Um comboio de ajuda humanitária, composto por 20 caminhões transportando remédios e suprimentos de alimentos, entrou na Faixa de Gaza no sábado (21) vindo do Egito, na primeira leva depois de 20 dias de cerco total pelas forças de ocupação israelense, que mantêm 2,2 milhões de palestinos sem comida, água, eletricidade e combustível.
“Uma gota no oceano de necessidades”, como antecipara o diretor de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), Michael Ryan. 13 caminhões transportavam medicamentos e material médico, cinco transportavam alimentos e dois caminhões transportavam água. Nenhum combustível.
Segundo as autoridades de Gaza, a entrega permitida neste sábado “é 3% da ajuda diária de antes da agressão”, enquanto mais da metade da população de Gaza foi forçada pelos bombardeios israelenses a deixar suas casas, há mais de 4.000 mortos e 13 mil feridos, os hospitais estão à beira do colapso, as escolas estão superlotadas de refugiados, a usina de dessalinização parou por falta de combustível e a população é obrigada a beber água salobra e suja de fundo de poços.
Esse comboio de ajuda “não será capaz de mudar a catástrofe humanitária que a Faixa de Gaza está vivendo”, advertiu o porta-voz do governo de Gaza, Salama Marouf, que pediu um “corredor humanitário seguro que funcione 24 horas por dia”.
“Precisamos trazer mais caminhões”, afirmou a diretora executiva do Programa Mundial de Alimentos da ONU, Cindy McCain, que chamou de “terrível” a situação em Gaza. “Não só não há comida, como também não há água, eletricidade ou combustível. E essa combinação não é apenas catastrófica, mas também pode levar a mais fome e doenças”, sublinhou.
A abertura de fronteira foi por um curto período, enquanto cerca de 200 caminhões, com 3.000 toneladas de ajuda vinda de todas as partes do mundo, seguem aguardando autorização nas imediações da passagem de Rafah. O cerco da Gaza foi comparado, pelo presidente russo Vladimir Putin, ao cerco de Leningrado pelos nazistas, em que 1 milhão de civis morreram de fome.
CORREDOR HUMANITÁRIO URGENTE
Na véspera, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, visitou Rafah, onde disse que os palestinos “precisam de alimentos, água, medicamentos e combustível agora”. “Precisamos disso em grande escala e precisamos que seja continuado”.
Por sua vez, o coordenador da ajuda de emergência da ONU, Martin Griffiths, disse que atravessou “dias de negociações profundas e intensas com todas as partes relevantes” para garantir que a operação de ajuda a Gaza “seja retomada o mais rapidamente possível e nas condições certas”.
Ele se disse confiante de que esse comboio será “o início de um esforço sustentável para fornecer suprimentos essenciais – incluindo alimentos, água, medicamentos e combustível – ao povo de Gaza, de forma segura, confiável, incondicional e desimpedida”.
Na verdade, Israel vinha insistindo em manter seu cerco total a Gaza intocado, mas teve de admitir algum alívio depois do massacre do hospital Al-Ahli, que chocou o mundo inteiro e intensificou o clamor pelo fim do genocídio em Gaza.
Após tanta carnificina, o primeiro comboio é um fato positivo, mas muito distante de dar conta do desastre humanitário em curso. Os hospitais dentro de Gaza já atingiram o “ponto de ruptura” devido à escassez, advertiu a OMS.
O diretor-geral do organismo da ONU, Tedros Adhanom Ghebreyesus, pelas redes sociais, pediu “passagem segura de comboios de ajuda adicionais através do enclave, à proteção de todos os trabalhadores humanitários e a um acesso sustentado para ajuda à saúde”, para que seja minorada a situação desesperadora da população de Gaza.
Ele informou que os suprimentos deste sábado incluem “medicamentos e suprimentos para traumas para 1.200 pessoas e bolsas portáteis para traumas para estabilização no local de até 235 pessoas feridas”, enquanto que os afligidos pelo cerco são milhões.
SEM COMBUSTÍVEL
A exclusão, desse primeiro comboio de ajuda, do fornecimento de combustível, foi denunciada pela ONU e pelas autoridades palestinas.
“O combustível é absolutamente crítico”, disse Juliette Touma, diretora de comunicações da agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA), à Al Jazeera. “O combustível precisa de chegar. Se quisermos continuar a prestar assistência às pessoas, precisaremos de combustível.”
As autoridades médicas de Gaza advertiram que “excluir a entrada de combustível como parte da ajuda humanitária continuará representando uma ameaça às vidas dos pacientes e dos feridos”, com os recursos dos hospitais em Gaza “completamente esgotados”. Além disso, sete hospitais e 25 unidades de saúde ficaram fora de serviço tanto devido a ataques, quanto a esgotamento de combustível.
Sem combustível, alertam os palestinos, não há como bombear o abastecimento de água nem como manter em funcionamento os cruciais geradores de hospitais. Milhares de pacientes, incluindo bebês recém-nascidos em incubadoras, correm risco imediato. Muitos pacientes, como pacientes renais e com câncer, já estão entre a vida e a morte.
Na Cisjordânia ocupada, o chefe do partido Iniciativa Nacional Palestina e ex-legislador, Mustafa Barghouti, advertiu que Gaza precisa de “pelo menos 500 caminhões de combustível, alimentos, medicamentos e água diariamente”. “A necessidade imediata agora é de 7.000 caminhões de ajuda”, acrescentou. “Precisamos de apoio imediato para reduzir este ato de punição coletiva contra o povo palestino”, acrescentou.