O presidente russo Vladimir Putin anunciou na quinta-feira (24), em discurso à nação russa, que seu governo deflagrou uma operação militar especial para “desmilitarizar e desnazificar” a Ucrânia, levando a cabo os compromissos assumidos com o reconhecimento das repúblicas antifascistas do Donbass, que solicitaram assistência militar após a intensificação dos bombardeios ucranianos contra civis e uso de armas proibidas. Alvo da operação é deter a tentativa dos EUA de fazer da Ucrânia cabeça de ponte contra a Rússia, por meio da anexação à OTAN.
“Para o nosso país isso é, em última análise, uma questão de vida ou morte, uma questão de nosso futuro histórico como povo. Esta é uma ameaça real não só aos nossos interesses, mas também à própria existência do nosso Estado, à sua soberania”, acrescentou Putin.
“Esta é a linha muito vermelha que tem sido falada muitas vezes. Eles a atravessaram”, enfatizou o presidente russo.
“A este respeito, sobre a situação no Donbass, vemos que as forças que deram um golpe de Estado na Ucrânia em 2014 tomaram o poder e o mantêm com a ajuda, de fato, de procedimentos eleitorais decorativos, finalmente desistiram da solução pacífica do conflito”, afirmou Putin.
OITO ANOS INTERMINÁVEIS
“Durante oito anos intermináveis, fizemos todo o possível para resolver a situação por meios pacíficos e políticos. Tudo em vão”.
“É simplesmente impossível suportar tudo isso. É necessário deter imediatamente esse pesadelo: o genocídio contra os milhões de pessoas que vivem lá, que confiam apenas na Rússia, que depositam suas esperanças apenas em nós”, destacou o líder russo.
“Essas aspirações, sentimentos, a dor do povo foram para nós a principal razão para tomar a decisão de reconhecer as repúblicas populares do Donbass”.
Como alertou Putin, “os principais países da OTAN, para alcançar seus próprios objetivos, apoiam em tudo aos chauvinistas extremistas e neonazistas na Ucrânia”, esses que, por sua vez, “nunca perdoarão os moradores da Crimeia e Sebastopol por sua livre escolha: a reunificação com a Rússia”.
Putin assinalou que os chauvinistas e neonazistas “irão contra a Crimeia, como no Donbass, com uma guerra, para matar, como as gangues de nacionalistas ucranianos, cúmplices de Hitler, mataram pessoas indefesas durante a Grande Guerra Patriótica. Eles afirmam abertamente que reivindicam vários outros territórios russos”.
ACERTO DE CONTAS
“O confronto da Rússia com essas forças é inevitável”, afirmou Putin. “É só uma questão de tempo: eles estão se preparando, estão esperando o momento certo. Agora eles também aspiram possuir armas nucleares. Não vamos permitir”.
Como disse antes, após o colapso da URSS a Rússia aceitou as novas realidades geopolíticas, sublinhou Putin, apontando que “respeitamos e continuaremos a tratar com respeito todos os países que surgiram no espaço pós-soviético”.
“Um exemplo disso é a assistência que prestamos ao Cazaquistão, que enfrentou eventos trágicos que desafiaram sua condição de Estado e integridade”, assinalou Putin.
Mas – ressaltou – a Rússia “não pode se sentir segura, se desenvolver, existir com uma ameaça constante que emana do território da Ucrânia moderna”.
BARREIRA CONFIÁVEL
Putin lembrou como em 2000-2005 “repelimos militarmente os terroristas no Cáucaso, defendemos a integridade de nosso Estado, salvamos a Rússia”. “Em 2014, apoiamos os moradores da Crimeia e Sebastopol”. Em 2015, as Forças Armadas ergueram uma barreira confiável à penetração de terroristas da Síria na Rússia. “Não tínhamos outra maneira de nos proteger”, destacou.
“A mesma coisa está acontecendo agora.
Nenhuma outra possibilidade nos foi deixada para proteger a Rússia, nosso povo, exceto aquela que seremos forçados a usar hoje. As circunstâncias obrigam-nos a tomar medidas decisivas e imediatas”, enfatizou.
“Decidi realizar uma operação militar especial”, assinalou Putin, em conformidade com a Carta das Nações Unidas, com a sanção do Conselho da Federação Russa e em conformidade com os tratados de amizade e assistência mútua ratificados pela Assembleia Federal em 22 de fevereiro deste ano com República Popular de Donetsk e a República Popular de Lugansk.
