Jair Bolsonaro afirmou na sexta-feira (19), durante café da manhã no Palácio do Planalto, que é uma “grande mentira” que pessoas passem fome no Brasil:
“Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira. Você não vê gente, mesmo pobre, pelas ruas com físico esquelético como a gente vê em alguns outros países pelo mundo”, falou Bolsonaro, diante de uma mesa repleta de guloseimas
Segundo Bolsonaro, falar em fome no Brasil é “um discurso populista, tentando ganhar simpatia popular, nada mais além disso”.
Segundo os critérios da ONU, no Brasil, 2,5% da população passou fome em 2017 (últimos dados disponíveis).
Isso corresponde a 5,2 milhões de pessoas, população maior do que a do Uruguai, que é de 3,5 milhões de pessoas. E esses dados são subestimados. E de lá para cá, a situação só vem piorando.
Segundo dados do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), atualmente há mais de 16 milhões de pessoas vivendo em situação de extrema pobreza no Brasil.
De acordo com a Fundação Abrinq, que fez cálculos a partir de dados do IBGE, 9 milhões de brasileiros entre zero e 14 anos do Brasil viviam em situação de extrema pobreza em 2018.
Todas essas situações, descritas como “extrema pobreza”, implicam em fome, “insuficiência alimentar”.
Se é evidente, a olho nu, que a fome aumenta nas cidades, mais terrível ainda é a situação no campo brasileiro (cf. Trivellato, Paula Torres et al. Insegurança alimentar e nutricional em famílias do meio rural brasileiro: revisão sistemática. Ciência & Saúde Coletiva. 2019, v. 24, n. 3, pp. 865-874).
Bolsonaro não vê necessidade de fazer nada para enfrentar a fome no Brasil, porque o problema não existe. Certamente, o único problema para gente (?) do seu tipo é a existência do povo. Daí, qualquer preocupação com o povo, com suas necessidades, é “discurso populista”.
No mesmo café da manhã, Bolsonaro disse que “estou convencido de que os dados de desmatamento são mentira“.
Os dados de desmatamento são aqueles fornecidos por satélites e outros instrumentos físicos, portanto, são dados objetivos. Pode-se discutir o que eles significam, mas não os próprios dados. O desmatamento não é uma questão de crença ou convicção.
Porém, Bolsonaro está “convencido” que o desmatamento não existe – quando é óbvio que ele é um paladino do desmatamento.
Trata-se de um mundo onde a verdade é tudo o que não importa.
Um mundo onde a irresponsabilidade faz uma encruzilhada com uma insensibilidade desumana, com a burrice e com a completa incompetência.
Assim, diz Bolsonaro, governar é nada fazer:
“É só as autoridades políticas, nós do Legislativo e do Executivo, não atrapalharem o nosso povo e essas franjas de miséria por si só acabam no Brasil, porque nosso solo é muito rico para tudo o que você possa imaginar”.
“Franjas de miséria”?
O “solo”? O segredo para acabar com a miséria é colocar uma enxada na mão de cada pobre?
Certamente, somente omitiu, porque até ele tem algum limite, a chibata do feitor.
Sem ela, como os operários desempregados irão pegar na enxada, nos latifúndios dos amigos de Bolsonaro, ao invés de procurarem empregos na indústria?