A deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB) falou sobre a gravidade do cenário enfrentado pela população do Acre devido à pandemia de Covid-19, aos casos de dengue hemorrágica, aos problemas humanitários relacionados à crise migratória na fronteira com o Peru e às inundações e desalojamentos resultantes das chuvas na região.
A parlamentar anunciou que apresentará um projeto de lei que destina um auxílio emergencial extraordinário aos afetados pelas enchentes no Acre. De acordo com a Defesa Civil, as chuvas já atingiram mais de 120 mil pessoas no estado. Milhares de pessoas estão desabrigadas.
Perpétua relatou que várias regiões estão ilhadas e só podem ser acessadas por avião, que muitas vezes não conseguem circular pelo mau tempo.
De acordo com a parlamentar, dos cerca de 800 mil habitantes do estado, em torno de 120 mil foram afetados pelas chuvas, muitos deles perderam tudo. “Em Tarauacá, uma das cidades que mais chove no Brasil, cerca de 80% da cidade está alagada”, conta.
As chuvas e inundação dos rios deixaram a situação crítica em algumas cidades do estado. Na atualização desta segunda-feira (22), o Rio Acre está em 15,31 metros, ainda 1,31 metro acima da cota de transbordo, que é de 14 metros.
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) manteve o alerta laranja para perigo com relação ao acumulado de chuva. As regiões afetadas com as fortes chuvas, segundo o Inmet, devem ser a do Vale Do Acre, que engloba Sena Madureira, Rio Branco e Brasileia e Vale do Juruá, com Tarauacá e Cruzeiro do Sul.
EMERGÊNCIA
Ela enfatiza que o cenário atual “exige a união de toda a bancada de parlamentares do Acre na busca de soluções com o governo federal e exige pulso firme do governador e dos prefeitos. É preciso olhar para a nossa população. O que tenho visto, na maioria dos pontos onde as famílias estão alagadas, é uma situação de desamparo e abandono”.
“A situação no Acre é de completa emergência! Vivemos um aumento assustador de casos e mortes pela pandemia, temos poucas vacinas e ainda somos o segundo estado que menos imuniza no País”.
Perpétua acrescentou ainda que o estado vive “o avanço da dengue hemorrágica, uma crise humanitária na fronteira, inundações de rios e igarapés, que já desalojaram milhares de famílias em todo o estado, além da interdição de vários trechos de estradas isolando municípios… Agora, temos o risco de fechamento da BR 364, que pode resultar no isolamento do Acre com Rondônia e o resto do país”.
A deputada afirmou que fretou um avião bimotor para ir a quatro municípios. “Nosso mandato entregará 440 cestas básicas (a 100,00 cada uma) e mais 1.400 galões de água. As equipes trabalham a todo vapor esses dias para ajudar o povo”, disse.
10 MIL SEM ENERGIA
Com a enchente dos rios no Acre, a distribuição de energia no estado foi afetada diretamente. A Energisa, distribuidora de energia elétrica no estado, informou que suspendeu a energia elétrica em 10.489 clientes de quatro cidades: Cruzeiro do Sul, Tarauacá, Sena Madureira e Rio Branco.
A medida, segundo a Energisa, foi tomada para evitar acidentes com a rede elétrica nos bairros atingidos pela cheia dos rios.
“A Energisa Acre reforça sobre os cuidados que a população deve ter para evitar acidentes com a energia elétrica durante esse período, como, por exemplo, ficar distante dos cabos e fios elétricos. A combinação água e eletricidade é a responsável por acidentes graves e, em boa parte das vezes, fatais.”
A cidade onde mais consumidores tiveram a energia elétrica cortada foi em Tarauacá, com 5.888 desligamentos
Pandemia gerou situação de caos, diz governador
O governador do Acre, Gladson Cameli (PP), afirmou que o Estado só tem dinheiro para manter o sistema de saúde funcionando para tratar pacientes da Covid-19 por no máximo mais três meses e pede ajuda ao governo federal.
“Só tenho recursos para, no máximo, três meses para manter a estrutura, e olhe lá. Eu tenho um saldo na conta hoje de R$ 42.597.948,63 no caixa do Covid-19. Por mês, são de R$ 12 a 15 milhões com os gastos.” disse o governador.
“O Estado é pequeno, pobre e precisa-se do apoio das pessoas, principalmente do governo federal e unificar as instituições para que a gente chegue com atendimento imediato à população. Nós fizemos toda uma estrutura de abrigos para os atingidos cumprindo as regras da Covid-19, que tem que ter distanciamento, para que a gente possa dar uma tranquilidade e segurança às pessoas que estão sem sua moradia e ao mesmo tempo alimentação, remédios e também kit de limpeza. Estamos vivenciando uma situação como se fosse uma guerra”, desabafou.
Em relação aos recursos, o governador explica que o valor se refere ainda a um resto dos recursos enviados pelo governo federal no ano passado, mas que não previam uma segunda onda nessa magnitude.
“Em 2020, recebemos R$ 173 milhões. Hoje, dia 21 de fevereiro, temos esse valor que citei, e estamos aguardando mais sinalizações do governo federal para que eu possa melhorar o gasto, mas precisamos para manter a máquina funcionando”, afirmou.
Outro ponto importante citado por ele é a queda no financiamento federal de leitos de terapia intensiva. “Estamos pedindo o apoio do governo federal para ajudar a questão das unidades de terapia intensiva (UTIs), como estava prevista. Já tivemos várias reuniões com o ministro e tem uma sinalização”, considerou.
FALTA DE VACINAS
Para complicar a situação, diz Cameli, o Estado sofre com a escassez de vacinas para a população. Ele pede, assim como houve com o Amazonas, prioridade na remessa de vacinas.
“Se você contar, são 400 mil munícipes [do Amazonas] que dependem da nossa saúde pública, e não vamos negar atendimento. O que é pouco para outras regiões, para cá é muito: temos uma população de 900 mil habitantes. E, se você olhar, temos aqui a fronteira com Amazonas, com Rondônia, com Peru e com Bolívia, além da situação dos haitianos. Tudo isso nos traz ainda mais preocupação pela Covid-19″, disse Cameli.
O governador diz ainda que, entre os últimos dias até a próxima semana, o Estado vai totalizar mais 60 leitos para atender a população, mas que não é garantia de que dará conta da demanda.
“Estamos ampliando aquilo que é possível, mas vai chegar em um momento em que não tem como ampliar”, afirma.
Cameli ainda afirma que esperava uma maior participação dos serviços particulares, o que não ocorreu. “O serviço privado não está fazendo os investimentos de ampliação. Tomamos todas as providências, nos precavemos para o pior adquirindo usinas de oxigênio, e soube que a rede privada está pedindo para gente porque não tomaram a iniciativa”, disse.