
Entidades de defesa dos direitos, juristas, personalidades e jornalistas no mundo inteiro repudiaram a infame prisão do jornalista e fundador do WikiLeaks, Julian Assange, arrastado de dentro da embaixada do Equador em Londres por agentes ingleses na quinta-feira, após o cancelamento do seu asilo político pelo corrupto presidente equatoriano Lenin Moreno e ainda mais ilegal cassação da cidadania equatoriana que detém.
Prisão a que Assange resistiu como pôde, com grande coragem e dignidade e, ao ser tirado à força da embaixada, gritou aos ativistas em vigília diante do prédio: “resistam a essa tentativa do governo Trump”.
A ordem de prisão partiu de Washington, que os governos servis de May e de Moreno só fizeram executar, com base em um júri secreto no estado da Virgínia.
Londres oficializou ter recebido pedido de extradição de Assange que, folhas de parreira à parte, visa punir a revelação dos crimes de guerra dos EUA no Iraque e Afeganistão e ameaçar qualquer jornalista, no mundo inteiro, de sequestro e cárcere se ousar falar contra suas atrocidades.
Como assinalou outro campeão da dignidade e da altivez, Edward Snowden, que expôs o grampo em massa dos EUA no mundo inteiro, “as imagens do embaixador do Equador convidando a polícia secreta do Reino Unido para dentro da embaixada para arrastar um editor – goste-se ou não – de jornalismo premiado para fora do prédio, vão ficar nos livros de história”. “Um dia negro para a liberdade de imprensa”.
“SEM PRECEDENTES E INCONSTITUCIONAL”
A principal entidade dos EUA de defesa dos direitos civis, a ACLU, através de seu diretor, Ben Wizner, alertou que “qualquer processo dos Estados Unidos contra Assange por publicação do WikiLeaks seria sem precedentes e inconstitucional e abriria as portas para a criminalização de outras organizações noticiosas”.
Para a Relatora Especial das Nações Unidas para execuções extrajudiciais, Agnes Callamard, a decisão de expulsar Assange e sua possível extradição para os Estados Unidos o coloca em risco de “sérias violações de direitos humanos”.
A Anistia Internacional, através de seu vice-diretor para a Europa, Massimo Moratti, exigiu que o Reino Unido se recuse a extraditar Assange aos Estados Unidos, que enfrenta “um risco muito real de enfrentar violações de direitos humanos”, incluindo condições de detenção que “violariam a proibição absoluta de tortura e outros maus-tratos e um julgamento injusto seguido por uma possível execução, devido ao seu trabalho com o WikiLeaks. ”
O conceituado Centro de Direitos Constitucionais norte-americano condenou a prisão de Assange e afirmou que os EUA deveriam “finalmente tentar entrar em acordo com os crimes de guerra no Iraque que cometeram e não atacar e aprisionar aqueles que procuravam expor a verdade sobre isso”.
A declaração considerou, ainda, a extradição “um passo preocupante” para punir qualquer jornalista que o governo Trump escolha para ridicularizar as ‘fake news’ e advertiu sobre o “perigoso precedente aberto”, especialmente sob “um governo vingativo e imprudente”.
A Electronic Frontier Foundation divulgou comunicado declarando que a acusação de Assange foi “na raiz, um ataque à publicação de material vazado e o ato mais recente em um esforço de quase uma década para punir um denunciante e a editora de seu material vazado”.
“ATAQUE A TODOS NÓS”
O Centro de Jornalismo Investigativo britânico chamou à solidariedade a Assange e afirmou que “o mundo inteiro está observando”. “O material do WikiLeaks do Iraque, Afeganistão e outros lugares se tornou um recursos inestimável para jornalistas e acadêmicos investigativos em todo o mundo”, assinalou a entidade.
“Seja qual for sua opinião sobre sua filosofia de transparência radical, o Wikileaks é um editor. Quaisquer acusações agora trazidas em conexão com esse material, ou qualquer tentativa de extraditar Assange para os Estados Unidos para processo sob o Ato de Espionagem de 1917, é um ataque a todos nós”.
PIGMEU TRAÍRA
O ex-presidente equatoriano, Rafael Correa, que corajosamente em 2012 concedeu asilo a Assange, denunciou que o atual presidente ‘vendeu’ a cabeça de Assange aos EUA e humilhou o Equador, ao chamar a polícia para entrar na embaixada de Londres. “O que ele fez é um crime que a humanidade nunca esquecerá. De agora em diante e no mundo inteiro canalha e traição podem ser resumidos em duas palavras: Lenin Moreno”.
O presidente boliviano Evo Morales manifestou a solidariedade “com este irmão que está sendo perseguido pelo governo dos EUA por trazer à luz violações de direitos humanos, assassinatos de civis e espionagem diplomática”.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, exortou a que os direitos de Assange sejam “respeitados”. Maria Zakharova, porta-voz da chancelaria russa, tuitou: “a mão da ‘democracia’ sufoca o pescoço da liberdade”.
O cineasta Oliver Stone postou que Assange “fez um ótimo trabalho em nome da humanidade, apesar de receber um tratamento desumano. Este caso é crucial para a sobrevivência do nosso direito ao conhecimento e das nossas liberdades essenciais contra a opressão nos EUA e no Reino Unido, e agora contra a tirania”.
