“O Ocidente destruiu de fato a credibilidade de suas moedas”, afirmou o presidente russo
O pagamento das exportações de gás russo terá de ser feita exclusivamente em rublos no caso dos ‘países hostis’ – ou seja, os que decretaram sanções ilegais contra a Rússia – anunciou o presidente Vladimir Putin na quarta-feira (23).
O presidente revelou que a Rússia irá abandonar todas as moedas “comprometidas” nos acordos de pagamento. Putin acrescentou que as decisões ilegítimas de vários países ocidentais de congelar os ativos da Rússia destruíram toda a confiança em suas moedas.
“Decidi implementar no menor tempo possível um conjunto de medidas para alterar os pagamentos – sim, vamos começar com isso – pelo nosso gás natural fornecido aos chamados países hostis em rublos russos, ou seja, parar de usar as moedas comprometidas em transações”, disse o presidente russo.
“Não faz sentido entregar nossos produtos à UE e aos EUA e ser pago em dólares e euros”, acrescentou.
O presidente deu uma semana ao Banco Central e ao governo para definir os procedimentos das operações de compra de rublos no mercado doméstico para importadores de gás russo.
Os Estados Unidos e a UE praticamente não cumpriram suas obrigações perante a Rússia. Alguns suspeitavam disso, mas agora todos no mundo sabem que as obrigações em dólares e euros podem não ser cumpridas, acrescentou.
Putin asseverou que a Rússia continuará fornecendo gás de acordo com os volumes e princípios de preços dos contratos. Apenas a moeda de pagamento será alterada.
Os EUA – depois secundados pelos países europeus – que se recusaram a discutir a proposta russa de fim da expansão da Otan até a fronteira russa e que desde 2008 açularam a Ucrânia a abandonar seu status de país neutro para o de membro da Otan, e que deram sustentação à recusa de Kiev a cumprir os acordos de pacificação de Minsk sobre o Donbass – desencadearam contra a Rússia sanções sem precedentes, após Moscou ter reconhecido as duas repúblicas do Donbass e iniciado uma operação para desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia e para impedir um genocídio no leste de fala russa.
Uma semana antes, o presidente ucraniano, o comediante Volodymyr Zelensky, ameaçara na Conferência de Segurança de Munique construir armas nucleares e voltara a exigir o ingresso na Otan. Há meses a Ucrânia mantinha 120 mil soldados prontos para uma blitzkrieg contra Donetsk e Lugansk, na linha de contato.
Assim, os EUA e seus subalternos cortaram a Rússia de seus sistemas financeiros e congelaram US$ 300 bilhões em reservas cambiais russas no exterior, entre outras medidas.
SEM RUBLOS, SEM GÁS
Em última análise , a decisão de Putin significa que os países que decretaram sanções ilegais contra a Rússia, ou compram o gás russo com rublos, ou não o receberão.
Cerca de 90% do gás utilizado na União Europeia é importado, segundo a Comissão Europeia, com a Rússia fornecendo em torno de 45%.
Após o anúncio da nova forma de pagamento para o gás russo, o dólar caiu imediatamente abaixo de 100 rublos por dólar, com a moeda russa tendo antes se desestabilizado sob as sanções. Já o preço do gás, que estava € 97 por megawatt-hora (MWh) fechou o pregão a € 114 por 1MWh.
Importadores europeus de gás russo pediram esclarecimentos sobre como isso irá funcionar, ou, em vários casos, tentando resistir à decisão russa.
No caso da Bulgária, que disse que se recusaria a mudar para rublos nos pagamentos de gás, a reação do porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, foi que a questão está encerrada e a Bulgária terá que pagar em rublos “gostando ou não”.
Ele esclareceu que Moscou irá buscar uma solução para o caso da Sérvia, que, como a Hungria, depende do gasoduto que passa pela Bulgária. Peskov abordou as preocupações da Sérvia que, ao contrário da Bulgária, se absteve de quaisquer atos hostis ou comentários contra a Rússia em conexão com a Ucrânia.
“Isso não se aplica à Sérvia. O problema será resolvido e, naturalmente, as preocupações da Sérvia serão nossa principal prioridade”, disse Peskov.
O prazo para mudar para rublos nos pagamentos de gás ainda não foi anunciado. No entanto, de acordo com Peskov, as condições para a mudança serão esclarecidas diretamente aos compradores de gás russos no devido tempo.
Moscou tem alertado a Europa que, se as importações russas forem proibidas, o mercado de energia ficará à beira do colapso, e o preço poderá chegar a US$ 4.000 por 1.000 metros cúbicos. O vice-primeiro-ministro russo e ex-ministro da Energia, Alexander Novak, advertiu ainda que o volume de gás nas instalações de armazenamento europeias é significativamente menor do que no ano passado.
