Um encontro de uma célula neonazista com integrantes de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná foi descoberto pela Delegacia de Repressão ao Racismo e a Delitos de Intolerância da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) da Polícia Civil catarinense. A reunião ocorreria na última segunda-feira (14), em um sítio na região da Grande Florianópolis.
A partir da descoberta, houve o cumprimento de dois mandados de busca e apreensão em São Pedro de Alcântara e em Florianópolis. Os oito suspeitos foram conduzidos para a sede da Deic e autuados em flagrante pela prática dos crimes de associação criminosa e racismo. Um deles ainda foi autuado por porte ilegal de arma de fogo por ter sido flagrado com munições. Indumentárias dos grupos supremacistas e material digital também foram recolhidos.
A investigação começou após troca de informações de inteligência com a Polícia Militar de Santo Amaro da Imperatriz para apurar denúncia sobre a realização do encontro neonazista. Os agentes identificaram o local e o objetivo do encontro. Tratava-se de um encontro anual de uma célula neonazista interestadual, com integrantes dos três estados da região Sul, que também integram um grupo skinhead internacional.
De acordo com o delegado Arthur Lopes, foram apreendidos equipamentos eletrônicos e outros objetos no sítio em que os homens foram localizados. Outro mandado de busca e apreensão foi cumprido em Florianópolis.
CRIMINOSOS
De acordo com o portal G1, entre os presos há um português que mora do Brasil há vários anos. Outros dois homens já se envolveram em crimes de homicídio decorrentes de intolerância.
Um deles estava usando tornozeleira eletrônica por ter sido condenado por uma tentativa de homicídio decorrente de um ataque skinhead contra judeus no Rio Grande do Sul.
Já o outro foi denunciado por duplo homicídio decorrente de uma disputa entre lideranças de células neonazistas. O caso ainda não foi julgado.
PROPAGAÇÃO NAZISTA
O aumento do número de casos de neonazismo em Santa Catarina mostra como esses criminosos tem se sentido mais à vontade no governo Bolsonaro.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Santa Catarina, Rodrigo Sartoti, afirma que a propagação tem aumentado recentemente. “As pessoas [nazistas] têm se sentido mais à vontade para agir, fazer pichações, por conta da conjuntura, do crescimento de uma extrema-direita violenta, que tem se colocado contrária a pautas das mulheres, LGBT, pessoas em situação de rua, racismo”, afirmou.
“É importante a criminalização, propagação do nazismo é crime no Brasil. Mas a gente precisa atuar não apenas no campo criminal, precisa educar as pessoas, ensinar as pessoas que essa doutrina não pode ser propagada, precisa ser rechaçada. A ideologia em si é racista, antiliberal, antidemocracia. Isso é o mais importante: por meio da educação, a gente consegue resolver. A gente não pode mais tolerar isso”.
Para a professora do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Mariana Joffily, a “questão é compreender o que exatamente está sendo exaltado e reverenciado nessa reapropriação de símbolos e gestos nazistas. Tudo indica que é uma concepção de política na qual a disputa saudável entre diferentes projetos, civilizada e mediada pelo jogo democrático, é totalmente negada”, disse ao portal G1.
“Os adversários são reduzidos a uma categoria única, de inimigo, que deve ser combatido e mesmo, exterminado. Essa concepção de política nega a própria política, na medida em que a sociedade, a coletividade é negada em suas diferenças e multiplicidade. E, claro, é sumamente antidemocrática e autoritária”, completou a professora.