Estudo realizado por pesquisadores chilenos, americanos e chineses concluiu que com uma dose de reforço da CoronaVac, o imunizante desenvolvido na China pelo laboratório Sinovac e no Brasil, pelo Instituto Butantan, aumenta em mais de 12 vezes o nível de anticorpos no corpo de quem já havia tomado as duas doses do esquema vacinal há pelo menos cinco meses.
A pesquisa foi publicada na plataforma de pré-prints medRxiv e ainda passará por revisão de outros cientistas.
O estudo foi realizado no Chile e teve a participação de 129 voluntários que receberam a primeira dose da CoronaVac de janeiro a março de 2021, e a segunda, 28 dias após a primeira.
Os voluntários receberam a dose de reforço cinco meses após terem tomado a 1ª e 2ª doses.
De acordo com o estudo, a capacidade de neutralização de anticorpos foi avaliada em 77 pessoas. “Como os anticorpos neutralizantes se correlacionam com a proteção contra a infecção por SARS-CoV-2, esses resultados provavelmente implicam em um melhor resultado e proteção contra a doença”, dizem os pesquisadores.
Ainda de acordo com o estudo, o nível de anticorpos aumentou mais de 12 vezes em comparação com a resposta em cinco meses após a segunda dose.
Em pessoas adultas, entre 18 e 59 anos de idade, a capacidade de neutralização dos anticorpos circulantes atingiu seu máximo quatro semanas após a dose de reforço, aumentando mais de 18 vezes em comparação com os níveis registrados cinco meses após a segunda dose.
Já entre os maiores de 60 anos, que correspondiam a 53,2% dos voluntários da pesquisa, os cientistas perceberam que após a dose de reforço houve um aumento de mais de 9 vezes na capacidade neutralizante em relação à resposta observada cinco meses após a segunda dose.
O estudo apresenta resultados com um tamanho reduzido de amostras para o ensaio, mas é promissor o desempenho da CoronaVac. A partir deste resultado, é instigada a realização de análises mais abrangentes. Inclusive, usando a CoronaVac para o intercâmbio de vacinas na dose reforço.
Governo erra ao não utilizar a CoronaVac, critica Butantan
Na quarta-feira, o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse que o Ministério da Saúde não sinalizou interesse para adquirir novas doses do imunizante do Butantan. Segundo ele, a não inclusão da CoronaVac é um erro de estratégia vacinal do Ministério da Saúde.
O presidente do instituto afirmou ainda que o Butantan possui 15 milhões de vacinas disponíveis no momento. “Estive na semana passada com o secretário executivo do ministério [Rodrigo Otávio] ofertando mais vacinas porque nós temos um quantitativo de 15 milhões de doses disponível. Ele nos disse que no momento não, e que eventualmente ele reavaliaria essa posição ocorrendo a aprovação para crianças e adolescentes”, disse Dimas Covas.
A justificativa de que a CoronaVac não foi incluída na nova fase da campanha de vacinação do governo federal se baseia no princípio de intercambialidade de imunizantes – ou seja, quem recebeu a primeira e segunda dose de uma vacina com uma certa tecnologia, deve receber uma terceira dose de uma plataforma vacinal diferente a fim de potencializar a resposta imune do organismo contra o vírus SARS-CoV-2.
Dimas lembra que a maior parte da população acima de 60 anos foi vacinada com CoronaVac. No caso deles, para aproveitar a intercambialidade de vacinas, é preciso adotar, na dose de reforço, um imunizante que foca em combater a proteína Spike (usada pelo SARS-CoV-2 para infectar as células), caso da vacina de vetor viral com adenovírus ou de RNA mensageiro. Mas a situação da população de 18 a 60 anos, que recebeu majoritariamente as vacinas com base em proteína Spike, é diferente.
“Há muito pouco acréscimo, do ponto de vista de estímulo imunológico, em você simplesmente mudar o fabricante se o princípio vacinal é o mesmo. Existe a necessidade de usar um princípio vacinal que, além da proteína S, contenha também as outras proteínas do vírus. E a única vacina que contém isso é a CoronaVac”, explica Dimas.
A CoronaVac tem o diferencial de ser fabricada com a técnica de vírus inativado. Isso significa que ela possui todas as partes do SARS-CoV-2 em sua composição, enquanto a maioria das outras tecnologias de imunizantes utilizam somente uma parte da proteína Spike. Com isso, a CoronaVac é capaz de gerar uma resposta imune mais abrangente às mutações do vírus, inclusive se elas não estiverem relacionadas a essa proteína.