
Risco de uma détente entre as duas maiores potências nucleares abala Washington: “Trump traidor”. Os mais possessos sugeriram até mesmo uma intervenção militar constitucional
A possibilidade, por mínima que seja, de uma retomada de détente entre as duas maiores potências nucleares, causou um turbilhão em Washington, com Trump sendo chamado de “traidor” para baixo e de preferir Putin “aos nossos serviços de espionagem” e até comparação da cúpula com um “novo Pearl Harbour”.
Os mais possessos sugeriam candidamente, quem sabe, uma intervenção militar constitucional. Diante do que, Trump, deu o dito por não dito, e explicou que concorda com a acusação da CIA de que foi a Rússia que impediu Hillary de vencer a eleição, embora, é claro, não creia em nada disso. E nem pode: ou acabam enfiando o Russiagate goela abaixo dele e coroando Hillary. Como disse Putin, ao presenteá-lo com a bola da Copa, “agora a bola está na sua quadra”.
Com US$ 700 bilhões de orçamento para guerras, intervenções e sabotagens, mais US$ 75 bilhões para a CIA & NSA, o agora chamado “Estado Profundo”, que o presidente Eisenhower certa vez já chamou de “complexo industrial-militar”, quer que o mundo se exploda, desde que o dinheiro continue a jorrar para as encomendas de armas e bombas nucleares, para as 800 bases e para a chantagem sobre o resto da humanidade, enquanto a paz reina sobre Wall Street.
REALITY SHOW
Com sua “arte de negociar” desenvolvida no dia a dia dos cassinos e reality shows, Trump às vezes consegue a façanha de desagradar a todos, mas para se desdizer, nem precisa de cavalo de pau, basta, como no caso do encontro com Theresa May, culpar as “fake news”.
Por sua vez, neocons e a ala ‘esquerda’ do partido único no poder nos EUA – na genial descrição do escritor Gore Vidal – estão próximos a um ataque apoplético, por causa dos mísseis hipersônicos que já protegem a Rússia e do desmascaramento da histeria russófoba com a Copa do Mundo de 2018. Assim, fica difícil demonizar Putin, a Rússia e seu povo.
Por outro lado, a guerra comercial de Trump está uma bagunça, e ninguém sabe no que vai dar. No atual momento, subiu a aposta para sobretaxa de 10% sobre mais US$ 200 bilhões de importações da China e ameaçou a Europa com tarifas sobre os carros importados. Na cúpula da Otan, anunciou que a tabela da ocupação irá subir para 4% do PIB. Fenomenal também nos direitos humanos: contra o aleitamento materno, contra os imigrantes, pró-muro. Sempre que pode, provoca o Irã e bajula Israel.
Se tanta encenação, de parte a parte, vai pesar nas eleições de novembro, é o que fica para ver. Enquanto isso, Trump acaba de remendar, em entrevista à CBS News, que “concorda com as avaliações da inteligência dos EUA de que a Rússia teria se metido nas eleições de 2016”. “Sim, eu já disse isso antes, Jeff [Glor]. Eu já disse isso inúmeras vezes antes e eu diria que é verdade, sim”. “Só posso dizer que tenho confiança em nossas agências de inteligência”.
Trump, porém, não entubou as acusações de “fraqueza” diante de Putin. “Eu discordo totalmente. Eu acho que foi uma forte conferência de imprensa. As pessoas disseram que ‘você deveria ter ido até ele, você deveria ter começado a gritar na cara dele’. Estamos vivendo no mundo real, ok?”.
Ele esclareceu que em seu encontro privado com Putin os dois discutiram a proliferação nuclear, Síria, proteção a Israel. Trump reiterou ter um acordo com Kim Jong Un. “Não há pressa. Não há mísseis disparados. Nós temos nossos reféns de volta. Não há testes, então percorremos um longo caminho em um curto período de tempo”.
Pelo Twitter, Trump deu sua avaliação de Helsinque. “Tantas pessoas nos escalões superiores da inteligência adoraram o meu desempenho na conferência. Putin e eu discutimos muitos assuntos importantes. Nós nos demos bem, o que realmente incomodou muitos inimigos que queriam ver uma luta de boxe. Grandes resultados virão!”
ANTONIO PIMENTA
Trump é criticado por ter se encontrado com Putin. Se Trump tivesse se negado a se encontrar com Putin, com certeza teria sido criticado. Vá entender. Ninguém criticou Putin pelo encontro com Trump.
Trump é acusado também de ser machista. Um machista que tem como porta voz uma mulher e ter uma mulher como embaixadora na ONU.