“Eu não apoio o uso da Lei da Insurreição”, afirmou o secretário de Defesa, Mark Esper, ao rejeitar a ameaça de Trump de invocar uma lei de 1807 para usar o exército norte-americano para reprimir as manifestações que tomam conta dos Estados Unidos há 10 dias. Protestos que se estendem por centenas de cidades norte-americanas desde o assassinato por asfixia de George Floyd por policiais de Minneapolis.
“A opção de usar forças ativas em uma função de aplicação da lei somente deveria ser levada em conta como último recurso e apenas nas situações mais urgentes e terríveis”, declarou o chefe do Pentágono distanciando-se da ameaça e do slogan que Trump usou para se promover em meio à comoção que atravessa o país: “Lei e Ordem”.
A rejeição se estendeu por diversos comandantes militares. O antecessor de Esper no Pentágono, James Mattis, acusou Trump de “não tentar unir o povo americano. Ele nem sequer finge tentar. Em vez disso, tenta nos dividir. Estamos testemunhando as consequências de três anos desse esforço deliberado, (…) de três anos sem uma liderança madura”, declarou o ex-secretário de Defesa, que se demitiu em 2019.
Mattis foi incisivo na condenação aos gestos de Trump, depois de chamar de “saudável e unificadora” a exigência dos protestos de “Justiça Igual sob a Lei”.
“Não devemos nos distrair com um pequeno número de infratores. Os protestos são definidos por dezenas de milhares de pessoas de consciência que insistem que vivemos de acordo com nossos valores, nossos valores como pessoas e nossos valores como nação”, assinalou.
Após relembrar seu juramento há 50 anos de apoiar e defender a Constituição, que fizera ao entrar para o exército, o general Mattis disse jamais ter imaginado que “tropas que fizeram esse mesmo juramento seriam ordenadas sob qualquer circunstância a violar os direitos constitucionais de seus concidadãos — muito menos para fornecer uma foto bizarra para o comandante-em-chefe eleito, com a liderança militar ao lado”.
O ex-secretário de Defesa chamou a rejeitar “qualquer pensamento de nossas cidades como um ‘espaço de batalha’ que nossos militares uniformizados são chamados a ‘dominar’. Em casa, devemos usar nossos militares apenas quando solicitados, em raras ocasiões, pelos governadores estaduais”.
Ele condenou a repressão a uma manifestação pacífica ao lado da Casa Branca para abrir caminho a uma ida de Trump à igreja St. John, que fica ao lado da sede do governo em Washington: “Militarizar nossa resposta como testemunhamos em Washington, D.C., cria um conflito — um falso conflito — entre a sociedade militar e civil” e corrói “o terreno moral que garante um vínculo confiável entre homens e mulheres de uniforme e a sociedade que eles juraram proteger, e do qual eles próprios fazem parte”.
O caminho, reitera Mattis, é “convocar essa unidade para superar essa crise”, acrescentando que Trump “é o primeiro presidente da minha vida que não tenta unir o povo americano — nem sequer finge tentar. Em vez disso, ele tenta nos dividir”, enfatizou.
O ex-secretário de Defesa do próprio Trump concluiu dizendo que o que se está testemunhando nos EUA agora são “as consequências de três anos sem liderança madura”. Para Mattis, “podemos nos unir sem ele, baseando-nos nas forças inerentes à nossa sociedade civil”. O que, apontou, “não será fácil, como os últimos dias mostraram, mas devemos isso aos nossos concidadãos; às gerações passadas que sangraram para defender nossa promessa; e aos nossos filhos”.
Em outra manifestação clara contra a desastrada postura de Trump, o general da reserva Michael Mullen, que chefiou o Estado Maior das Forças Armadas norte-americanas, denunciou a caminhada até a igreja, depois de forçar a passagem com bombas de gás e cavalaria, sobre manifestantes pacíficos em uma praça pública, declarou:
“Fiquei doente de ver pessoal de segurança – incluindo membros da Guarda Nacional – forçando e violentando para abrir passagem através da Lafayette Square para acomodar a visita do presidente à entrada igreja St. John. Este e outros eventos desta última semana tornam impossível para mim ficar em silêncio.
“Até agora fiquei reticente em falar sobre assuntos que envolvem a liderança do presidente Trump, mas chegamos a um ponto de inflexão. Seja qual tenha sido o seu objetivo em fazer a visita, ele deixou claro seu desdém pelo direito ao protesto pacífico e coloca em risco de uma politização de homens e mulheres de nossas Forças Armadas.
Sobre a manifestação do Chefe do Estado Maior da Força Aérea veja na matéria: