“O senhor se aquiete”, cobrou. José Medeiros (PL-MT), em audiência na Comissão de Direitos Humanos com o ministro Anderson Torres, foi enquadrado pelo presidente da Comissão, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), por agredir e interromper grosseiramente a manifestação da deputada Taliria Petrone (PSOL-RJ)
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos, enquadrou o deputado bolsonarista José Medeiros (PL-MT) por ter interrompido desrespeitosamente a manifestação da deputada Taliria Petrone (PSol-RJ), enquanto ela denunciava as omissões do Ministério da Justiça diante dos crimes de milicianos.
Taliria Petrone afirmou que as “últimas semanas foram marcadas por fatos que demonstram o horror que está em curso no nosso país” e citou o caso o assassinato de Genivaldo, a chacina da Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, e o assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira, na Amazônia.
O deputado José Medeiros interrompeu Taliria, e também a ofendeu, para atrapalhar a audiência, que tinha o ministro Anderson Torres como convocado.
Neste momento, o presidente da Comissão, Orlando Silva, defendeu o direito de Taliria Petrone e confrontou o bolsonarista. “O senhor vai ter o direito de falar quando eu lhe oferecer a palavra. O senhor tem que respeitar o regimento”.
“Deputado, o senhor está exagerando, se excedendo, ferindo o regimento e quebrando o decoro ao não respeitar os seus colegas. O senhor se aquiete porque a reunião vai continuar. A deputada Taliria vai ter o tempo dela reposto”, continuou Orlando.
Enquanto o bolsonarista continuou com as ofensas, Orlando Silva exigiu respeito à deputada. “Respeite a deputada Taliria! O senhor não pode falar nada que o senhor falou para ela agora. Se respeite, rapaz, tenha postura de deputado”.
Com o tempo reposto, Taliria Petrone perguntou aos bolsonaristas: “onde foi que os senhores esqueceram as vossas humanidades?”.
“O governo Bolsonaro está transformando todas as instituições em milícias!”, apontou a parlamentar.
“O que explica a omissão do Ministério da Justiça? Onde os senhores estavam que não protegeram servidores da Funai [Fundação Nacional do Índio]?”.
Bruno Araújo Pereira foi demitido da Funai, durante o governo Bolsonaro, depois de ter participado de uma operação de combate ao garimpo ilegal em terras indígenas. Dom Phillips era correspondente do jornal “The Guardian” no Brasil. Ele fazia trabalhos voluntários e terminava livro ‘Como salvar a Amazônia?’.
TORRES
O ministro Anderson Torres, durante a audiência, tentou minimizar os atos de violência que estão acontecendo. Segundo ele, o caso de Genivaldo foi um “ato isolado”, ainda que aquele tipo de tortura esteja presente nas manifestações de diversos agentes que dão aula em concursos públicos.
Para encobrir a inação do governo nesses crimes, Torres ainda fez uma chantagem emocional e reclamou por supostamente não ter visto a mesma comoção pela morte de dois agentes da PRF, em Fortaleza. “A gente precisa medir as coisas. A gente precisa dar o mesmo valor a todas as vidas. Na semana anterior, foram assassinados dois policiais e não vi essa reação”, disse, queixando-se da comoção de todo o país diante do assassinato bárbaro, covarde e ultrajante, como foi o de Genivaldo.
A comissão tinha aprovado a convocação do ministro da Justiça, mas o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), anulou a convocação a pedido dos deputados bolsonaristas. A convocação foi transformada em convite e, assim, Anderson Torres compareceu.
Restou aos deputados bolsonaristas comparecerem em tropa de choque para provocar e apoiar o ministro da Justiça.