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“Os acontecimentos atuais estão pondo em xeque a domínação global dos países ocidentais, tanto na política quanto na economia” e colocando em questão “o modelo econômico que nas últimas décadas foi imposto aos países em desenvolvimento e, de fato, ao mundo inteiro”, afirmou o presidente russo Vladimir Putin, em reunião na quarta-feira (16) com seus principais auxiliares no front interno, em que foram debatidas as medidas para manter a economia russa operando apesar do mais brutal regime de sanções já lançado contra um país.
Essas sanções contra a Rússia “estão agora atingindo os próprios europeus e americanos por meio do aumento dos preços da gasolina, energia, alimentos, pela perda de empregos associados ao mercado russo”, sublinhou Putin, sobre o efeito ‘volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar’.
Dirigindo-se aos “cidadãos comuns dos países ocidentais”, Putin advertiu-os que estão “sob persistente tentativa de convencimento de que todas as suas dificuldades são o resultado de algumas ações hostis da Rússia, que você tem que pagar de sua própria carteira pela luta contra a mítica ameaça russa”. “Tudo isso é mentira”, ressaltou.
“A verdade é que os problemas atuais enfrentados por milhões de pessoas no Ocidente são o resultado de muitos anos de ações das elites dominantes de seus países, seus erros, miopia e ambições”, destacou o presidente russo
Prova disso – acrescentou – são os dados de organizações internacionais, “que dizem diretamente que os problemas sociais, mesmo nos principais países ocidentais, só se agravaram nos últimos anos, que a desigualdade está crescendo, o fosso entre ricos e pobres, os conflitos raciais e nacionais estão se fazendo sentir”.
“O mito da sociedade de bem-estar ocidental, do chamado bilhão de ouro, está desmoronando. Repito, hoje todo o planeta tem que pagar pelas ambições do Ocidente, por suas tentativas de manter seu domínio de qualquer maneira”.
“A imposição de sanções é uma continuação lógica, uma expressão concentrada da política irresponsável e míope dos governos e bancos centrais dos EUA e dos países da UE. Foram eles que, nos últimos anos, com as próprias mãos dispersaram a espiral da inflação mundial, por suas ações levaram a um aumento da pobreza global e da desigualdade, a novos fluxos de refugiados pelo mundo. E surge a pergunta: quem é agora responsável pelas milhões de mortes de fome nos países mais pobres do mundo devido à crescente escassez de alimentos?”
DURO GOLPE NO PADRÃO DÓLAR
“Repito, um duro golpe foi desferido em toda a economia e comércio global, na confiança e no dólar americano como principal moeda de reserva”, sublinhou Putin.
“Assim, ações ilegítimas para congelar parte das reservas cambiais do Banco da Rússia põem em xeque a confiabilidade dos chamados ativos de primeira classe. De fato, tanto os EUA quanto a UE declararam um verdadeiro inadimplemento de suas obrigações para com a Rússia”.
Agora – destacou Putin – “todos sabem que as reservas financeiras podem simplesmente ser roubadas”.
E vendo isso, “muitos países em um futuro próximo podem começar – tenho certeza que isso acontecerá – a converter suas economias de papel e digitais em reservas reais na forma de commodities, terras, alimentos, ouro e outros ativos reais, que farão apenas aumentar o déficit desses mercados”, ressaltou.
“Deixe-me enfatizar que a obsessão por sanções por parte dos Estados Unidos e seus apoiadores não é compartilhada por países onde vive mais da metade da população mundial. São esses estados que representam a parte mais promissora e de crescimento mais rápido da economia global. Entre eles está a Rússia”.
“ESTRATÉGIA CONSCIENTE E DE LONGO PRAZO”.
Putin assinalou que os próprios líderes do Ocidente “não escondem mais o fato de que as sanções não são dirigidas contra indivíduos ou empresas, seu objetivo é atingir toda a nossa economia doméstica, nossa esfera social e humanitária, todas as famílias, todos os cidadãos da Rússia”.
