O ministro da Defesa, José Múcio, disse que as Forças Armadas vão colaborar com a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, que foi recriada por Lula. O grupo tinha sido extinto por Jair Bolsonaro nos últimos dias de sua gestão.
Múcio falou que a recriação da Comissão “não foi uma surpresa para nós, já estávamos esperando e estamos prontos para colaborar na retomada dos trabalhos da comissão”.
“O Ministério da Defesa vai colaborar com todos os trabalhos da comissão”, apontou.
A Defesa será representada por Rafaelo Abritta, que é advogado da União e assessor especial de Relações Institucionais do Ministério.
Segundo a CNN, as Forças Armadas foram informadas na quarta-feira (3) sobre a recriação da Comissão.
Lula assinou, nesta quinta-feira (4), o despacho anulando a decisão de Jair Bolsonaro de acabar com o grupo.
Ele também dispensou quatro indicados de Jair Bolsonaro, que estavam alinhados com o ex-presidente em negar os crimes da ditadura.
Entre eles estão o ex-presidente da Comissão, Marco Vinicius Pereira de Carvalho, assessor da ex-ministra Damares Alves, e o deputado Filipe Barros (PL-PR), que já deu declarações contra a Comissão, além de Paulo Fernando Melo da Costa, ligado ao senador bolsonarista Magno Malta (PL-ES).
Para o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, cuja pasta comanda o grupo, a recriação da Comissão “é um importante passo na garantia da memória, da verdade e da justiça”.
“Com a reconstituição da comissão, terão continuidade os trabalhos ilegalmente interrompidos pela gestão anterior de buscas e identificação das pessoas mortas e desaparecidas. Agora, após a posse dos integrantes, serão definidos os detalhes de funcionamento, calendário de atividade e plano de trabalho”, disse.
O comandante de Exército, general Tomás Paiva, já havia dito que não se opõe à instalação da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos.
O general defendeu que as pessoas que “perderam entes queridos tenham o direito de saber o que aconteceu”. “Isso é humanitário. Ninguém pode se opor a esse direito”.
Ele explicou que não foi contra a instalação da Comissão Nacional da Verdade durante o governo Dilma, mas criticou a “maneira como foi conduzido” o processo. “Durante o curso do trabalho da Comissão Nacional da Verdade, havia um viés que buscava uma justiça de transição que não existe”.
“São coisas bem diferentes. A Comissão Nacional de Mortes e Desaparecidos é uma outra iniciativa”, assinalou.
A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos foi criada em 1995, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, e trabalha para encontrar os restos mortais daqueles que foram assassinados pela ditadura. Ela também apura a causa da morte.
O ex-presidente Jair Bolsonaro, apólogo da ditadura e que tentou, fracassado, instalar uma outra em 2024, tem uma foto ao lado de um pôster com os dizeres: “Quem procura osso é cachorro”.