Financiadores dos atos golpistas de 8 de janeiro são Goiás, Amapá, Minas Gerais e DF. Eles forneceram toda infraestrutura do esquema que culminou com as invasões, vandalismo e roubo na sede dos Poderes
Investigação da Polícia Federal (PF) detectou a participação de empresários como financiadores da estrutura do acampamento golpista montado na frente do quartel-general do Exército, em Brasília, que serviu como base para os atos golpistas, seguidos por depredação e roubo, dia 8 de janeiro.
Nos últimos meses, a PF levantou informações sobre os gastos do acampamento e obteve cópias de contratos para descobrir os responsáveis pelo pagamento de toda a estrutura oferecida para acoitar os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A preparação da tentativa de golpe de Estado, pelos bolsonaristas, começou com a montagem do acampamento no QG do Exército logo após o segundo turno da eleição presidencial, em 30 de outubro.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) aponta que os terroristas formaram “associação criminosa que insuflava as Forças Armadas à tomada do poder”, o que é inconstitucional, portanto, ilegal.
CINCO EMPRESAS
São cinco empresários que pagaram estruturas de alimentação, banheiros químicos e atendimento médico. Eles são de Goiás, Amapá, Minas Gerais e Distrito Federal.
Empresária de Goiânia, que pagava R$ 6.600 por semana por banheiros químicos, interrompeu contatos com o grupo após as primeiras prisões. A PF está em processo de quebra dos sigilos bancários de dezenas de pessoas que apareceram como contratantes de ônibus. O objetivo é saber se há financiadores ocultos.
CONTEXTUALIZAÇÃO
De acordo com balanço mais recente realizado pela PGR, na última quarta-feira (1º de março), 689 participantes do acampamento foram denunciados pelo delito de incitação ao crime, com pena prevista de detenção de 3 a 6 meses.
Outras 222 pessoas estão sendo processadas por atos de destruição durante a invasão da Praça dos Três Poderes, em 8 de janeiro.
O ministro Alexandre de Moraes, relator da investigação no Supremo Tribunal Federal, determinou que a PF apurasse os financiadores da estrutura do acampamento, composta por tendas, banheiros químicos, barracas de alimentação gratuita e pontos de carregamento de celular, dentre outros itens.
Por esta razão, a PF passou a rastrear os fornecedores dos serviços.
EMPRESÁRIA DE GOIÂNIA
Após obter a documentação sobre os contratantes de banheiros químicos, a investigação detectou que a empresária de Goiânia foi responsável pelo pagamento de parte da estrutura. Ela é mais que apoiadora. É militante orgânica, financiadora.
Kátia Aquino é dona de empresa de venda de produtos automotivos. Nas redes sociais dela, exibe fotos no acampamento do QG, publicações em favor de Bolsonaro e até mesmo petição pelo impeachment de Moraes.
Aquino assinou contrato com empresa de Brasília para o fornecimento semanal de 50 banheiros químicos e tenda, cujo valor era de R$ 6.600. O documento tem a data do dia 4 de novembro e previa a renovação contratual automática a cada semana, mas não estipulava prazo final para o fornecimento.
CONFISSÃO DE CULPA
Procurada por meio de contato telefônico, a imprensa foi informada que Aquino havia se desfeito do aparelho celular. Participantes do QG do Exército dizem que ela trocou de contato e se afastou dos manifestantes bolsonaristas após a prisão dos acampados.
Também foi enviada mensagens por e-mail e redes sociais, segundo reportagem do portal UOL, mas ainda não houve resposta. A PF também apura se a outra empresa fornecedora dos banheiros químicos, a PipiEasy, foi financiadora do acampamento.
Segundo os investigadores da PF, a empresa cedeu banheiros químicos sem previsão de pagamento pelo serviço. O negócio foi formalizado por meio de contrato de mútuo (modalidade comum de empréstimo de dinheiro entre particulares).
Esse contrato foi firmado com o microempreendedor individual do Distrito Federal, Leandro Soares. Procurado, Soares disse que administrou a cessão desses banheiros para o QG, mas afirma que os manifestantes arrecadavam recursos e pagavam pelo serviço. Ele não soube citar nomes dos pagadores. “Eles sempre pagavam em dinheiro”, afirmou.
Pelas redes sociais, a empresa fez publicação em que anunciou ter trabalhado na posse do então presidente Jair Bolsonaro em janeiro de 2018. Questionada, a empresa disse que não iria se manifestar porque já havia fornecido as informações à PF. Quem deve teme.
ALIMENTAÇÃO “GRATUITA”
As investigações também chegaram ao nome de um dos responsáveis pelo fornecimento de alimentação gratuita ao acampamento. Rubem Abdalla Barroso Júnior é sócio de empresa de representação comercial em Macapá (AP), participava de grupos bolsonaristas no WhatsApp e divulgava publicações contra Lula nas redes sociais dele.
