Em ofício enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal afirma que vê “fortes indícios” da participação do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em contrabando de madeira.
O ofício enviado ao STF desencadeou a Operação Akuanduba, iniciada no dia 9 de maio, que tem como alvos Ricardo Salles e Eduardo Bim, presidente afastado do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Segundo a PF, as provas reunidas já são suficientes para concluir que Salles e Eduardo Bim estejam envolvidos em “grave esquema de facilitação ao contrabando de produtos florestais”, e investigam se o Ministério do Meio Ambiente cometeu os crimes de corrupção, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
A operação foi autorizada por Alexandre de Moraes, a pedido da PF, que iniciou as investigações em janeiro.
Entre as provas levantadas pela PF, reunidas em documento de 92 páginas enviadas ao STF, estão: movimentações financeiras atípicas no escritório de advocacia de Ricardo Salles em São Paulo, desde 2019; alterações nas regras de fiscalização, relatos de reuniões com madeireiros, trocas de mensagens e testemunhos.
A medida do Ministério do Meio Ambiente, com edição de um despacho em 25 de fevereiro de 2020, assinado pelo presidente do IBAMA, Eduardo Bim, que retirou a obrigatoriedade de concessão de uma autorização específica para a exportação de madeira, que permitiu, de forma retroativa, a regularização de cerca de oito mil cargas de produtos florestais transportados entre 2019 e 2020 sem licença ambiental, foi um dos principais pontos suspeitos apontados no relatório da PF.
A investigação aponta ainda o “sucateamento” dos órgãos ambientais, a prática de “interpretações contrariando pareceres técnicos”, e “afastamento de fiscais de carreira com anos de experiência”.
Afirmando que “2019 e 2020 foram os dois piores anos para as áreas protegidas na Amazônia, desde 2008″, o documento salienta que Salles beneficiou, na estrutura do Ministério, servidores que atuaram para facilitar as exportações de madeira ilegal, nomeando-os “para cargos mais altos”, e exonerando servidores que “mantiveram firmes suas posições técnicas”.
Cinicamente, o ministro que foi flagrado na famosa reunião do presidente Bolsonaro com sua tropa do palácio, em abril de 2020, afirmando que era preciso “aproveitar a pandemia para ir passando a boiada” nas questões ambientais, disse, ao saber do início da operação da PF, que a ação era “exagerada”.
“Vou fazer aqui uma manifestação de surpresa com essa operação, que eu entendo exagerada, desnecessária. Até porque todos, não só o ministro, como todos os demais que foram citados e foram incluídos nessa investigação estiveram sempre à disposição para esclarecer quaisquer questões. O Ministério do Meio Ambiente, desde o início da gestão, atua sempre com bom senso, respeito às leis, respeito ao devido processo legal”, declarou.