No pódio do Grande Prêmio da Estíria, na Áustria, na manhã de domingo, 12, Lewis Hamilton, seis vezes campeão da Fórmula 1, levantou o punho, inspirado no movimento dos norte-americanos medalhistas olímpicos Tommie Smith e John Carlos, que deixaram marcado o sinal dos “Panteras Negras”, movimento norte-americano surgido em defesa da comunidade negra, nos Jogos Olímpicos do México de 1968.
Vencedor dessa etapa, o inglês Lewis Hamilton agradeceu à equipe Mercedes pelo apoio nas redes sociais. O piloto disse que viu com bons olhos o gesto de mecânicos da RBR, que se ajoelharam no grid antes da largada, mas cobrou que a equipe da Ferrari, assim como a Fórmula 1, adotem um posicionamento contínuo contra o racismo, que deve ir muito além de manifestações pontuais nas corridas.
“Juntos, nós lutamos. A equipe hoje ficou de joelhos, o que foi incrível ao ver que juntos podemos aprender, ter a mente aberta e consciente sobre o está acontecendo no mundo. Hoje vencemos, mas ainda temos um longo caminho a percorrer. Muito obrigado a todos da minha equipe, aqui na pista e na fábrica. Espero que vocês tenham orgulho do que estamos defendendo e alcançando juntos. Um enorme agradecimento a todos vocês, agradeço todo o seu apoio e suas mensagens positivas, vocês me motivaram a continuar”, disse Hamilton.
Em 1968, ano que foi marcado por lutas sociais no mundo, aconteceu a cerimônia de premiação das Olimpíadas da Cidade do México. Em abril daquele ano, nos Estados Unidos, o líder negro Martin Luther King tinha sido assassinado, o que foi respondido por uma grande mobilização na luta pelos direitos dos negros. Em maio, na França houve grandes protestos estudantis e operários. E em vários lugares do mundo houve muitas manifestações. Foi nesse cenário que Tommie Smith e John Carlos ganharam respectivamente medalha de ouro e bronze na prova dos 200 metros rasos. Os dois subiram ao pódio erguendo o punho fechado com luvas pretas, saudação utilizada pelo movimento Black Power e pelos Panteras Negras.
O gesto teve grande repercussão. Os dois acabaram expulsos dos Jogos, sob alegação de terem usado a plataforma olímpica para um protesto político norte-americano. Ainda assim, a imagem da dupla com os punhos erguidos ficou para sempre registrada na história das Olimpíadas.
No domingo, em mais uma manifestação de oposição ao racismo, Hamilton se ajoelhou, antes da prova, vestindo a camiseta com a mensagem “Vidas Negras Importam”. Ele foi acompanhado por 13 dos 20 colegas, momentos antes do início da corrida do GP. A televisão registrou também os mecânicos de outro piloto, Max Verstappen, da RBR, se ajoelhando, enquanto que somente o próprio piloto preferiu permanecer de pé.
Os pilotos Charles Leclerc, Kimi Raikkonen e Daniil Kvyat acompanharam o gesto de Hamilton.
Após a vitória, o britânico ergueu o punho cerrado no pódio ao lado de Stephanie Travers, do Zimbábue, engenheira de combustíveis da Petronas, principal patrocinadora da Mercedes, a nona mulher a ser indicada para participar da recepção do troféu pela equipe vitoriosa – e a primeira negra – escolhida para receber o prêmio.
“Vimos alguns mecânicos da RBR se ajoelharem, o que eu acho que é ótimo… Mas, se você olhar para a Ferrari, que tem milhares de pessoas trabalhando com eles, eu não ouvi uma palavra sequer deles dizendo que se responsabilizam e que isso é algo que eles vão fazer em seu futuro. E nós precisamos que as equipes façam isso”, declarou o piloto.
O britânico também cobrou o papel da própria Fórmula 1 e das outras equipes na promoção da luta a favor dos direitos humanos, ressaltando que a ignorância ou a negação da existência do racismo não ajuda no combate ao mesmo.
Hamilton também elogiou a iniciativa da categoria e do presidente da Liberty Media, Chase Carey, em financiarem a criação de uma força-tarefa que, junto com o projeto “We Race as One”, vai ajudar a promover oportunidades de emprego e estágio para minorias dentro do automobilismo:
“Precisamos que a Fórmula 1 e a FIA sejam mais atuantes nesses cenários”, assinalou, acrescentando: “Ei, pessoal, todos nós juntos, todos precisamos nos unir e lutar por isso. Acho que muitas pessoas não sabem qual é o problema. Muitas pessoas negam que há um problema. É bom ver Chase (Carey) sendo tão gentil e doando milhões de dólares, e a FIA por dar um passo à frente e também doar milhões. Mas se você não conhece o problema, você não pode concertá-lo, e milhões de dólares não vão muito longe. Muito trabalho precisa ser feito na Fórmula 1. A FIA realmente precisa tomar parte nisso, e acho que os pilotos também precisam se juntar, porque temos uma grande voz e grandes plataformas”.
MANIFESTAÇÕES ANTIRRACISTAS NO FUTEBOL
E deixando claro que a luta contra o racismo cresceu e muito, em outro esporte, o mais popular, também houve ações contra a discriminação. A volta do futebol nos Estados Unidos ficou marcada por diversos protestos. Jogadores de joelhos, mensagens nas camisas e protestos antes das partidas aconteceram no MLS is Back (A volta do futebol através de um torneio nos EUA). Thierry Henry, o francês treinador do Montreal Impact, do Canadá, também se manifestou na estreia do seu time no torneio. Henry ficou ajoelhado nos primeiros 8 minutos e 46 segundos da partida contra o New England Revolution. O tempo fez referência aos minutos que o policial Derek Chauvin ficou ajoelhado no pescoço de George Floyd a quem assassinou.
“Bem, me ajoelhei por 8 minutos e 46 segundos”, disse Henry após o jogo. “Eu acho que vocês sabem o porquê. Era apenas para prestar homenagem e mostrar apoio à causa. Era basicamente isso. Era simples.”
A morte de Floyd por asfixia gerou diversos protestos nos Estados Unidos e em todo o mundo. O movimento Black Lives Matter (vidas negras importam, em português) foi assumido e divulgado por muitos jogadores e clubes em todo o mundo.
O torneio acontece nos complexos esportivos da Disney, na Flórida.
Em outra partida do MLS is Back, jogadores do Philadelphia Union usaram camisas com nomes em homenagens a George Floyd e outros americanos negros vítimas de racismo.
Jogadores de todos os times deixaram claro seu apoio ao movimento Black Lives Matter, apesar do comentário do presidente Donald Trump no Twitter, quando ele disse que não assistiria mais ao esporte após diversos jogadores se negarem a ficar em pé durante o hino americano.