O anúncio foi feito, nesta segunda-feira (8), no chamado “cercadinho” na saída da residência oficial da Presidência da República, o Palácio da Alvorada. Para tanto usou aquelas metáforas despropositais de relacionamento (breguíssimas, diga-se de passagem)
O presidente da República está à procura de partido político para disputar a reeleição em 2022.
Eleito pelo PSL (Partido Social Liberal), Bolsonaro rompeu com a sigla ainda no primeiro ano do mandato, em novembro de 2019. A ruptura se deu em razão de divergências com a cúpula da legenda. Ao desembarcar da sigla tentou fundar novo partido, o Aliança pelo Brasil, mas não teve êxito.
Na segunda-feira (8), em conversa com apoiadores no chamado “cercadinho” do Palácio da Alvorada, que é a residência oficial do presidente da República, ele disse que vai se filiar a partido ao qual pode ser “dono”.
Segundo informações, essa agremiação seria o PMB (Partido da Mulher Brasileira). Atualmente, sem nenhum representante no Congresso.
Para dar a notícia, Bolsonaro usou metáforas de relacionamento, que são, aqui entre nós, bem despropositais. O ex-presidente Lula também gostava de metáforas para dialogar com a imprensa e os eleitores. Geralmente, metáforas futebolísticas.
Ele disse aos apoiadores na saída do Alvorada que está “namorando um outro partido para ser dono” da legenda. “Estou namorando outro partido, tá? Onde (sic) eu seria dono dele (sic) como alternativa senão sair o Aliança”, disse Bolsonaro ao ser indagado sobre o Aliança pelo Brasil.
O presidente e seus aliados tentaram criar a legenda, mas não conseguiram reunir as 491 mil assinaturas necessárias para registro na Justiça Eleitoral.
“Não é isso de você tá namorando um caso e se der errado vou namorar aquele outro, não é isso não, mas, na política, tem que ficar ligado”, disse aos apoiadores.
A perspectiva de Bolsonaro é agregar em seu novo partido boa parte dos seus aliados, inclusive aqueles que continuam no PSL, e, claro, seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (RJ), que comprou mansão de R$ 6 milhões, o vereador pelo Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro, hoje, ambos no Republicanos, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ).
PMB
A legenda foi criada em 2015 e, no auge, chegou a reunir 20 deputados federais. Foi usada como trampolim para parlamentares burlarem a lei de fidelidade partidária, que impede a troca de sigla durante o mandato, e mudarem novamente para outras siglas. Hoje, o PMB não tem nenhum representante no Congresso.
Com raríssimas exceções, mais à direita que à esquerda, os partidos políticos no Brasil são arremedos ou ajuntamentos de pessoas apenas para disputar eleições, de dois em dois anos.
Não têm programas nem tampouco projetos e estão no contexto da crise política brasileira, que ora avança, ora recua. É o presidencialismo de coalizão, bem batido, que entra crise e sai crise e não muda; se mantém, para manter o poder das chamadas oligarquias políticas.
PIADA PRONTA
Bolsonaro no Partido da Mulher Brasileira, notícia fornecida nas entrelinhas, neste simbólico “8 de março”, Dia Internacional da Mulher, é no mínimo engraçado, mas também é muito conveniente ao, vamos chamar assim, antipresidente, que nunca foi um organizador de partido e já pertenceu a muitos.
É engraçado, porque Bolsonaro tem aversão, repulsa ou desprezo pelas mulheres e valores femininos. Se engajar num partido, cuja sigla está ligada à mulher é “piada pronta”.
E é conveniente, porque o PMB está solto. Não tem “dono”. Assim, se filiando à legenda poderá se apoderar literalmente da sigla, como queria fazer com o PSL, que é de “propriedade” do deputado Luciano Bivar (PE).
A sigla foi apenas “hospedeira” ao abrigar a candidatura de Bolsonaro. Não havia vínculos ou interesses mais duradouros, que pudessem garantir a permanência do presidente. Na primeira crise se “divorciaram” ou romperam o “namoro”.
Além do PDC (Partido Democrata Cristão), foi filiado a outros oito partidos ao longo de sua carreira política: PPR (1993-1995), PPB (1995-2003), PTB (2003-2005), PFL (2005), PP (2005-2016), PSC (2016-2017) e o PSL (2018-2019). Em 2017, declarou que já havia pensado em se filiar ao Prona, também chegando a conversar sobre sua filiação ao PEN, atual Patriota.
PRETENSÕES
A legenda tem atualmente três deputados estaduais — Diogo Senior, no Amapá; Neto Loureiro, em Roraima; e Maria Bethrose Fontenele Araújo, no Ceará.
Depois de assumir o controle da sigla, como presidente ou presidente de honra, Bolsonaro pretende mudar o nome do partido. Com isso, o presidente conseguirá evitar o desgaste que sofreu quando ingressou no PSL.
O futuro chefe do atual PMB já decidiu que, depois de repaginado, o partido lançará o maior número possível de candidatos no próximo ano.
Com a decisão de se filiar ao PMB, Bolsonaro encerra o projeto de criação (fracassada) do Aliança pelo Brasil — partido de extrema-direita que nasceria para abrigar dissidentes do PSL e de outras siglas.
M. V.