Senador questionou se ministro da Saúde havia lido as bulas das vacinas e o ministro admitiu não ter lido. Com questionamentos técnicos, senador fez embate duro com o titular da Saúde, com pesadas críticas a Queiroga
O ministro de Saúde, Marcelo Queiroga, e o senador Otto Alencar (PSD-BA) fizeram duro embate durante a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid-19, nesta terça-feira (6), após o parlamentar perguntar ao chefe da pasta se ele havia lido as bulas das vacinas contra o coronavírus que atualmente são aplicadas no Brasil. “Não”, respondeu o ministro.
“Ministro, lamento o senhor não ter lido a bula de todas as vacinas — pois eu li a bula de todas —, ministro. Sabe por quê? Porque o senhor é autoridade sanitária do Brasil. É exatamente o senhor que determina como devem ser aplicadas as vacinas e quem deve tomar vacina ou não. É o senhor quem determina a maneira de vacinar”, criticou o senador.
“O senhor tem que conhecer a vacina, qual o método da construção de uma vacina, de se fazer uma vacina a inativação de vírus ou RNA. Um desses o senhor tinha de saber, e saber como mandar aplicar as vacinas, porque todas vacinas podem ter efeitos colaterais”, continuou.
“O senhor deveria pelo menos, ministro, ler a bula. Na bula da vacina, ler modo de usar, posologia, efeitos colaterais. E o senhor não fez isso, ministro. E devo dizer a vossa excelência, que talvez seja o ato mais irresponsável que o ministro da Saúde pode fazer é determinar aplicação da vacina sem ter conhecimentos dos efeitos colaterais da vacina”.
EMBATE DURO
O ministro se irritou com as declarações de Otto e rebateu: “Do ponto de vista prático da minha gestão, nós distribuímos 70 milhões de doses para a população brasileira. Vossa excelência não pode querer desqualificar a autoridade sanitária do Brasil por ter lido ou não a bula da vacina.”
Em seguida, um bate-boca se iniciou entre os dois após o senador alegar que Marcelo Queiroga mentiu ao dizer que quem editou a norma para a vacinação às gestantes foi o Plano Nacional de Imunização. No mês de maio, o Ministério da Saúde suspendeu a aplicação da vacina britânica para o grupo devido a efeitos adversos.
“Não foi. Foi a doutora Franciele Francinato. Fale a verdade, ministro. A ciência não pode mentir. Uma paciente morreu com a dose da AstraZeneca”, disse Otto.
O ministro contestou as críticas do parlamentar. “A sociedade brasileira reconhece os esforços que estão sendo feitos aqui. Não aceito que isso seja desqualificado”, disse o ministro.
E a partir daí seguiu-se um bate-boca entre ambos, com o senador Otto Alencar emparedando o ministro com perguntas técnicas que deixaram o ministro sem respostas adequadas. O senador tem feito esse tipo de embate com os depoentes, pois é médico e tem estudado a pandemia.
Otto Alencar: “Portanto, aqui nesta bula, por exemplo, uma só, a Pfizer: o senhor está mandando aplicar a vacina, a primeira dose agora e a segunda dose com quantos dias, ministro?”.
“Doze semanas, senador”, respondeu. “Doze semanas. Está errado, ministro”, questionou ríspido o senador. E seguiu-se novamente confronto, com ambos gritando um com o outro.
“Não grite comigo”, bradou Otto, para baixar a bola de Queiroga, que se exaltou ao ter exposta a sua ignorância das bulas das vacinas.
M. V.