O presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), deputado Carlão Pignatari (PSDB-SP), confirmou na noite desta segunda-feira, 27, a instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar denúncias envolvendo a operadora de saúde Prevent Senior.
“Acabo de receber o pedido para criar a CPI que vai apurar as denúncias envolvendo a operadora de saúde Prevent Senior e determinei a sua publicação no Diário Oficial já nesta terça-feira. O requerimento vai tramitar na Alesp com a urgência que tema exige”, disse o parlamentar em postagem nas redes sociais. “As informações da CPI da Covid, no Senado, são gravíssimas, e a Alesp vai se empenhar para confirmar a verdade e apurar com rigor, já que é aqui em São Paulo que está o maior nº de vítimas da pandemia, que receberam o tratamento da Prevent Senior colocado em xeque”, acrescentou.
A CPI da Prevent Senior conta com apoio de deputados de diferentes partidos, inclusive do PSDB e o PT. O autor da proposta, o deputado Paulo Fiorilo (PT) reuniu 40 assinaturas de parlamentar favoráveis a criação da CPI, 8 a mais do que o mínimo exigido pelo regulamento da casa. Na bancada do PSDB, base de apoio do governador João Doria, quatro dos nove integrantes declararam apoio à instalação da comissão.
Na justificativa registrada no pedido, o deputado do PT afirma que a Prevent Senior tem atendimento no Estado e na cidade de São Paulo e alegou que a empresa teria submetido pacientes a tratamentos experimentais contra covid-19 sem o consentimento deles e sem autorização dos órgãos competentes. “Além disso, existem fortes indícios que a empresa teria fraudado os resultados de um estudo sobre uso da hidroxicloroquina no tratamento da doença, além de omitir mortes de pacientes ao longo desse experimento”, diz Fiorilo
A bancada do PSDB na Alesp foi orientada pela liderança do governo a assinar o pedido. “A bancada do PSDB está extremamente sensibilizada com as revelações da CPI do Senado em relação à Prevent Senior. E os parlamentares têm o dever de buscar a verdade sobre as condutas da empresa em São Paulo, onde está o maior número de vítimas da pandemia. Por isso, o apoio à instalação da Comissão”, afirmou a deputada Carla Morando (PSDB).
A deputada estadual Leci Brandão (PCdoB) foi uma das parlamentares que assinou o requerimento para a abertura da CPI na Alesp. Ela ressalta que o “objetivo é investigar denúncias contra a empresa Prevent Sênior, operadora de assistência médica com sede na capital paulista”. “Há indícios de que a empresa teria fraudado os resultados de um estudo sobre uso da hidroxicloroquina no tratamento da doença, além de omitir mortes de pacientes”, relembrou a parlamentar em seu Twitter.
“É de extrema importância que essas denúncias sejam investigadas e, caso sejam comprovadas, é necessário agir com todo rigor para punir os responsáveis por estes crimes que são uma verdadeira barbárie”, afirmou a deputada Leci Brandão.
A deputada Janaína Paschoal (PSL), fez um gesto ao seu eleitorado bolsonarista e se disse contra a CPI. “Não vejo motivo para CPI sobre esse tema, na Alesp. Já há uma CPI, acompanhada por todos, abordando a questão e o MP já disse que vai apurar. Nem as CPIs já aprovadas foram instaladas, como as da Dersa e a da isenção fiscal”, disse a parlamentar.
Porém, os dez parlamentares bolsonaristas na Alesp estão isolados e não ter força para barrar a instauração da CPI.
Na Alesp, os criadores da CPI negam que o objetivo da comissão seja fazer oposição direta a Bolsonaro. “Não foi o Bolsonaro que uniu os dois lados para essa comissão, mas o crime grave que pode ter sido cometido”, afirmou Fiorilo. Eles acreditam que o presidente pode ser desgastado, mas foco é apurar os crimes.
PREVENT SÊNIOR
A Prevent Sênior já é investigada pela CPI da Covid, no Senado. A operadora é acusada de submeter pacientes a testes do “kit covid” – composto por medicamentos comprovadamente ineficazes contra a doença provocada pelo novo coronavírus –, sem conhecimento e autorização de seus familiares.
Um dossiê elaborado por ex-funcionários da Prevent Senior foi entregue à CPI no Senado e mostrou também que atestados de óbitos foram fraudados para omitir mortes pela doença.
A Prevent orientava os médicos para a necessidade de “padronizar” o CID. “Após 14 dias do início dos sintomas (pacientes de enfermaria/apto) ou 21 dias (pacientes com passagem em UTI/Leito híbrido), o CID deve ser modificado para qualquer outro exceto o B34.2 (código da Covid-19) para que possamos identificar os pacientes que já não têm mais necessidade de isolamento. Início imediato”, informava mensagem encaminhada por um diretor, obtida pela CPI.
Pedro Benedito Batista Junior, diretor-executivo da Prevent Senior admitiu a prática, em depoimento na CPI da Covid no Senado. “Todos os pacientes com suspeita ou confirmados com Covid, na necessidade de isolamento, quando entravam no hospital, precisavam receber o B34.2, que é o CID de Covid”.
“E, após 14 dias — ou 21 dias para quem estava em UTI —, se esses pacientes já tinham passado dessa data, o CID já poderia ser modificado porque eles não representavam mais risco à população do hospital”, acrescentou o diretor da Prevent.
Ainda segundo a apuração da CPI no Senado, o estudo sobre o ‘kit covid’ teria sido fraudado, para induzir à ideia de que o tratamento, defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, funciona. A empresa também nega essa acusação e diz que está sendo alvo de difamação.
A denúncia levada pelos médicos à CPI do Senado afirma que, no ano passado, a diretoria da operadora “fez um pacto com o gabinete paralelo para livrar a empresa das críticas”. Ano passado, Bolsonaro chegou a fazer postagens citando o suposto estudo da Prevent como comprovação de que o chamado “tratamento precoce” era eficaz.