DESMILITARIZAÇÃO E DESNAZIFICAÇÃO
“Seu objetivo é proteger as pessoas que foram submetidas à intimidação e genocídio pelo regime de Kiev durante oito anos. E para isso lutaremos pela desmilitarização e desnazificação da Ucrânia, bem como para levar à justiça aqueles que cometeram inúmeros crimes sangrentos contra civis, incluindo cidadãos da Federação Russa”, afirmou o presidente.
Ele acrescentou que “nossos planos não incluem a ocupação de territórios ucranianos. Não vamos impor nada a ninguém pela força.
Putin apontou que os resultados da Segunda Guerra Mundial, bem como os sacrifícios feitos pelo nosso povo na vitória sobre o nazismo, “são sagrados”. Mas isso não contradiz os altos valores dos direitos humanos e das liberdades, baseados nas realidades que foram criadas hoje durante as décadas do pós-guerra. “Tampouco anula o direito das nações à autodeterminação, consagrado no artigo 1º da Carta da ONU”.
“Neste sentido, faço um chamamento aos cidadãos da Ucrânia. Em 2014, a Rússia foi forçada a proteger os habitantes da Crimeia e Sebastopol daqueles que vocês mesmos chamam de “nazistas”. Os moradores da Crimeia e Sebastopol optaram por ficar com sua pátria histórica, com a Rússia, e nós os apoiamos. Repito, não podíamos fazer mais nada”.
“Os acontecimentos de hoje não estão relacionados com o desejo de prejudicar os interesses da Ucrânia e do povo ucraniano. Têm a ver com proteger a própria Rússia daqueles que fizeram a Ucrânia de refém e estão tentando usá-la contra nosso país e seu povo”.
“Reitero, nossas ações são em legítima defesa contra as ameaças que estão sendo criadas para nós e na prevenção de um desastre ainda maior do que o que está ocorrendo hoje”.
SEGUIR EM FRENTE JUNTOS
“Por mais difícil que seja, peço que entendam e peço a cooperação para virar esta página trágica o mais rápido possível e seguir em frente juntos, para não permitir que ninguém interfira em nossos assuntos, em nossas relações, para construí-las por nossa conta, de modo a criar as condições necessárias para superar todos os problemas e, apesar da existência de fronteiras estatais, fortalecermos-nos a partir de dentro como um todo. Eu acredito nisso, que esse é o nosso futuro”.
Aos “camaradas membros das forças armadas ucranianas”, Putin lembrou que “seus pais, avós, bisavós não lutaram contra os nazistas nem defenderam nossa pátria comum para que os neonazistas de hoje tomassem o poder na Ucrânia”.
“Eles juraram fidelidade ao povo ucraniano, e não à junta antipopular que está saqueando a Ucrânia e, assim, escarnecendo de seu povo”. Putin exortou os soldados a não obedecer ordens criminais, depor armas e ir para casa livremente.
Ele também advertiu que “toda a responsabilidade por um possível derramamento de sangue recairá inteiramente sobre a consciência do regime dominante no território da Ucrânia”.
AVISO AOS NAVEGANTES
Aqueles que “podem ser tentados a intervir nos acontecimentos em curso”, que tentem “nos obstar ou criar ameaças ao nosso país” devem saber que a resposta da Rússia será “imediata e terá consequências que nunca experimentaram em sua história”, assinalou o presidente Putin. “Espero que me escutem”.
Após se referir a que, no cerne da política do “império das mentiras” de que falou no início de sua mensagem “está principalmente a força bruta e direta”, Putin assinalou que “a verdadeira força está na justiça e na verdade, que está do nosso lado”.
E – completou – se é assim, então “é difícil discordar do fato de que a força e a prontidão para lutar são a base da independência e da soberania, são a base necessária sobre a qual se pode construir com segurança seu futuro, construir seu lar, sua família, seu país”.
“Em última análise, como sempre foi na história, o destino da Rússia está nas mãos confiáveis de nosso povo multinacional”, destacou Putin.
“E isso significa que as decisões tomadas serão implementadas, que as metas estabelecidas serão alcançadas e que a segurança da nossa Pátria estará garantida de forma confiável”. E concluindo: “acredito em vosso apoio, naquela força invencível que o nosso amor pela Pátria nos dá”.