O deputado federal Nereu Crispim (PSL-SP), presidente da Frente Parlamentar dos Caminhoneiros, afirmou ao HP que o novo aumento no preço dos combustíveis, anunciado pelo governo Bolsonaro na segunda-feira (25), vai fazer com que o preço dos alimentos suba ainda mais.
“A gente sabe o que vai acontecer. Vai aumentar a inflação, vai aumentar o feijão, o arroz… Se aumenta o diesel, [o preço de] qualquer mercadoria que se transporte por caminhão vai aumentar”, disse o deputado em entrevista à Hora do Povo.
A partir de terça-feira (26), o preço da gasolina será acrescido em 7% e o do diesel subirá 9,15%. O anúncio foi feito pela direção da Petrobras.
Para Nereu crispim, “o modelo de política econômica do ministro Paulo Guedes, que é referendado pelo presidente Bolsonaro e pelo presidente da Petrobrás, só atende os bancos e os investidores da bolsa de valores, deixando a maior parte da população brasileira na miséria, sofrendo com a inflação de dois dígitos, cozinhando os alimentos com lenha e comendo pé e pescoço de galinha”.
Nereu Crispim é contra a paralisação dos caminhoneiros, porque acredita que tem impactos na vida da população, que já está fragilizada pela crise, mas avalia que a greve poderá ser inevitável.
“Não é que eles vão parar, eles vão ter que parar. No momento em que você pega um frete de R$ 3 mil e gasta R$ 2 mil ou R$ 2,5 mil com diesel, não tem como trabalhar… Vai ser obrigado a parar porque a miséria é total”, disse.
Segundo o deputado, que participou da greve dos caminhoneiros em 2018, a vida desses trabalhadores “está uma miséria total. Hoje, a profissão não dá resultado financeiro nenhum. Tem gente vendendo casa e carro para pagar as dívidas provenientes da manutenção do caminhão”.
“No momento em que você pega um frete de R$ 3 mil e gasta R$ 2 mil ou R$ 2,5 mil com diesel, não tem como trabalhar… Vai ser obrigado a parar porque a miséria é total”
O governo Bolsonaro propôs pagar um auxílio de R$ 400 para a categoria e apresentou um projeto de lei, já aprovado na Câmara, mudando o cálculo do ICMS, que é um imposto estadual. Crispim afirmou que nenhuma das duas propostas resolve o problema porque não muda a política de preços da Petrobrás.
Os caminhoneiros se organizaram e exigiram uma reunião com o governo federal para que suas pautas sejam ouvidas.
Depois de marcar a reunião para o dia 28 de outubro, quinta-feira, o governo Bolsonaro cancelou a agenda e reclamou que os caminhoneiros tinham passado para a imprensa a informação de que estava confirmada a presença do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas.
Crispim disse que “é possível” que o governo Bolsonaro tenha usado esse motivo, que chamou de “fútil”, para não ter que se reunir com os caminhoneiros na mesma semana em que aumentou o preço do diesel em 9%.
“Já estava sendo programado esse aumento, então imagine fazer uma reunião com a categoria logo após ter reajustado quase 10% o preço do diesel?”, disse.
“Eu não sei qual é o motivo, realmente, ou o porquê dessa vaidade toda. A maior importância é resolver o problema para que não haja uma paralisação. Alguém vai cancelar uma reunião porque vai participar ‘a’ ou ‘b’?”. “É um motivo fútil para cancelar a reunião e deixou a categoria ainda mais indignada”, relatou.
“O principal assunto da reunião era tratar da criação de um Fundo de Estabilização, como já existe em vários países do mundo. Para criar esse Fundo, vai precisar taxar a exportação de petróleo bruto, mas o lobby dos importadores e a bolsa de valores não têm interesse. O Brasil hoje é um paraíso fiscal para as petrolíferas”, criticou.
Nereu Crispim apresentou um projeto de lei que trata da criação desse Fundo de Estabilização (PL 750/21).
A percepção de Crispim é de que Jair Bolsonaro, se quisesse, “já teria resolvido. A Petrobrás é uma empresa pública, administrada pelo Poder Executivo”.
“Está faltando vontade para resolver o problema da política de preços da Petrobrás, o que poderia ser feito por uma Medida Provisória. Tem uma pessoa que pode resolver isso tudo: o presidente Bolsonaro”, cobrou.
“Acho que está na hora de ele mesmo marcar uma reunião com os caminhoneiros, eu não preciso nem participar. Ele que chame as principais lideranças, como o Chorão, o Litti, o Plínio, o pessoal dos Estados, do Porto de Santos, para sentar e saber da necessidade de criar esse fundo de estabilização”.
“Está faltando vontade para resolver o problema da política de preços da Petrobrás, o que poderia ser feito por uma Medida Provisória. Tem uma pessoa que pode resolver isso tudo: o presidente Bolsonaro”
“As principais pautas hoje são o piso mínimo do frete, que foi totalmente descaracterizado por conta dos aumentos do diesel, e a política de preços da Petrobrás, que tem que ser revista tirando esse PPI [Preço de Paridade de Importação]”, completou Nereu Crispim.
PREÇO DE PARIDADE DE IMPORTAÇÃO
O deputado, que tem se reunido com especialistas, trabalhadores da Petrobrás e entidades, afirmou que o maior motivo para que os preços dos combustíveis estejam subindo cada vez mais é a política de preços praticada pelo governo Bolsonaro, conhecida como PPI.
“O Brasil tem petróleo e tem refinarias, mas faz o que? Entrega as refinarias, que estão ociosas, a preço de banana, exporta o petróleo bruto, através daquelas ‘cessões onerosas’, cobrando um preço muito baixo e quase nada de imposto, e importa de volta em dólar. É isso o que acontece”
Através dela, o preço dos combustíveis produzidos no Brasil são equiparados aos que são importados, ou seja, a PPI faz com que os brasileiros paguem em dólar pela gasolina e pelo diesel produzidos dentro do país.
“O item principal [que tem causado o aumento dos preços] é a política de preços baseada no preço de importação e na variação do preço do barril de petróleo e do dólar. Não tem outra maneira de resolver que não seja dessa forma”, informou.
Nereu Crispim explicou como funciona a PPI:
“O Brasil tem petróleo e tem refinarias, mas faz o que? Entrega as refinarias, que estão ociosas, a preço de banana, exporta o petróleo bruto, através daquelas ‘cessões onerosas’, cobrando um preço muito baixo e quase nada de imposto, e importa de volta em dólar. É isso o que acontece”, explicou.
“Eles importam 20% e os outros 80%, que são produzidos aqui dentro, se transformam como se tivessem sido importados”, continuou.
“Na realidade, nós somos autossuficientes em petróleo, poderíamos estar com nossas refinarias trabalhando, gerando emprego e renda para as nossas pessoas, e fazendo com que as petrolíferas internacionais tenham interesse em refinar aqui dentro, somente através de um imposto de exportação para o petróleo bruto. Hoje, elas levam embora e não pagam nada”, denunciou Crispim.
PEDRO BIANCO