O cientista Ricardo Galvão foi escolhido como novo presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O anúncio oficial foi feito nesta terça-feira (17) pela ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, em uma cerimônia em Brasília (DF).
A cerimônia contou com a ministra, Galvão e, também, Mercedes Bustamante, presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Evaldo Ferreira Vilela, ex-presidente do CNPq e professor titular da Universidade Federal de Viçosa.
Além disso, estavam presentes representantes de países, universidades e organizações acadêmicas e sindicais, como Renato Janine Ribeiro, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Bonciani Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Vinicius Soares, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), entre outros.
Nome reconhecido na área científica, Galvão é professor de física da Universidade de São Paulo (USP) e comandou o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) de 2016 a 2019. No entanto, foi demitido após Jair Bolsonaro (PL) acusar o Inpe de mentir sobre dados que indicavam alta no desmatamento na Amazônia.
Galvão foi incluído na lista da revista “Nature” de 10 cientistas que se destacaram em 2019. Em 2021, também recebeu prêmio internacional da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS) na categoria liberdade e responsabilidade científica.
“Quando fui demitido, foram várias manifestações de colegas da academia, políticos, jornalistas, entre outros, com muitos artigos da imprensa. Um deles, foi de autoria da grande física brasileira, professora Márcia Barbosa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em comentário para o jornal ‘O Globo’, ela lembrou que sempre houve embates entre poderosos e cientistas que apresentaram fatos que contrariaram os interesses dos poderosos, como foi a história de Alexandria, morta pelos negacionistas à época”, continuou Galvão.
“A ciência sobreviveu a autoridade política e promoveu avanços através da autoridade do conhecimento. Nesses últimos anos de atividade, foi um enorme retrocesso. Há pouco mais de dois meses derrotamos a truculência que existia em nosso País. Hoje, esta cerimônia e a indicação da professora Mercedes Bustamante para a CAPES são a comprovação que nossa ciência sobreviveu ao cataclismo político, promovido por um governo negacionista, que empreendeu um verdadeiro desmonte das políticas públicas em diversas áreas. Ainda, no dia de hoje viramos essa página triste de nossa história com a convicção que a ciência voltará a promover grandes avanços para a nossa sociedade através da autoridade do conhecimento. Muito obrigado”, concluiu Galvão.
No discurso, ele também defendeu os servidores públicos, que resistiram ao governo Bolsonaro.
“Todos os servidores públicos são acusados de não fazer nada, de não produzir, de não trabalhar, mas vocês foram o sustento contra esse governo. Eu sou muito agradecido a todos, muito agradecidos a todos os servidores das unidades. A Capes foi ameaçada, as organizações foram ameaçadas e atacadas”, disse Ricardo Galvão emocionado.
Assista o evento:
O CNPq é parte de um futuro melhor
Evaldo Ferreira Vilela, ex-presidente do CNPq, afirmou que o órgão segue no caminho certo, mas que é preciso avançar ainda mais para que a Ciência e a Tecnologia sejam determinantes no país.
“Eu estava na gestão quando o último governo queria juntar o CNPq à CAPES, com muita luta, conseguimos manter a CNPq. A governança que nós fizemos e que deram vida ao CNPq, precisam certamente continuar para que nós possamos ter um sistema mais contemporâneo de critérios de avaliação, que nós possamos ter o melhor daquilo que realmente nós precisamos financiar. Nós acertamos muito, mas precisamos acertar mais”, disse.
“Certamente o CNPq hoje está mais fortalecido para uma sociedade muito mais convencida da importância da ciência para o desenvolvimento do Brasil em todas as instâncias sociais, ambientais, econômicas e culturais. O CNPq é parte de um futuro melhor para todos nós brasileiros e brasileiras. E uma luz para os jovens talentosos desse país. Desejo sorte ao Galvão e a Luciana. Continuarei ao lado da ciência lutando junto com vocês para o desenvolvimento científico e tecnológico cada vez maior”, concluiu Evaldo.
Estamos virando a página do negacionismo, destaca Luciana
A ministra Luciana Santos saudou os presentes e afirmou que o país está virando a página contra o negacionismo.
“Não é possível imaginar um projeto de nação sem as nossas instituições que estão a serviço da inteligência e do conhecimento serem inabaláveis, de estarem acima de qualquer intempérie ou de qualquer situação que nós assistimos no momento muito recente do país. Mas como bem dito aqui por todos, nós estamos virando essa página”, destacou Luciana.
Para a ministra, a vitória política e eleitoral coloca a “ciência no posto de comando do país e não o negacionismo”.
“Tivemos um grande momento que foi uma vitória política e eleitoral recente que prevaleceu a necessidade de se colocar no posto de comando do país a ciência e não o negacionismo, mas essa é uma luta que terá um longo prazo a ser enfrentada e nós precisamos ter a dimensão disso. Mas eu penso que aqui está nesse auditório, as pessoas que aqui representam o sistema, essa resistência e o compromisso de levar adiante os valores que nos movem em momentos como esse. Por isso, em primeiro lugar, do meu querido próximo presidente do CNPq Ricardo Galvão, da professora Mercedes Bustamante que é a presidente da CAPES, do nosso Evaldo Vilela que é professor titular da Universidade Federal de Viçosa, passo aqui as responsabilidades para o nosso querido Ricardo Galvão”, disse.
RECOMPOSIÇÃO DO FNDCT
“Eu tenho uma alegria de falar neste pronunciamento, afirmando que a ciência está de volta ao Brasil. Este é um brado que estava preso na garganta de todos nós. E hoje, ele ecoa com a certeza de que a ciência está de com todo o prestígio e vigor. Em um governo absolutamente empenhado, sob o comando e orientação do nosso presidente Lula. Está empenhado e comprometido em reconstruir um país desmantelado a política irresponsável e negacionista praticada pela administração anterior. Uma administração que promoveu um verdadeiro apagão no financiamento da ciência brasileira”, continuou a ministra.
Luciana Santos afirmou, ainda, que o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) será retomado com investimento integral. “Em meu discurso de posse como a primeira ministra da ciência, tecnologia e inovação, assumi o compromisso de trabalhar de forma incansável. Para assegurar recursos às atividades de pesquisa e de inovação tecnológica. E hoje, na Casa da Ciência Brasileira, tenho a satisfação de anunciar a recomposição integral do orçamento do FNDCT e o fim dos limites impostos da forma como foi pela MP 1136, editada pelo governo anterior e que perderá validade nos primeiros dias de fevereiro”, disse.
“Com a liberação integral dos recursos do FNDCT, principal instrumento público de financiamento da ciência, encerramos um longo período de descaso e desvalorização da pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico do país. Esta é uma decisão política do governo Lula, para combater qualquer desmando contra a soberania do nosso país”, concluiu Luciana.
TIAGO CÉSAR