Jair Bolsonaro (PL) e mais 11 pessoas são alvos de investigação por desvio de presentes de altíssimo valor doados pela Arábia Saudita ao Brasil
A patranha das joias doadas pelo regime saudita ao governo brasileiro, mas embolsada pelo ex-presidente, venceu mais um capítulo. A PF (Polícia Federal) afirma ter identificado novos elementos de prova que ratificam a participação de Fábio Wajngarten, advogado e ex-Secom (Secretário de Comunicação Social) na gestão de Bolsonaro (PL), nos fatos apurados na investigação que revelou desvio joias entregues por autoridades estrangeiras ao ex-presidente.
Segundo consta no relatório da PF, “Fabio Wajngarten, afirma mais de uma vez que teria apenas dado uma orientação advocatícia conforme trecho destacado: ‘Repito que apenas dei uma orientação jurídica para a devolução deles ao TCU, o que foi feito’”, consta no relatório da PF.
“Entretanto, as evidências coletadas até o momento evidenciam ações para ocultar a real localização dos bens do Kit Ouro Rosê que foram a leilão além de outros itens como o Kit Ouro Branco”, diz a PF no relatório.
O documento com essas informações foi enviado ao relator da ação no STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes.
OUTRAS EVIDÊNCIAS
Além disso, de acordo com a hipótese criminal, as evidências também apontam para participação de Wajngarten na reintrodução do “Kit Ouro Rosê” em território nacional, acrescenta a PF.
Conforme exposto no relatório final, os atos praticados por Fabio Wajngarten, apesar de habilitado como advogado perante a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), “não guardam qualquer relação com as prerrogativas da advocacia, essencial no exercício do direito de defesa de qualquer investigado”.
“Fabio Wajngarten aderiu ao esquema criminoso, praticando atos executórios, dentro da divisão de tarefas estabelecidas pelos investigados, para recuperar as joias do denominado “Kit Ouro Rosê”, com a finalidade de trazê-las para o Brasil, ocultando a localização e movimentação das joias, assim como, escamotear os proventos auferidos por Jair Bolsonaro com a negociação dos demais itens desviados do acervo público”, completa o relatório.
4 CONJUNTOS DE JOIAIS
A investigação da PF lista 4 conjuntos de ornamentos que foram recebidos como presentes ao País pela gestão Bolsonaro do governo da Arábia Saudita e foram amealhadas em proveito pessoal do ex-presidente:
• 1 kit de joias em “Rosê”, que incluía relógio Rolex;
• 1 kit de joias em “Ouro branco”, que também incluía relógio Rolex;
• 1 relógio, modelo Patek Philippe Geneve; e
• 2 esculturas, 1 coqueiro e 1 barco.
Os itens foram vendidos nos Estados Unidos por assessores do ex-presidente e o valor dos desvios, de acordo com a corporação, é estimado em R$ 6,8 milhões.
A PF indiciou, em julho do ano passado, o ex-presidente e mais 11 pessoas no inquérito das joias.
DEFESA FRACA
Pelas redes sociais, Wajngarten se manifestou e escreveu que tão logo tomou conhecimento do caso que envolvia as joias, atuou como gestor de crise de imprensa e como advogado.
“Em nenhuma hipótese há qualquer envolvimento de minha parte além do assessoramento técnico, que desde o primeiro momento foi de depositar tudo junto ao TCU cumprindo à determinação da época, bem como responder às questões de mídia e comunicação”, escreveu.
Ainda segundo o ex-secretário, “a espetacularização de atos formais e naturais nada mais é do que atestar a inocência de todos os envolvidos diante da tentativa vazia de buscar culpados onde sequer existam ilegalidades”.
DA REVELAÇÃO À INVESTIGAÇÃO
As suspeitas vieram à tona em março de 2021, a partir de reportagens do jornal O Estado de S. Paulo.
Entre outras informações, o jornal revelou que a Receita Federal reteve, em 2021, estojo feminino com joias Chopard que teria sido enviado pelo governo da Arábia Saudita à então primeira-dama Michelle Bolsonaro.
No mesmo mês, a PF abriu inquérito para apurar a movimentação das joias e o caso se desdobrou e consumiu o ex-presidente em trama que o expôs até o presente momento.
Pelas descobertas das investigações da PF, o desfecho deverá se dar com a acusação pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e a condenação dos participantes no esquema, como o ex-chefe do Executivo e demais envolvidos no esquema do furto das joias