Pesquisa Reuters/Ipsos divulgada na quarta-feira (17) mostrou que a reprovação do desempenho de Trump aumentou para 57%, o maior índice de rejeição desde novembro passado, o que expressa o desgaste tanto da atuação do seu governo contra a pandemia quanto dos protestos contra o racismo e a brutalidade policial, insuflados desde a Casa Branca.
Apenas 38% aprovam o desempenho do presidente bilionário. A pesquisa foi realizada online em todos os estados entre 10 e 16 de junho, com 4.426 pessoas. O resultado tem uma margem de precisão de mais ou menos dois pontos percentuais.
A Reuters assinalou que “a própria base de apoio” de Trump “parece estar se corroendo”, o que considerou “um claro sinal de alerta” para a campanha pela reeleição.
A aprovação líquida dos republicanos de Trump caiu 13 pontos de março a junho, diminuindo todos os meses nesse período.
Ainda na análise da Reuters, a mudança de opinião vem quando os americanos são “assolados pela pandemia coronavírus, o colapso econômico que se seguiu e a irrupção da indignação e frustração” após numerosas mortes de cidadãos negros por policiais racistas, o que inclui a morte, sob custódia, em Minneapolis, de George Floyd.
A Reuters observa, ainda, que Trump “menosprezou a ameaça do coronavírus no início”, se engalfinhou com os governadores de estado que “tentavam diminuir sua propagação” e pressionou pela reabertura das empresas, “apesar dos avisos de especialistas em saúde sobre o aumento dos riscos de transmissão”.
Mais de 116 mil nos EUA morreram pelo vírus e mais de 2,1 milhões de pessoas foram infectadas, de longe o recorde mundial. Alguns Estados que reabriram, como Flórida, Arizona e Texas, estão vendo um salto nos novos casos de Covid-19.
Ao todo, 55% dos norte-americanos disseram desaprovar a gestão da crise sanitária por Trump, enquanto 40% aprovaram, o que é a menor aprovação líquida para o presidente sobre o assunto desde que a Reuters/Ipsos começou a acompanhar a questão no início de março.
Trump também tem sido criticado pela forma como reagiu aos protestos desencadeados pelo assassinato de Floyd. Embora quase dois terços dos entrevistados simpatizassem com os manifestantes, de acordo com a pesquisa, Trump flertou abertamente com a implantação dos militares para “dominá-los”, como registra a Reuters. No início deste mês, a polícia em Washington removeu à força manifestantes pacíficos para que Trump pudesse posar para fotos em frente a uma igreja perto da Casa Branca.
A Reuters assinala, também, que à medida que as empresas fecharam em todo o país por causa das quarentenas para conter o coronavírus, cada vez mais os norte-americanos têm voltado seu foco para a economia e desemprego em massa. A “força da economia” – na verdade, as ações nas alturas em Wall Street -, o grande argumento de Trump sobre seu primeiro mandato, desmilinguiu-se com a chegada do coronavírus
A pesquisa mostrou, também, que quanto à eleição de novembro o candidato presumido democrata Joe Biden abre vantagem de 13 pontos sobre Trump. 48% dos eleitores registrados disseram que apoiariam Biden, enquanto 35% disseram que apoiariam Trump.
A vantagem de Biden é a maior registrada pela pesquisa Reuters/Ipsos desde que os democratas abriram seu processo de escolha do candidato a presidente.
Uma pesquisa semelhante da CNN divulgada no dia 14 mostrou Biden com uma vantagem de 14 pontos sobre Trump entre os eleitores registrados, mas coincidiu com a da Reuters/Ipsos sobre a rejeição (57%) e a aprovação (38%).
A área em que Trump ainda se mantém à frente sobre Biden é quanto à economia. 43% disseram achar que Trump seria um melhor administrador da economia, contra 38% que endossaram Biden.
“SUPERCONTAGIADOR”
Em outra frente da campanha eleitoral, dois advogados de Tulsa entraram na justiça tentando barrar o comício de sábado (20) de Trump, que irá marcar a retomada da campanha de rua do presidente. O comício foi marcado para um local fechado com 19 mil lugares.
Trump teve de adiar em um dia o comício, diante dos protestos por querer realizá-lo no dia em que se comemora a libertação dos escravos, o 19 de junho, o “juneteenth”. Ofensa que se agrava pelo fato de ter ocorrido em Tulsa o maior massacre de negros da história dos EUA, em 1921, nos dias 31 de maio e 1º de junho.
O principal epidemiologista dos EUA, Anthony Fauci, que faz parte da comissão de enfrentamento da pandemia da Casa Branca, perguntado se iria ao comício de Tulsa, disse que estava em uma categoria de alto risco. “Pessoalmente, eu não faria isso. Claro que não”. Ele acrescentou que é preciso evitar aglomerações, acrescentando que, por questões de segurança, “fora é melhor do que dentro, nenhuma multidão é melhor do que a multidão”. E pediu encarecidamente a quem for, que use máscara.
Segundo Fauci, os EUA continuam nas garras da pandemia de coronavírus e não se pode falar em segunda onda, porque “nós não saímos da nossa primeira onda”.
Em certos Estados, “estamos vendo infecções em um grau maior do que se tinha visto anteriormente, “incluindo Estados no sudoeste e no sul”, destacou. A propósito, Oklahoma, onde fica Tulsa, é um deles.
“PRESIDENTE DA LEI E DA ORDEM”
Trump, o autodeclarado “presidente da lei e da ordem”, aproveitou na terça-feira (16) para lançar uma “ordem executiva” inócua sobre a reforma da polícia, que está em discussão depois de tantos assassinatos racistas e quase completa impunidade dos policiais perpetradores.
Na lei de Trump, os golpes de estrangulamento ficam abolidos, com exceção de caso o policial se sentir ameaçado. Definição que, somada à imunidade de que gozam os policiais e à cumplicidade nas investigações e no julgamento do uso da força excessiva -, implica em que, a menos de haja gente nas ruas indignada, dificilmente terá qualquer serventia.
A ordem executiva de Trump também prevê um cadastro nacional, para evitar que, como os departamentos de polícia são municipais (são 19 mil) e cada um tem regras próprias, um mau policial afastado em uma localidade simplesmente vá trabalhar em outra. Inclusive, segundo a mídia, o FBI já tem um cadastro desses, do qual estão fora 40% dos policiais. Pesquisas revelaram um grande apoio para as propostas democratas de reformulação da polícia, ainda insuficientes, mas um passo à frente.