“O urgente e indispensável programa de transferência de renda não pode ser feito sem perspectiva de permanência, nem prejudicando milhões de cidadãos que esperaram por décadas o reconhecimento de seu direito na Justiça”, afirma a OAB em manifesto assinado por mais de 30 entidades e centrais sindicais
O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) divulgou na quinta-feira (23) um novo manifesto, assinado juntamente mais de 30 entidades e pelas centrais sindicais, no qual se manifestam “veementemente contrárias” à Proposta de Emenda Constitucional dos Precatórios (PEC 23/2021), de iniciativa do governo Bolsonaro. Para a entidade, a PEC dos Precatórios “vilipendia” direitos e garantias e causará “grave impacto” econômico.
Diz a nota que a “proposta, em apreciação pelo Senado Federal, a pretexto de abrir espaço fiscal para a ampliação do programa de assistência “Auxílio Brasil” para 2022, vilipendia diversas garantias e direitos fundamentais dos credores ao estabelecer novo calote – já declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal”.
Para o Conselho da OAB, o texto da PEC contém “mais de 30 (trinta) inconstitucionalidades apontadas na apresentação inicial da matéria”, o texto final, aprovado pela Câmara dos Deputados no dia 9 de novembro, “estabelece ainda mais inconstitucionalidades”, aponta a OAB.
“O atual regime de precatórios teve seus alicerces firmados em recentes mudanças constitucionais, a partir do julgamento das ADI’s 4.357 e 4.425 pelo Supremo Tribunal Federal, que considerou que a moratória para quitação de precatórios viola princípios constitucionais, como o do Estado Democrático de Direito, o princípio da Separação de Poderes, o da isonomia, o direito à tutela jurisdicional efetiva e razoável duração do processo, bem como o direito adquirido e à coisa julgada, o direito de propriedade, o princípio da segurança jurídica e da moralidade administrativa”, diz o texto.
Para OAB, “a mais recente e perversa versão da PEC DO CALOTE, aprovada pela Câmara dos Deputados, foi muito mais longe que as anteriores (EC 30/2000 e EC 62/2009), ao estabelecer novas “regras” para o cumprimento das decisões judiciais, atingindo milhões de credores, pessoas físicas, entre eles idosos, portadores de deficiência e doenças graves, além de pessoas jurídicas que garantem milhões de empregos, renda e arrecadação”.
“Estima-se que, ao final dos 10 anos da moratória proposta, teremos um passivo de R$ 1 trilhão acumulado”, denuncia o manifesto. “Se aprovada, a PEC 23/2021 acarretará, a um só tempo, grave impacto na economia brasileira, afastamento de investidores, aumento exponencial da dívida pública, instalação da insegurança jurídica, redução do potencial de crescimento econômico e da capacidade de geração de empregos no país”.
O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) concluiu o manifesto declarando que “o urgente e indispensável programa de transferência de renda não pode ser feito sem perspectiva de permanência, nem prejudicando milhões de cidadãos que esperaram por décadas o reconhecimento de seu direito na Justiça”.
“Apelamos aos senadores que avaliem de forma responsável a Proposta, e evitem o prejuízo a milhões de brasileiros e a grande insegurança jurídica de consequências danosas para nossa já fragilizada economia”, alertou a OAB.