“De fato, tais medidas têm todos os sinais de agressão, guerra por meios econômicos, políticos e informativos. Tem um caráter total, indisfarçável”, destacou o presidente russo.
“Todos os enfeites verbais sobre correção política, inviolabilidade da propriedade privada, liberdade de expressão – tudo isso voou da noite para o dia. Até os princípios olímpicos foram pisoteados. Eles não hesitaram em acertar as contas com os atletas paralímpicos – esse é um ‘esporte fora da política’”.
Em muitos países ocidentais, as pessoas estão sujeitas a perseguição real apenas porque são da Rússia: recusam assistência médica, expulsam crianças das escolas, privam seus pais de seus empregos, proíbem a música, a cultura e a literatura russas.
TENTATIVA DE ‘CANCELAR’ A RÚSSIA
“Tentando ‘cancelar’ a Rússia, o Ocidente arrancou todas as máscaras da decência, começou a agir grosseiramente, demonstrou sua verdadeira natureza”.
Não há como não fazer uma “analogia direta com os pogroms antissemitas que os nazistas encenaram na Alemanha nos anos 30 do século passado, e depois seus capangas de muitos países europeus que se juntaram à agressão de Hitler contra nosso país durante a Grande Guerra Patriótica”.
“Foi desencadeada uma campanha de desinformação sem precedentes, que envolve as redes sociais globais e todos os meios de comunicação ocidentais, cuja objetividade e independência acabou por ser apenas um mito”, denunciou o líder russo.
Chegou ao ponto – apontou – de uma das redes sociais americanas anunciar diretamente a possibilidade de publicações “pedindo o assassinato de cidadãos russos”.
“Entendemos que recursos esse império de mentiras tem, mas ainda é impotente contra a verdade e a justiça”, assegurou Putin. “A Rússia trará consistentemente sua posição à atenção de todo o mundo. E nossa posição é honesta e aberta, e mais e mais pessoas ouvem, entendem e compartilham”.
SOBERANIA VENCERÁ
“Quero ser muito franco: por trás da conversa hipócrita e das ações atuais do chamado Ocidente coletivo, existem objetivos geopolíticos hostis. Eles não precisam, eles simplesmente não precisam de uma Rússia forte e soberana, eles não nos perdoarão nem nosso curso independente, nem o fato de estarmos defendendo nossos interesses nacionais”, afiançou o presidente russo.
“Lembramos como eles apoiaram o separatismo, o terrorismo, encorajando terroristas e bandidos no norte do Cáucaso. Tal como nos anos 90 – início dos anos 2000, eles agora, mais uma vez, querem repetir a sua tentativa de nos pressionar, para nos tornarmos um país fraco, dependente, para violar a integridade territorial, desmembrar a Rússia da melhor maneira possível para eles. Não deu certo naquela época, e não vai dar certo agora”.
Putin destacou que o “Ocidente está tentando dividir nossa sociedade”, especulando sobre as perdas em combate, sobre as consequências socioeconômicas das sanções, “para provocar um confronto civil na Rússia e, usando sua ‘quinta coluna’, busca atingir seu objetivo. E há apenas um objetivo, já falei sobre isso, a destruição da Rússia”.
“Mas qualquer povo, e ainda mais o povo russo, sempre será capaz de distinguir verdadeiros patriotas de escória e traidores e simplesmente cuspi-los como um mosquito que acidentalmente voou em suas bocas. Estou convencido de que uma autodepuração tão natural e necessária da sociedade só fortalecerá nosso país, nossa solidariedade, coesão e prontidão para responder a quaisquer desafios”.
“NÃO CONHECEM BEM NOSSA HISTÓRIA E POVO”
“O chamado Ocidente coletivo e sua “quinta coluna” estão acostumados a medir tudo e todos por si mesmos. Eles acreditam que tudo está à venda e tudo é comprado e, portanto, pensam que vamos quebrar, recuar. Mas eles não conhecem bem nossa história e nosso povo”, apontou Putin.
“Sim, muitos países do mundo há muito se resignaram aceitar obsequiosamente todas as decisões de seu soberano, olhando-o nos olhos obsequiosamente. É assim que muitos países vivem. Infelizmente, também na Europa”.
