O presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), o físico Luiz Davidovich, afirmou que “não faz sentido termos de comprar tudo de fora, insumos da Índia, máscaras e respiradores da China”
O presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), o físico Luiz Davidovich, avaliou que o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta “estava apresentando um desempenho de acordo com as recomendações da OMS e dos profissionais de saúde e que era um desempenho adequado para a tragédia que vivemos, para o enfrentamento da pandemia, com a defesa do isolamento horizontal e tentando organizar o sistema de saúde nacional, que está muito ameaçado”.
Mandetta foi substituído no cargo pelo oncologista Nelson Teich.
Em entrevista para o Estadão, o físico afirmou que “qualquer pessoa que viesse a substituí-lo, por melhor que seja, terá de necessariamente seguir a mesma política”.
“É o que está sendo feito em outros países. É só olharmos para o que aconteceu com países que tinham uma visão diferente no começo e depois deram uma guinada, que são Inglaterra e Estados Unidos. Hoje a situação deles poderia ser melhor se eles tivessem tomado uma atitude mais rígida desde o começo”, prosseguiu.
“Não faltam simulações sobre o que vai acontecer se abandonarmos o isolamento. Não faltam experiências internacionais que mostram que o isolamento vertical não funciona. Não imagino um ministro da Saúde que não siga isso, que não siga a ciência. Se não fizer, será pesada sua responsabilidade quando ocorrer a saturação dos hospitais”, disse o presidente da ABC.
“Ai do governo que tiver de assumir a responsabilidade pelo grande número de mortos que podem ocorrer com isso”, advertiu.
Segundo o cientista, deverá haver uma séria avaliação dos especialistas para saber quando é hora de reduzir a quarentena. “O novo ministro tem de ter como plano a testagem massiva. É isso que vai orientar como vamos sair dessa situação”, frisou.
Luiz Davidovich questiona o fato do Brasil ter que importar tudo de insumos médicos para combater o coronavírus e atribui isso ao desmonte da ciência nos últimos anos.
“O país paga o preço de cortes sucessivos em ciência e na saúde. A Alemanha passou mais tranquilamente pela pandemia porque tinha equipamentos hospitalares, sistema de saúde adequado. Não faz sentido termos de comprar tudo de fora, insumos da Índia, máscaras e respiradores da China”, lamenta.
Ele considera que essa é a oportunidade de dar uma virada na política industrial e econômica do país.
“O Brasil precisa se conscientizar que temos de ter desenvolvimento de alta tecnologia no país. Não podemos depender de coisas essenciais. Espero que o que está acontecendo sirva de motivação para uma guinada na política econômica e industrial do país”, enfatiza Luiz Davidovitch.
“A chave para a solução dessa crise sanitária está na ciência. Repito, na ciência, na ciência. As formas de sair do isolamento também estão sendo examinadas por cientistas no país e no mundo. Isso tem de ser considerado. Não vamos sair de forma apressada, baseados no achismo de que é preciso sair. É claro que uma hora temos de sair, mas tem de ser da maneira mais apropriada possível. E para tomar essas providências, precisamos de muito mais testagem”, assinalou.
“O investimento em pesquisa é o que pode nos salvar. Tanto as vidas quanto a economia”, completou.