Para aprofundar as investigações e descobrir se havia mais gente pagando pela comida que era fornecida gratuitamente no acampamento, a PF cumpriu busca e apreensão contra Abdalla no final de janeiro, com autorização do STF. As redes sociais dele foram bloqueadas.
Em resumo enviado ao STF sobre o alvo, a PF descreve desta forma a atuação de Abdalla: “Responsável por uma das tendas de alimentação coletiva instaladas na frente do QGEx e no SMU, ambos em Brasília. Indivíduo com inúmeros antecedentes e mandado de prisão em aberto por dirigir embriagado – Vara de Macapá/AP”.
A investigação da PF também cita empresário de Minas Gerais como responsável pelo fornecimento de atendimento médico gratuito no acampamento, Diego Albs Passos. Ele é diretor de associação privada, cujo objeto é “pesquisa e desenvolvimento experimental em ciências físicas e naturais” e também é sócio administrador de consultório odontológico.
Os investigadores verificaram na área do acampamento e encontraram cartaz que pedia doações para chave PIX pertencente a Albs. “No local foi montado, ao lado do ponto de recarga de celular, tenda com identificação de posto médico com atendimento voluntário, havendo um cartaz com pedido de doação”, está escrito no resumo da PF. Albs não quis comentar.
SURREALISMO
Suspeitos de financiarem o acampamento, os empresários responsáveis por enviar caminhões a Brasília prestaram depoimentos e negaram terem mandado recursos para bancar a estrutura do local. Eles atribuíram aos empregados a decisão de levar os caminhões ao ato “por livre e espontânea vontade”.
Em um dos depoimentos, Alexandro Lermen, sócio do grupo que leva o sobrenome dele, admitiu que 13 caminhões da empresa foram levados ao ato em Brasília, mas disse que não pagou as despesas dos funcionários. “Foram os próprios funcionários que se dispuseram a participar. Que de livre e espontânea vontade levaram os caminhões para Brasília”, afirmou à PF.
Mas não precisa dizer ou escrever que os caminhões não foram roubados pelos funcionários. Foram liberados pelo dono, pois do contrário, este teria denunciado à polícia roubo.
QUEBRAS DE SIGILO
A descoberta dos primeiros nomes de possíveis financiadores é o passo inicial da investigação para desvendar toda a estrutura financeira dos atos golpistas, não apenas do dia 8 de janeiro, mas também do dia 12 de dezembro, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi diplomado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Após encontrar essa primeira camada, a PF também pretende detectar se esses empresários receberam pagamentos de outros financiadores, que ainda permanecem ocultos nessa estrutura.
Essa estratégia está sendo adotada noutra frente de investigação, que busca descobrir quem bancou os ônibus para os terroristas se deslocarem à capital federal para o ato de 8 de janeiro.
Após a própria AGU (Advocacia-Geral da União) ter descoberto lista de 59 pessoas físicas e jurídicas que formalmente aparecem como contratantes desses veículos nos registros da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), a PF busca o caminho do dinheiro para saber se há mais financiadores no esquema golpista.
Para isso, a PF analisa relatórios de inteligência financeira do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e quebras de sigilo bancário dos contratantes dos ônibus, com o objetivo de destrinchar outras camadas do fluxo financeiro do esquema golpista, que culminou com os atos golpistas e as sequências de invasão, vandalismo e roubo nas sedes dos Três Poderes da República.
M. V.
Empresários golpistas? Voce nao tem vergonha de fazer papel de ridículos ou de adestrados? Diga-me onde na historia mundial houve golpe de estado com pessoas desarmadas, sem apoio militar ou grupos armados? O que houve foi apenas manifestação com pedido baseado na Constituição. Vocês criam narrativas para desmoralizar, deslegitimar, e criminalizar os outros. Assim criaram a narrativa de que o impeachment da Dilma foi golpe, mas foi tudo de acordo com a Constituição. Assumem postura de adultos e larguem agirem de forma infantil. Voce subestimam demais a inteligência dos outros impondo este tipo de lixo para a gente ler. Que tipo de carater voces tem?
Empresários golpistas são, obviamente, aqueles que financiam o golpe de Estado. Se os golpistas vão ter apoio armado, ou não, se vão conseguir dar o golpe, ou não, é outra questão. Mas que tentaram arrastar as Forças Armadas para um golpe, lá isso tentaram. Não é verdade que o oito de janeiro foi uma “manifestação com pedido baseado na Constituição”, até porque a Constituição não dava (e não dá) base a nenhum pedido para depor um presidente que acabara de ser eleito (e tomara posse uma semana antes) de acordo com a lei e a própria Constituição. Portanto, pare de espernear, que isso é muito feio – e não vai mudar em nada a realidade de que você e seus amigos foram derrotados. Por fim, nós jamais dissemos que o impeachment da Dilma foi golpe. Não nos confunda com outros por aí. Ah, sim, se você não gosta do que lê em nosso jornal, é fácil resolver o problema: pare de ler e se limite a ler os panfletos fascistas que são oferecidos na Internet.