“Mas a Rússia nunca estará em um estado tão miserável e humilhado, e a luta que estamos travando é uma luta por nossa soberania, pelo futuro de nosso país e de nossos filhos. Lutaremos pelo direito de ser e permanecer na Rússia. Um exemplo para nós é a coragem e firmeza de nossos soldados e oficiais, os fiéis defensores da Pátria”.
DESUMANIZAÇÃO
Putin lembrou como no chamado “mundo ocidental civilizado”, a imprensa americana e europeia sequer se referiram ao ataque ucraniano com míssil balístico que matou 20 civis na cidade de Donetsk, “como se nada tivesse acontecido”.
“Foi com a mesma hipocrisia que eles desviaram os olhos nos últimos oito anos, quando as mães no Donbass enterravam seus filhos. Quando os velhos foram mortos. É apenas algum tipo de desumanização completa”.
Como ressaltou Putin, “nosso povo no Donbass, por quase oito anos pelos métodos mais bárbaros – bloqueio, ações punitivas em grande escala, ataques terroristas e constantes bombardeios de artilharia – foi submetido a um verdadeiro genocídio. E para quê? Só porque buscavam direitos humanos elementares – viver de acordo com as leis e tradições de seus ancestrais, falar sua língua nativa, criar seus filhos do jeito que eles querem”.
REGIME DE KIEV
“Ao mesmo tempo, as autoridades de Kiev não apenas ignoraram, sabotaram ao longo de todos esses anos a implementação do Pacote de Medidas de Minsk para a Solução Pacífica da Crise, e no final do ano passado se recusaram publicamente a implementá-lo”.
As autoridades de Kiev “também começaram a implementação prática dos planos de adesão à Otan” – a que se somaram declarações sobre “sua intenção de criar agora suas próprias armas nucleares e seus veículos de entrega”.
“Uma ameaça real. Já no futuro previsível, com assistência técnica estrangeira, o regime pró-nazista em Kiev poderia colocar as mãos em armas de destruição em massa, e o alvo para isso, é claro, seria a Rússia”. Havia ainda uma rede de dezenas de laboratórios biológicos sob direção e com apoio financeiro do Pentágono.
“Nossos repetidos avisos de que tal desenvolvimento representa uma ameaça direta à segurança da Rússia foram rejeitados pela Ucrânia, seus patronos dos EUA e da Otan, com desdém ostensivo e cínico.
Assim, todas as possibilidades diplomáticas foram completamente esgotadas”.
Simplesmente – salientou o presidente russo – “ficamos sem opções para resolver pacificamente os problemas que surgem sem culpa nossa. E a esse respeito, fomos simplesmente forçados a lançar uma operação militar especial”.
CORTAR O MAL PELA RAIZ
A amplitude que a operação assumiu foi em decorrência da gravidade da situação gerada à segurança russa e do Donbass. “Se nossas tropas atuassem apenas no território das repúblicas populares, essa não seria a decisão final, não levaria à paz e não eliminaria a ameaça pela raiz. Pelo contrário, uma nova linha de frente teria sido colocada ao redor do Donbass e ao longo de suas fronteiras, bombardeios e provocações teriam continuado”.
O conflito armado se arrastaria interminavelmente e a infraestrutura militar da OTAN na Ucrânia seria implantada ainda mais rápida e agressivamente
“Garantiremos de forma confiável a segurança da Rússia e de nosso povo e nunca permitiremos que a Ucrânia sirva de trampolim para ações agressivas contra nosso país”, afirmou Putin. “São precisamente as questões de princípio para a Rússia, para o nosso futuro – sobre o estatuto neutro da Ucrânia, sobre a desmilitarização e a desnazificação – que estávamos prontos e estamos prontos para discutir agora no decurso das negociações”, reiterou.
“O aparecimento de tropas russas perto de Kiev e outras cidades da Ucrânia não está relacionado com a intenção de ocupar este país. Não temos esse objetivo, e também declarei isso diretamente em meu discurso em 24 de fevereiro”.