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O general Júlio César de Arruda foi exonerado pelo presidente Lula do cargo de comandante do Exército depois de discussões sobre as prisões dos terroristas em Brasília e de recusa em demitir o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro envolvido em um esquema de Caixa 2 no Palácio do Planalto. A resistência à demissão de Cid foi o estopim da exoneração do ex-comandante.
O general também se colocou contra a remoção de acampamentos dos golpistas em frente aos quartéis do Exército.
Júlio César de Arruda foi exonerado no sábado (21) e substituído pelo general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, antes comandante militar do Sudeste.
O portal Metrópoles revelou que a decisão, por parte do presidente Lula, de trocar o comando do Exército aconteceu depois de Júlio César de Arruda se recusar a cumprir a ordem de exonerar o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que deveria acontecer em função da denúncia de sua participação de um esquema corrupto.
Cid foi indicado pelo governo de Bolsonaro, no fechar das cortinas, para comandar o 1º Batalhão de Ações e Comandos (1º BAC), uma unidade responsável por operações especiais, estratégica, e que tem permissão para atuar em Brasília em situações de emergência.
A exoneração foi ordenada depois da denúncia, também feita pelo Metrópoles, de que Mauro Cid era parte de um esquema feito por Jair Bolsonaro para desviar recursos públicos dentro do Palácio do Planalto.
O ex-ajudante de ordens pagava as contas do clã Bolsonaro em dinheiro vivo ao mesmo tempo em que operava um “caixa paralelo”, que incluía recursos sacados dos cartões corporativos do Planalto, em agência do Banco do Brasil situada na sede do poder executivo.
Entre essas contas, constava a fatura de um cartão de crédito utilizado por Michelle Bolsonaro, mas emitido em nome de uma amiga da ex-primeira-dama.
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Apesar da denúncia e da ordem do presidente da República, Júlio César de Arruda tinha decidido que iria manter Cid no comando do 1º BAC. O Exército respondeu à imprensa, na quinta-feira (19), que a indicação de Mauro Cid, feita pelo governo Bolsonaro, ainda estava mantida.
Outro caso que estremeceu a relação de Lula com o general Júlio César Arruda esteve relacionado com os acampamentos golpistas em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília. O acampamento foi permitido pelo Exército até o dia 9 de janeiro.
Os bolsonaristas começaram a montar o acampamento depois do segundo turno das eleições por não reconhecerem a vitória de Lula, apesar da absoluta falta de indícios de fraude. Eles pediam que o Exército desse um golpe para manter Bolsonaro ilegalmente no poder.
O acampamento também serviu de ponto de reuniões para organização de atentados terroristas, como a tentativa de explodir um caminhão com combustível no Aeroporto de Brasília, em 24 de dezembro, e o ataque à sede dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, no dia 8 de janeiro.
SEM RESPALDO
O ex-comandante do Exército, Júlio César Arruda, convocou o Alto Comando e tentou uma reação à sua demissão, determinada por Lula após um caso de insubordinação, mas os demais generais não deram respaldo.
Segundo informa Merval Pereira em sua coluna em O Globo, no sábado (21), Arruda convocou uma reunião do Alto Comando do Exército para se queixar da sua saída.
O que ele ouviu dos outros generais foi que o ex-presidente Jair Bolsonaro já demitiu o ministro da Defesa e os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, de uma só vez, por seus motivos pessoais e golpistas.
O caso foi em março de 2021. Bolsonaro estava pressionando para tentar obter apoio das Forças Armadas em suas ameaças contra a democracia.
Por não endossarem o golpismo, o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, e os comandantes do Exército, Edson Pujol, da Marinha, Ilques Barbosa, e da Aeronáutica, Antônio Carlos Moretti, foram demitidos.
Já no caso de Júlio César Arruda, sua demissão foi motivada pela recusa a uma determinação do presidente da República que ordenou que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, não comandasse o 1º Batalhão de Ações e Comandos (1º BAC), de Goiânia.
MÚCIO
O ministro da Defesa, José Múcio, falou, em entrevista coletiva, que “as relações, principalmente no comando do Exército, sofreram uma fratura num nível de confiança e achávamos que precisávamos estancar isso logo de início para superar esse episódio”.
Múcio disse, ainda, que os comandantes das três Forças, Exército, Marinha e Aeronáutica, “estão cientes de que vamos tomar providências” contra os terroristas que atacaram Brasília.
Na noite de 8 de janeiro, depois que os bolsonaristas foram retirados pela polícia de dentro do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional, o interventor na Segurança Pública do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, foi junto com a Polícia Militar até o acampamento golpista para prender os envolvidos no atentado terrorista e desmontar a estrutura.
A PM, no entanto, foi impedida por militares de entrar na área do acampamento, que é, por lei, da responsabilidade da Força.
O ministro da Justiça, Flávio Dino, e os ministros da Defesa, José Múcio, e da Casa Civil, Rui Costa, se reuniram com o então comandante do Exército, o general Arruda, para discutir a prisão dos golpistas. O teor da reunião foi noticiado pela jornalista Marina Dias.
Segundo a reportagem, publicada no Washington Post, Arruda falou para Dino que “vocês não vão prender gente aqui [no acampamento]”.
No encontro, Arruda também disse que os ônibus que foram apreendidos pela PM-DF, por ordem de Dino e do interventor Cappelli, deveriam ser devolvidos.
Flávio Dino discutiu com o então comandante Arruda, firmando a posição de que os criminosos deveriam ser punidos e as provas de crime deveriam ser tratadas como tal.
Mais de 1.200 terroristas foram presos em flagrante. Na sexta-feira (20), o Supremo Tribunal Federal (STF) encerrou a análise das audiências de custódia e manteve na cadeia dois em cada três terroristas presos em flagrante.
De 1.406 pessoas, 942 tiveram sua prisão em flagrante convertida em prisão preventiva, sem prazo para encerrar.
Outros 464 criminosos foram liberados, mas terão que usar tornozeleira eletrônica, se apresentar periodicamente à Justiça, não podendo sair da comarca, e não poderão usar as redes sociais ou conversar com outros envolvidos.
Todos eles responderão por atos terroristas, associação criminosa, golpe de estado, abolição violenta do estado democrático de direito, ameaça, incitação ao crime e perseguição.
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