos já são réus perante a Justiça.
Nesta segunda, foram presos cinco filhos do casal (Adriano, André, Carlos, Marzy e Simone) e uma neta (Rayane).
A Justiça ainda emitiu mandados de prisão contra dois homens que já estavam na cadeia: o filho apontado como autor dos disparos (Flavio) e um ex-PM (Marcos).
Um sétimo filho (Lucas), que já tinha sido preso por conseguir a arma, foi denunciado na Lucas 12.
Bolsonaro
Em 2019, Flordelis divulgou um vídeo com os bastidores da posse de Jair Bolsonaro e seu discurso na Câmara e o de Michelle Bolsonaro em libras no Palácio do Planalto.
No vídeo, vemos a admiração da acusada pela família Bolsonaro: