Cenas de caos no aeroporto de Cabul – o ‘momento Saigon’ do governo Biden – continuam chamando a atenção do mundo, após a tomada da capital pelos insurgentes do Talibã, praticamente sem um tiro, com as forças treinadas pelos norte-americanos literalmente derretendo sem lutar e o presidente fantoche Ashraf Ghani fugindo do país.
Pencas de colaboracionistas, que não querem ser deixados para trás pelos norte-americanos, alemães, britânicos e outros cúmplices, acorreram em desespero ao aeroporto, para tentar uma vaga de qualquer jeito em uma aeronave de evacuação de norte-americanos, a ponto de haver vídeos de gente caindo do alto de aviões que decolaram.
Conforme a CNN, vários homens ou jovens foram vistos em vídeo agarrados à fuselagem de um avião militar C-17 dos EUA enquanto ele taxiava na pista na tarde de segunda-feira, com muitos outros assistindo ou correndo ao lado do avião, alguns deles sob os motores. Um helicóptero Apache militar dos EUA também foi visto voando baixo sobre a pista no que parecia ser um esforço para dispersar a multidão de civis que tentavam desesperadamente sair.
Pelo menos dois objetos, ou pessoas, podem ser vistos caindo ao solo conforme o C-17 ganha altitude.
Pessoas que afirmam ter testemunhado o evento postaram em mídias sociais e falaram com outros meios de comunicação, dizendo que pessoas que estavam agarradas à parte externa da aeronave haviam caído no chão quando o avião decolou.
Outro vídeo mostra um C-17 subindo sobre um bairro de Cabul. Pelo menos uma pessoa ou objeto parece cair da fuselagem. Segundos depois, outra pessoa ou objeto parece cair.
A população local postou vídeo e imagens de pelo menos um corpo que disseram ter caído do céu e pousado no telhado de um prédio, de acordo com postagens nas redes sociais.
A CNN registrou não poder verificar de forma independente se alguém ainda estava agarrado ao avião quando ele decolou – e não se sabe se era o mesmo avião, ou se a tripulação estava ciente de que as pessoas estavam se agarrando ao avião.
Após uma interrupção para tirar as pessoas da pista, os voos de evacuação foram retomados. O governo de Washington havia prometido levar consigo 30 mil colaboracionistas, o Canadá, 20 mil, e outros países da Otan cúmplices de 20 anos de ocupação prometeram o mesmo a mais alguns milhares de ex-“tradutores”.
Como o regime fantoche derreteu antes de os marines darem uma carona a essa gente toda, o caos se instaurou no único lugar que sobrou no país onde o Talibã está permitindo que o invasor permaneça até que dê o fora. A conhecida âncora da CNN, Christiane Amanpour, traduziu o fracasso desse domingo: “os 20 anos de esforço americano desmoronaram em um gemido”.
O editor de Segurança Internacional da CNN, Nick Paton Walsh, que está em Cabul, disse que a situação no aeroporto no início do dia estava “completamente fora de controle” e houve tiros disparados para o ar para conter a situação, com indivíduos invadindo portões e escalando paredes de concreto de 3 a 6 metros para entrar no campo de aviação.
“Também é surpreendente ver o Taleban tentando trazer algum grau de ordem para aquelas multidões que correm em direção ao aeroporto”, relatou Walsh.
Em comparação com o caos no aeroporto, em Cabul a situação é de tranqüilidade, segundo Walsh, que descreveu como ele e sua equipe puderam “dirigir pela cidade livremente” e membros do Talibã podiam ser vistos andando pela cidade segurando suas armas e sentados nas esquinas.
Uma visão “impressionante de se ver” – assinalou – em uma cidade em que as pessoas estavam acostumadas à presença de “soldados afegãos e soldados dos EUA”.
“Existem rumores ocasionais, relatos de que possivelmente o Taleban está procurando ex-funcionários do governo, por aqueles que trabalharam com os americanos. Mas ao mesmo tempo, você simplesmente tem que olhar para as ruas e observar a calma, as lojas estão abertas , um senso de ordem, francamente”, descreveu Walsh.
“Às vezes, brevemente, nas ruas parecia um pouco mais ordeiro do que quando a polícia do governo afegão estava comandando o show. Isso pode mudar. Isso não quer dizer que não haverá retrocesso nas questões de direitos humanos para as mulheres aqui e possivelmente em outros nos próximos anos”, acrescentou.
No domingo, os EUA anunciaram que tinham esvaziado e abandonado sua enorme embaixada em Cabul, e providência análoga foi tomada pelos governos britânico, alemão e francês, entre outros.
Russos e chineses anunciaram que manterão suas embaixadas funcionando e abertas. Como explicou o enviado russo ao Afeganistão, Zamir Kabulov, a diplomacia russa tem trabalhado “com todos os lados do conflito” e como resultado “garantiu condições bastante confortáveis para si mesma, independentemente da mudança de regime em Cabul”.
A capital do Afeganistão está segura agora, de acordo com o oficial russo. “A segurança é um conceito condicional, mas no momento é seguro [em Cabul]. A situação em Cabul em si é absolutamente calma. E não devemos misturar isso com o caos criado no aeroporto “, disse ele.
De acordo com Kabulov, o “caos e confusão” no aeroporto de Cabul foi criado pela decisão dos Estados Unidos de enviar alguns milhares de soldados para evacuar suas forças. “Não tem nada a ver com a situação dentro de Cabul”, disse ele.
“Esperávamos que as forças militares afegãs, preparadas pelos americanos e pela Otan, durassem pelo menos algum tempo e controlassem pelo menos parte do país o que permitiria manter negociações sobre um governo de interino de coalizão. Aparentemente, superestimamos os talentos de nossos colegas americanos e este exército desistiu sem lutar”, concluiu Kabulov.
Por sua vez a porta-voz da chancelaria de Pequim, Hua Chunying, afirmou que a China “respeita o direito do povo afegão de determinar de forma independente seu próprio destino e futuro e está disposta a continuar a desenvolver uma cooperação amigável e de boa vizinhança com o Afeganistão”.
Segundo o porta-voz do Pentágono, John Kirby, há no momento aproximadamente 2.500 soldados norte-americanos posicionados no aeroporto de Cabul, o que deverá chegar a 6.000 no final desta semana.
Em discurso na segunda-feira (16), Biden culpou os colaboracionistas pelo fracasso da ocupação e retorno do Talibã, dizendo que os EUA deram dinheiro, armas e treinamento.
Segundo o The New York Times, nos cálculos de junho de Washington o regime colaboracionista resistiria “cerca de um ano e meio”; avaliação encurtada para “três meses” segundo a CIA, depois que o Talibã iniciou a arrancada; previsão rapidamente corrigida para “um mês”.
No terreno, virou “uma semana”, com uma capital provincial caindo após a outra, até o Talibã cercar Cabul de todos os lados.
Um dos países mais pobres do mundo, os 20 anos de ocupação norte-americana causaram mais de 150 mil afegãos mortos e mais centenas de milhares feridos ou mutilados, enquanto os EUA torravam US$ 1 trilhão na guerra. A ocupação tornou o Afeganistão recordista mundial da produção de ópio, que chegara a quase ser zerada pelo Talibã.