A conferência que reuniria judeus e árabes na cidade portuária de Haifa, intitulada “Nossa parceria na luta pela justiça e contra a guerra”, foi suspensa depois que policiais ameaçaram o dono do salão onde ela se realizaria dizendo que este “sofreria consequências”
A polícia israelense proibiu, através de ameaças, a realização de um evento na cidade de Haifa que reuniria árabes e judeus para discutir o fim da guerra e da política de discriminação racial. A conferência, que tinha como tema “nossa parceria na luta pela justiça e contra a guerra”, seria realizada na quinta-feira (26).
Policiais israelenses, porém, ameaçaram fechar o salão no qual o evento seria realizado, obrigando seu proprietário a recuar e cancelar o encontro. Eles disseram que a realização da conferência teria “várias consequências”.
O evento contaria com a participação do ex-deputado israelense Avraham Burg e de Muhammad Barake, também ex-deputado e presidente do Comitê Supremo de Monitoramento para Cidadãos Árabes de Israel.
Outras figuras políticas e culturais árabes e judaicas estariam presentes em Haifa para a conferência.
O governo de extrema-direita de Netanyahu toma medidas contrárias ao diálogo e união entre judeus e árabes. Ao longo de 2023, ele incentivou a invasão de terras na Cisjordânia e reprimiu árabes, profanou a mesquita sagrada de Al Aqsa e fez vista grossa para as razias perpetradas por colonos judeus fanáticos que habitam terras assaltadas aos palestinos e que passaram a devastar aldeias árabes, a exemplo do que ocorreu em Hawara. O crescente de agressões levou o Hamas – após diversas advertências – a se decidir pelo ataque a Israel em 7 de outubro.
Em coletiva de imprensa realizada após a proibição do evento árabe-judáico, Abraham Burg disse que o grupo se recusa a ficar calado diante da guerra e fez o convite para que o evento seja realizado em sua própria casa – inclusive com transmissão pela internet.
Muhammad Barake, também na coletiva, disse que os árabes se negam a ficar calados e rechaçou a política ditatorial da polícia. “Somos filhos da nação e não convidados do Estado de Israel. O que deve sair são as políticas de guerra, ocupação e discriminação racial”, destacou.
Ele ainda falou sobre a “necessidade de acabar com a guerra contra o povo palestino e com os massacres que estão sendo cometidos”.
Segundo o Comitê de Acompanhamento, a política “também ameaçou outro salão (…) no qual o grupo planejou realizar uma reunião”.
Barake disse que o evento em Haifa tinha como objetivo discutir o fim da guerra de Israel contra os palestinos, que caracterizou como “guerra de extermínio”, e reforçar a posição de que os civis não podem ser assassinados e nem removidos de seu território, como tenta fazer o governo israelense. “Não hesitamos em assumir esta posição, sejam as vítimas civis israelenses ou palestinas”, afirmou.
“Expressamos, como sempre, a nossa rejeição à guerra e à ocupação, e esta posição foi recebida com uma ameaça” pelo governo de Netanyahu.
A liderança do Comitê de Monitoramento para Cidadãos Árabes de Israel ainda disse que “só aqueles que têm um defeito moral, como o governo de Israel”, consegue fazer traçar diferenças racistas entre crianças. Até a quinta-feira (26), Israel já matou mais de 3 mil crianças palestinas.
Para Avraham Burg, Israel “vive um estado de guerra desde 1948, e desde 7 de outubro, estamos num estado de emergência excepcional. Estamos também num estado de emergência excepcional na supressão da democracia e da liberdade de expressão”, por conta das medidas antidemocráticas de Benjamin Netanyahu.