“NÃO À EXTRADIÇÃO”
No Reino Unido, erguem-se as vozes contra o encarceramento do jornalista e o servilismo de May. Em resposta a uma postagem da deputada trabalhista Diane Abbott, responsável do partido pelas questões externas, em defesa de Assange, o líder Jeremy Corbin manifestou-se contra a extradição. “O governo britânico deveria se opor à extradição de Julian Assange aos EUA por expor evidências de atrocidades no Iraque e no Afeganistão”. No debate no parlamento, Abbott havia afirmado que foi sua atividade de denúncia “de guerras ilegais, assassinatos em massa, assassinatos de civis e corrupção em larga escala que colocou Assange na mira”.
ARREMEDO DE JULGAMENTO
Após encarcerado, Assange ainda teve de ir até um tribunal, para uma encenação sobre suas supostas pendências com a justiça britânica, de uma acusação sueca que não existia mais. Diante de um cidadão, que passou sete anos confinado e sete meses em isolamento por denunciar atrocidades de guerra, o elemento que se dizia juiz teve a pachorra de acusar Assange de ser “narcisista” e o condenou de pronto a um ano de detenção.
O ex-embaixador britânico Craig Murray e atual ativista de direitos humanos disse que era espantoso que alguém pudesse “ser arrastado para fora de algum lugar por policiais armados e, em três horas, levado a julgamento por um juiz e considerado culpado de um crime envolvendo uma grave sentença de prisão. Não houve júri e nenhuma chance de montar uma defesa adequada ou ter uma audiência adequada”.
A cereja do bolo foi a declaração da primeira-ministra May de que no Reino Unido “ninguém está acima da justiça”. Deve ser por isso que o criminoso de guerra e cúmplice de W. Bush, Tony Blair, está impune. A primeira audiência de Assange em relação à extradição será no dia 2 de maio.
MÍDIA VENAL
Muito poderia ser dito sobre a venalidade de grande parte dos grandes jornais e meios de comunicação, mas o que a editora-chefe da RT, Margarita Simonyan, postou é impactante. “A sentença mais óbvia que alguém poderia passar sobre a desgraça total da mídia mundial pode ser vista no fato de que ninguém estava aqui para filmar a prisão de Julian Assange, apenas nós (RT). Isso apesar do fato de que todos já sabiam que ele seria expulso. Agora eles têm que vir e pedir nossas filmagens”.
“A CNN e o The Guardian têm a ousadia de nos telefonar e perguntar como éramos os únicos a conseguir essa filmagem. É óbvio: vocês são apenas os servos hipócritas do seu establishment e não jornalistas. É por isso que tal coisa aconteceu”, acrescentou.
IGNÓBEIS
O que pôde ser comprovado fartamente. O New York Times em editorial asseverou que o governo Trump “começou bem” ao acusar Assange de “um crime indiscutível” – “não de publicar informações confidenciais do governo, mas de roubá-las”.
O Washington Post afirmou que “o sr. Assange não é um herói da imprensa livre” – título que deve estar reservado para o magnata Bezos e seus repórteres amestrados.
O El País conseguir estampar o título “Equador perdeu a paciência com Assange depois de sete anos ‘convidado’ na embaixada em Londres”.
Matéria do NYT sobre a prisão chega ao requinte de endossar desculpas de Moreno como “a interferência nos assuntos internos de outros estados e os descaminhos pessoais, como o fracasso de Assange em limpar o banheiro e cuidar do gato”.
Glenn Greenwald, o premiado jornalista do The Intercept, advertiu aos aprendizes de feiticeiro: “Se você está aplaudindo a prisão de Assange com base em um pedido de extradição dos EUA, seus aliados em sua celebração são os elementos mais extremistas do governo Trump, cujo objetivo primário e explícito é criminalizar a divulgação de documentos confidenciais e punir [o WikiLeaks] por expor crimes de guerra”.
WIKILEAKS NÃO SE CALA
A acusação – e perseguição – de Julian Assange é para silenciar outras pessoas que se manifestariam contra os abusos de poder, apontaram à RT o atual editor do Wikileaks, Kristinn Hrafnsson, e a advogada de Assange, Jennifer Robinson.
“Este é um precedente que efetivamente significa que qualquer jornalista ou organização de mídia em qualquer lugar do mundo pode ser extraditado e processado por ter publicado informações verdadeiras sobre os Estados Unidos, e isto é, por uma questão de princípio, errado e deve ser combatido. E nós estaremos lutando contra isso”, alertou Robinson.
“A mensagem não é para Julian Assange. A mensagem é para os jornalistas de todo o mundo de que eles não devem atrapalhar uma superpotência que quer ter todo o poder “, concordou Hrafnsson.
Apesar de preocupado com o efeito inibidor sobre os jornalistas por agora terem de “enfrentar a possibilidade de serem perseguidos e jogados em um avião-prisão para serem julgados nos EUA”, o editor continua confiante de que “sempre haverá pessoas corajosas” para ir em frente e obter as informações que os poderosos tentam ocultar.
Hrafnsson assinalou que o WikiLeaks abriu um caminho que se tornou um padrão para os que vieram depois, como os Panamá Papers e os vazamentos de Edward Snowden.
Quaisquer que sejam os ataques contra Assange, “o trabalho do Wikileaks continuará”, disse Hrafnsson. “Não vão a lugar nenhum” com mais essa investida. “Assange vai lutar, vai lutar muito pela vitória – e nós vamos ajudá-lo.”
ANTONIO PIMENTA