Coaf descobriu depósito de R$ 100 mil em dinheiro vivo em sua conta sete meses após o assassinato de Marielle
Com a derrubada pelo pleno do Supremo Tribunal Federal (STF), na quinta-feira (28), da liminar concedida pelo ministro Dias Toffoli ao senador Flávio Bolsonaro, que impedia investigações criminais que tivessem feito uso de informações compartilhadas pelo antigo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), a Polícia do Rio de Janeiro retomou as investigações sobre o patrimônio financeiro de Ronnie Lessa.
Lessa é o assassino da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, em março de 2018.
Um relatório do então Coaf, atualmente UIF (Unidad Inteligência Financeira), apontou, sete meses depois do atentado, que Ronnie depositou R$ 100 mil em dinheiro vivo na própria conta. O depósito foi feito no dia 9 de outubro de 2018, sete meses depois do crime numa agência do Itaú também na Barra.
A reabertura do caso Marielle deverá ocorrer junto com outras 146 investigações que estavam suspensas no departamento da polícia fluminense desde julho. Na mesma época em que Ronnie Lessa foi preso foram encontrados, escondidos na casa de um comparsa do assassino, 117 fuzis do tipo M-16 incompletos, embalados e novos.
Lessa, que é vizinho de Jair Bolsonaro, faz parte do Escritório do Crime, uma espécie de central de assassinatos por encomenda das milicias do Rio de Janeiro.
As investigações são fundamentais para a identificação dos mandantes do assassinato da vereadora. A informação sobre a retomada é da diretora do Departamento Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro, delegada Patrícia Alemany.
A Delegacia de Homicídios da Capital, responsável pela prisão de Lessa e Queiroz, investiga se o crime foi encomendado.
Recentemente o vereador Carlos Bolsonaro foi incluído nas investigações por conta de uma briga entre as assessorias dos dois gabinetes dias antes do crime e também pelo fato de Carlos ter mentido sobre onde se encontrava na tarde que antecedeu ao fuzilamento da vereadora do Psol.
O PM reformado Ronnie Lessa foi preso no dia 12 de março no condomínio de luxo Vivendas da Barra, onde morava, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, o mesmo local onde o presidente Jair Bolsonaro e seu filho Carlos têm casas.
Na tarde do crime, Élcio Queiroz, que a policia descobriu que dirigia o carro de onde partiram os tiros que mataram Marielle, foi até o condomínio Vivendas da Barra. Ele entrou e se dirigiu para a casa de Ronnie Lessa.
O porteiro havia dito à Polícia Civil do Rio que Queiroz pediu para ir na casa de Jair Bolsonaro, mas, posteriormente, em depoimento à Polícia Federal, ele voltou atrás na declaração.
Élcio Queiroz foi preso no mesmo dia de Ronnie Lessa. Os dois saíram do Vivendas da Barra por volta das 17h30 do 14 de março de 2018 e foram para o Quebra-Mar. De lá, seguiram para a Lapa, onde Marielle participaria de um seminário.
Ela foi morta minutos depois de deixar a Casa das Pretas. Os investigadores chegaram à dupla após uma análise de dados, como registros de antenas de celular e de câmeras de trânsito. Para a Polícia Civil, Ronnie é o autor dos disparos contra Marielle e Élcio dirigia o carro.
O Ministério Público citou esse relatório em um pedido de bloqueio dos bens de Ronnie e de Elcio. Entre os bens visados, estavam uma lancha apreendida em Angra dos Reis em nome de uma pessoa que seria “laranja” de Ronnie, os automóveis do PM reformado (um deles, um Infinity avaliado em R$ 150 mil) e a casa dele, localizada em um “condomínio luxuoso na Barra da Tijuca”.
Tudo isso, segundo o Ministério Público, seria incompatível com a renda de um policial militar reformado.
As ligações de Ronnie Lessa com a família Bolsonaro, além da serem vizinhos no condomínio da Barra, apontam sistematicamente para a figura de Fabrício Queiroz, amigo íntimo de Jair Bolsonaro e o faz-tudo de Flávio. Queiroz também é ex-PM e seria muito ligado a Adriano Nóbrega, apontado como chefe de Ronnie Lessa no Escritório do Crime.
Queiroz trabalhava no gabinete de Flávio Bolsonaro e está envolvido diretamente na lavagem de dinheiro do gabinete do então deputado. Esta é a lavagem que é investigada pelo MP/RJ. O habeas corpus de Dias Toffoli foi dado a pedido da defesa de Flávio Bolsonaro para paralisar as investigações exatamente da movimentação suspeita de Fabrício Queiroz.
Foi Fabrício Queiroz que levou Adriano Nóbrega, que hoje está foragido, a receber duas homenagens de Flávio, uma delas, inclusive, ele recebeu quando estava preso, acusado de assassinato. A mãe e a mulher de Adriano foram lotadas por vários anos no gabinete de Flávio Bolsonaro.
A mãe do ex-capitão, Raimunda Veras Magalhães, de 68 anos, foi funcionária no gabinete de Flávio durante grande parte de seu mandato como deputado estadual. Raimunda aparece na folha da Alerj com salário líquido de R$ 5.124,62.
Ela foi exonerada dia 13 de novembro do ano passado. A mulher de Adriano, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega também foi lotada no gabinete de Flávio na Alerj, com o mesmo salário da sogra. Ela é listada na Assembleia desde novembro de 2010 e foi exonerada junto com a sogra. Queiroz chegou a pedir a ela que, depois da separação, não usasse mais o sobrenome “Nóbrega” para não ligar Adriano ao gabinete de Flávio.
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