Já são mais de 500 acusações de abuso contra o suposto médium. A advogada foi abusada quando tinha 16 anos
O “médium” João de Deus entregou-se a Polícia Civil na tarde de domingo (16). Ele é acusado de abusar sexualmente de mais de 500 mulheres em Abadiânia (GO), enquanto fazia supostas “cirurgias espirituais” na Casa Dom Inácio de Loyola.
João Teixeira de Faria, o João de Deus, teve sua prisão decretada pelo Ministério Público de Goiás na última quarta feira (12), e já era considerado foragido pela polícia. Ele se entregou no domingo numa estrada de terra nas redondezas de Abadiânia, após ser procurado pela polícia em 30 endereços diferentes, sem sucesso.
Até segunda-feira (17), das mulheres que denunciaram abusos, 30 já foram ouvidas pelo Ministério Público e a Polícia Civil colheu o depoimento de 15 mulheres.
De todos os relatos, que apareceram em muitos momentos na TV, o mais impressionante é o da advogada Camila Correia Ribeiro, que disse em entrevista ao Fantástico, no domingo, que foi abusada por João de Deus durante um atendimento, em 2008, em uma sala em que seu pai também estava presente.
Ela tinha apenas 16 anos, e foi até lá com a família na esperança de se curar de uma síndrome do pânico. Segundo ela, seu pai não pôde ajudá-la, pois foi orientado por João de Deus para que ficasse de costas, de olhos fechados e rezasse.
Na mesma entrevista ao Fantástico, o pai de Camila disse que ao ouvir a filha chorar,
“pensava que ela estava recebendo uma cura. Eu nunca podia imaginar que estava na mão de um bandido”.
Ela conta: “Quando ele pegou minha mão e colocou nele [pausa e chora] … eu vi que tinha uma coisa errada, porque que ele tava fazendo aquilo? Eu não sabia. [Ele colocou minha mão] no órgão dele. Eu não conseguia falar… e não conseguia mexer, eu não… eu não conseguia falar nada. Não sei o porquê. [Meu pai] tava perto, muito perto, sabe?”.
Só ao chegar em casa ela conseguiu contar para a mãe o que tinha acontecido. A família fez uma denúncia contra o “médium”.
Camila foi uma das primeiras mulheres que procuraram a Justiça para denunciar o João de Deus por abuso. Antes disso, outra jovem, também de 16 anos, de Minas Gerais, denunciou o curandeiro, em 1980, mas não levou o caso adiante.
Somente em 2013, cinco anos depois da denúncia de Camila, é que saiu a decisão da Justiça, absolvendo João de Deus da acusação. O processo foi arquivado.
No Fantástico, Camila contou: “Eu fui ler a sentença agora, há pouco tempo, depois que toda a notícia apareceu. E eu fiquei como errada ainda, sabe? Dez anos! Ele ficou fazendo isso, a mesma coisa… Dez anos!”.
DEPOIMENTO
Em seu depoimento, no domingo à noite, o suposto médium negou todas as acusações. Apesar disso, o delegado-geral da Polícia Civil, André Fernandes, afirma que “o interrogatório não consegue superar as denúncias, as oitivas das mulheres que narraram de forma tão segura e detalhada o que viveram. Somado com outras provas que a polícia terá até o fim das investigações, o Poder Judiciário terá vastas informações”.
“Vamos confrontar o que ele falou com as provas que temos e com os depoimentos colhidos e analisar tudo. Devemos ouvir ele uma segunda vez, mas primeiro precisamos fazer esses comparativos”, completou o delegado.
Na quarta feira (12), o jornal “O Globo” trouxe matéria denunciando que o “médium” transferiu R$ 35 milhões de sua conta logo após as denúncias, a suspeita é que ele pretendesse fugir.
A defesa entrou com pediu de Habeas Corpus, na manhã de segunda feira (17), alegando fragilidade de sua saúde devido à idade avançada, já que João tem 76 anos.