Pior avaliação da história recente do país
Até 88% rejeitaram as suas declarações sobre
cocô, Nordeste e filhos
As últimas pesquisas de opinião são coerentes com o atual governo.
Na última, do Datafolha, realizada nos dias 29 e 30 de agosto, 38% dos entrevistados responderam que o consideram ruim ou péssimo – e 29% apenas o aprovam.
Ao sair do Palácio da Alvorada, disse Bolsonaro na segunda-feira: “Alguém acredita em Datafolha? Você acredita em Papai Noel?”.
A comparação do Datafolha com Papai Noel (aquele velho comunista que vive vestido de vermelho para influenciar as criancinhas) deve ter algum significado mais doente do que conseguimos perceber.
Pois, Bolsonaro está reagindo, com essa bobagem, ao fato de que aqueles que o rejeitavam eram 30% no início de abril, enquanto os que o aprovavam eram 32% segundo o Datafolha. Portanto, o percentual dos que o apoiavam era então maior do que o daqueles que o rejeitavam, segundo o Datafolha.
Mas isso ficou para trás. E a culpa não é de qualquer instituto de pesquisas. É dele mesmo.
Agora, a diferença entre os que aprovam o governo (29%) e os que desaprovam (38%) – nove percentuais ou +31% de desaprovação em relação à aprovação – é, não só crescente, mas é uma tendência, não é algo episódico.
Como dissemos, na mesma pesquisa, em abril, Bolsonaro tinha mais aprovação do que reprovação (32% contra 30%). Três meses depois, a rejeição (33%) empatara com a aprovação. Agora, a rejeição (38%) superou nitidamente a aprovação (29%).
Dissemos que existe, aqui, uma tendência. Por quê?
Não apenas porque ela existe já nesses resultados, mas porque ela tende a prosseguir pelo afundamento cada vez maior de Bolsonaro. Não é apenas uma avaliação política – aliás, algo óbvia. Há, na própria pesquisa do Datafolha, elementos para tirarmos essa conclusão.
Por exemplo, quais são os setores do governo que a maioria da população considera ruim ou péssimo no governo Bolsonaro?
Segundo a pesquisa, são os seguintes: Saúde, Educação, Economia, Meio Ambiente, Segurança Pública, Combate à corrupção, Habitação, Combate à fome e à miséria, Combate ao desemprego, Reforma Agrária, Transportes. (cf. Pesquisa Datafolha, pp. 94-95).
Reparemos que as áreas de Guedes e Moro estão entre as de pior avaliação.
Essa percepção corresponde inteiramente à realidade. Ou, talvez, o mais correto seja dizer que a rejeição tende a aumentar, mais e mais, na medida em que a população tome contato com o que é o governo Bolsonaro.
Outro exemplo: 62% responderam que Bolsonaro “fez pelo país menos do que esperavam”.
E apenas 15% responderam que Bolsonaro se comporta “como um presidente da República deveria se comportar”.
Por fim, somente 19% responderam que sempre confiam em Bolsonaro. Enquanto isso, 44% disseram que jamais confiam em qualquer declaração de Bolsonaro.
Esses dados ilustram a tendência da pesquisa – ou, melhor, a tendência da população, se considerarmos que os entrevistados pela pesquisa refletem, mais ou menos, os vários segmentos da população.
Resta saber a tendência de Bolsonaro.
Vejamos a resposta dos entrevistados pela pesquisa a algumas de suas declarações:
“É só você deixar de comer um pouquinho. Você fala para mim em poluição ambiental. É só você fazer cocô dia sim, dia não.”
88% responderam que discordam dessa brilhante declaração de Bolsonaro.
Apenas 10% concordaram (não há povo que não tenha a sua cota de mentecaptos. Porém, mesmo esta não é fixa. Pode diminuir, com a continuação da performance bolsonariana).
“Você olha que as pessoas que têm mais cultura, têm menos filhos. Eu sou uma exceção à regra, tenho cinco. Mas como regra é isso.”
63% declararam que discordam. Houve 33% de concordantes.
“Daqueles governadores de… ‘paraíba’, o pior é o do Maranhão. Não tem que ter nada com esse cara.”
69% de discordância. 22% concordaram.
Sobre a declaração de Bolsonaro a respeito de seus motivos para tentar aboletar seu filho na embaixada em Washington:
“Lógico que é filho meu. Pretendo beneficiar um filho meu, sim. Pretendo, está certo. Se puder dar um filé mignon ao meu filho, eu dou. Mas não tem nada a ver com filé mignon essa história aí.”
70% discordaram dessa declaração de amor à coisa pública. 27% concordaram, provavelmente, por amor ao filé mignon.
A tendência de Bolsonaro, portanto, é a de se chocar, cada vez mais, não apenas com a população ou com os interesses do país, mas também com qualquer acúmulo ou conquista civilizada dos brasileiros.
Na pesquisa do Datafolha é notável a queda de Bolsonaro entre os que têm maior renda – exatamente o segmento em que tinha mais apoio.
Entre aqueles de renda superior a 10 salários mínimos, o apoio a Bolsonaro caiu de 52% para 37% – ou seja, ele perdeu a maioria até entre aqueles que mais o apoiavam.
C.L.