A Polícia Federal está investigando se a cúpula do Ministério da Justiça tentou interferir no processo de extradição do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, um dos aliados mais próximos da família Bolsonaro que se refugiou nos EUA para escapar da Justiça brasileira.
Allan dos Santos é investigado no Supremo em dois inquéritos: o que apura a divulgação de fake news e ataques a integrantes da Corte e também o que identificou a atuação de uma milícia digital que trabalha contra a democracia e as instituições.
O pedido de extradição do blogueiro foi expedido no mês passado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O processo de extradição provocou a demissão da delegada Silvia Amélia da Fonseca, chefe do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional (DRCI), setor que cuida desse tipo de assunto dentro do Ministério da Justiça.
Silvia Amélia foi exonerada neste mês. A demissão da delegada foi vista na PF como uma represália por ela ter dado sequência ao processo de extradição de Allan dos Santos.
A investigação sobre a atuação da cúpula do Ministério da Justiça no processo tem origem em um pedido de esclarecimentos encaminhado à Polícia Federal por Alexandre de Moraes, com o intuito de saber se a decisão dele havia sido cumprida. A partir da cobrança do ministro, a PF pediu dados à pasta dentro do mesmo inquérito em que foi decretada a extradição do blogueiro.
De acordo com informações da coluna Painel, no jornal “Folha de S.Paulo”, a polícia quer saber se houve algum tipo de ato criminoso por parte da cúpula do Ministério no processo, para interferir ou atrasar o envio da documentação para os EUA.
O chefe direto de Silvia era o secretário Nacional de Justiça, Vicente Santini, homem de confiança da família Bolsonaro. Ele chegou a ocupar o cargo de secretário-adjunto da Casa Civil da Presidência da República, do qual foi exonerado em janeiro de 2020 por ter usado indevidamente um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) numa viagem à Índia.
A Polícia Federal vai apurar se a delegada foi exonerada do cargo por ter cumprido a determinação judicial de dar andamento ao pedido de extradição.
Integrantes da cúpula do Ministério da Justiça vazaram que a exoneração de Silvia Amélia da pasta foi “acelerada” porque ela teria quebrado a confiança e dado uma “facada nas costas” no ministro Anderson Torres no processo de extradição do blogueiro.
Torres ficou irritado por só ter tomado conhecimento do envio do pedido de extradição ao Itamaraty mais de 15 dias após o processo ter sido remetido ao Ministério das Relações Exteriores para que fosse encaminhado aos Estados Unidos.
Colegas da ex-chefe do DRCI, entretanto, defendem a conduta adotada pela delegada. Nos bastidores, apontam que o departamento é um órgão técnico, pelo qual passam dezenas de questões sensíveis, que não deve ficar suscetível a pressões políticas e, por isso, o caso todo tramitou como deveria, sem que houvesse qualquer aviso.
O pedido de extradição de Allan já está em posse das autoridades dos EUA.