No Meia Noite em Pequim especial, da TV Grabois, o pesquisador e economista Elias Jabbour aborda a recente reunião do Comitê Central do Partido Comunista da China, que aprovou uma resolução histórica de avaliação dos 100 anos de existência do partido e alçou o secretário-geral do partido e presidente chinês, Xi Jinping, à estatura de Mao Tse Tung – o patriarca da República Popular da China e líder que inovou a teoria revolucionária com o cerco das cidades pelo campo -, e de Deng Xiaoping – o formulador da reforma e abertura -, que são as bases da China atual, com seu peso soberano, econômico, político e moral.
No ano que vem, como acontece de cinco em cinco anos, haverá um Congresso do PCCh, o 20º Congresso, e a resolução será discutida de cima abaixo no país inteiro. A mídia ocidental tentou apresentar a decisão como um ato que “abre as portas para a perpetuação no poder” e buscou colar na testa de Xi Jinping a pecha de ‘ditador’.
O que – para Jabbour – está no terreno da negação e demonização da política, cujos malefícios são atualmente bastante evidentes no mundo inteiro e no Brasil.
E, indo mais longe, uma apostasia em relação a Maquiavel, cujo livro O Príncipe, escrito por volta de 1500, alçou a política ao grau de ciência. Assim como Lenin, depois, alçou à ciência o movimento dos partidos dos trabalhadores, dos partidos comunistas.
É real que houve certo rompimento com a norma que existe desde Deng Xiaoping – o limite de dois mandatos para secretário-geral e presidente do país -, ao dar chance a um terceiro mandato para Xi Jinping. Para o pesquisador, o que explica a decisão é que a China está numa situação muito especial, e situações especiais demandam soluções políticas especiais.
Xi – enfatiza Jabbour – encerra na figura dele “o que eu costumo chamar de universal no particular”, isto é, aquela figura histórica que condensa em determinada época histórica o espírito do tempo.
Outro motivo que dá um caráter histórico a essa reunião do comitê central é que ela se inspira em dois balanços anteriores feitos pelo PCCh. O primeiro, em 1945, quatro anos antes da vitória sobre o Kuomitang na guerra civil, avaliando 24-25 anos de existência do partido, erros e acertos, e que lança o programa da nova democracia, dos primeiros passos para a construção do socialismo na China.
O segundo balanço que marca época é de 1981, dos 60 anos de existência do PCCh e do legado de Mao para a China. Em que se concluiu que Mao acertou 70% e errou 30%, foi um grande estadista que elevou a China à condição de poder levar adiante o ambicioso programa de reformas de Deng Xiaoping.
Os chineses – observa Jabbour – não fizeram com Mao o que os soviéticos fizeram com Stalin – ainda que Mao tenha períodos bastante problemáticos, como o Grande Salto à Frente e a Revolução Cultural.
De forma semelhante, a reunião de agora fez um balanço dos 100 anos de existência do partido e como alcançar o objetivo do centenário da fundação da RPC, de nação socialista, moderna, próspera, democrática e avançada.
A reunião detectou que existe uma mudança no ambiente internacional, como explicitado pela guerra comercial, tecnológica e semiótica contra a China dos últimos anos. A China apresentou aos demais povos o conceito de um ‘mundo de prosperidade compartilhada’, que é o oposto da globalização neoliberal.
Ao mesmo tempo em que a China alcançou feitos extraordinários, também acumulou uma série de contradições e foi nesse quadro que Xi Jinping assumiu em 2012. Com o partido altamente questionado pela população – como lembrou Jabbour –, com certo grau de desgaste, corrupção muito grande, desigualdade grassando, programas que caminhavam muito lentamente, por exemplo, a eliminação da pobreza extrema.
Xi Jinping parte para o enfrentamento dessas questões concretas, ou seja, a reconstrução do partido, como expresso no termo ‘revitalização’ e ‘auto-melhora’. O PCCh hoje é muito diferente do partido que existia em 2012, com um reforço muito grande nas bases, comitês de bairro, de vilas.
Desde 2012, existe, como os chineses chamam, “uma nova era”, surge um pensamento científico, que municia o partido para enfrentar as contradições acumuladas nos últimos anos.
Xi coloca o objetivo centenário da sociedade moderadamente próspera, em que as pessoas tivessem o mínimo de dignidade, e acelera o processo de combate à pobreza, programa mobilizou muito a sociedade chinesa nos últimos anos.
Há uma volta à chamada ‘linha de massas’. Isso fica muito claro na forma como o partido, a militância, respondeu à pandemia, com a mobilização de milhões de voluntários. Quanto à virada no ambiente internacional, Xi deixa claro que a China nunca mais será pisada.