A Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro comunicou que a aplicação da segunda dose da vacina CoronaVac contra a Covid-19 para crianças de 3 e 4 anos será paralisada assim que as doses disponíveis acabarem.
O comunicado, divulgado nesta quinta-feira (10), informa que a medida pode ocorrer nas próximas horas, uma vez que a quantidade de doses disponíveis do imunizante é mínima. Já a aplicação da primeira dose, está suspensa desde o último dia 26.
Em Niterói, a vacinação das crianças dessa faixa etária já está suspensa porque as doses de CoronaVac estão zeradas e o município fluminense não teve o estoque reabastecido pelo
Apesar de reiterados pedidos ao Ministério da Saúde, não há previsão de quando novas remessas da vacina serão enviados pelo Governo Federal para retomar a vacinação dessa faixa etária, diz o comunicado da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.
O órgão acrescenta que a aplicação da primeira dose nesse grupo está suspensa desde 26 de outubro, mas a segunda dose continuava disponível por conta da reserva técnica garantida pela SMS. Porém, esse estoque também se esgotou diante falta de novos repasses de vacinas.
“A cobertura vacinal desse grupo está em 29% para a D1 e apenas 13% para D2. A SMS reforça a importância da vacinação para prevenir quadros graves de Covid-19, e o uso de máscaras caso as pessoas apresentem sintomas gripais”, orienta a secretaria.
“Desde o início a gente recebeu uma quantidade de doses para essa faixa etária muito pequena, há mais de três meses a secretaria oficia o Ministério da Saúde, para que a gente pudesse receber mais doses e ajustar essa distribuição”, disse o secretário de Saúde, Daniel Soranz”, por ocasião da interrupção da vacinação em outubro. “Mas infelizmente isso não aconteceu”, lamenta Soranz.
À época, o Ministério da saúde disse que estava em negociação com o Instituto Butantan para aquisição de mais doses para o público de 3 a 4 anos. “A aquisição de novas doses leva em conta o ritmo de vacinação deste público e o avanço do número de doses aplicadas, que atualmente está em cerca de 40%”, disse o órgão, em nota.
No entanto, em contato com o Instituto Butantan nesta sexta-feira (11), a assessoria de imprensa da instituição informou à Hora do Povo que tão logo o Butantan recebe o pedido de uma remessa, o envio ocorre “de imediato”.
Na quarta-feira (9), foi publicado no Diário Oficial da União (DOU), a aprovação para a compra de novas doses do imunizante CoronaVac, produzido pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac.
“O anúncio foi publicado na quarta (9) no Diário Oficial da União e o caminhão com o novo carregamento de vacinas deixou a sede do Butantan na quinta (10), com destino ao Centro de Distribuição do Ministério da Saúde, em Guarulhos”, diz o Butantan em nota.
“A nova remessa de 1 milhão de doses é o segundo aditivo ao contrato para o fornecimento de 10 milhões de doses, firmado entre o Butantan e o Programa Nacional de Imunizações (PNI) no início de janeiro”, prossegue o texto.
“Um primeiro aditivo de 1 milhão de doses já havia sido encaminhado em setembro. A estimativa é que são necessárias cerca de 12 milhões de doses para vacinar todas as 6 milhões de crianças brasileiras de 3 a 5 anos com as duas doses do imunizante”, informa o Butantan.
Apesar dessa estimativa, a assessoria de imprensa do Instituto Butantan disse que não há tratativas, até o momento, entre o governo federal e o instituto para encomenda de novas doses da vacina CoronaVac.
“O envio da nova carga de doses ao Ministério da Saúde ocorre em meio a uma nova onda de aumento de casos de Covid-19, que pode estar relacionada à chegada da variante BQ.1 do vírus SARS-CoV-2”, alerta o Butantan.
SITUAÇÃO GENERALIZADA
Conforme informou o HP, a prefeitura de Recife anunciou na segunda-feira (7), a suspensão da vacinação das crianças de 3 e 4 anos de idade, por falta de doses da CoronaVac. A vacina, a única aprovada até agora para a faixa etária, está em falta ou zerando os estoques em diversos municípios de Pernambuco.
Em Mato Grosso e Sergipe, os estoques da Coronavac para crianças só vão durar até o início da próxima semana. A paraíba tem mil doses da vacina, para atender a 114 mil crianças.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou em 16 de setembro um imunizante da Pfizer que poderia atender crianças entre 6 meses e 2 anos e 11 meses de idade, mas agora o grupo etário não foi incluído na cobertura vacinal. A farmacêutica já entregou 1 milhão de doses ao governo.
Porém, o Ministério da Saúde limitou a vacinação desse público apenas para casos de pessoas com comorbidades. E mesmo para elas ainda não foi fixado um cronograma. Especialistas criticam a demora do governo em imunizar as crianças.
“Já são quase dois meses desde que a Anvisa aprovou a vacina e nem mesmo as crianças com comorbidades receberam a vacina no braço. E há que se pensar nos casos de covid longa em que a gente sabe que a vacina tem eficácia para diminuir o desenvolvimento”, afirma a epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), à BBC News Brasil.
“A situação é ruim e o atraso do ministério, irresponsável. Não há justificativa para essa delimitação”, completa a médica.
“A falta de planejamento na proteção de crianças com políticas públicas é sistemática no país desde o início da pandemia. As políticas governamentais negam proteção e estão aumentando a hesitação vacinal e resultando em altas taxas de hospitalização e mortalidade”. A avaliação é da professora Luciana Santana, do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em artigo que trata de políticas públicas para crianças, do qual é coautora. O texto foi publicado em agosto.
Ela destaca que, no dia 13 de julho, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso emergencial da vacina CoronaVac para proteger o público infantil de 3 a 5 anos, mas diz que a falta de uma atuação coordenada pelo Ministério da Saúde tem dificultado o avanço da vacinação.
“No trabalho publicado, argumentamos a falta de protagonismo por parte do Ministério da Saúde em elaborar um plano para garantir doses necessárias à proteção das 8,3 milhões de crianças nessa faixa etária”, destacou a professora. “Os dados mostram a diminuição das taxas de mortalidade por hospitalização quando a cobertura vacinal aumenta nessas faixas etárias”, observa a pesquisadora.
A pesquisadora destaca que outros países que fazem uso da CoronaVac em crianças de 3 a 5 anos já estão administrando um reforço. “Estimamos um déficit de 15 milhões de doses no momento da aprovação, uma vez que o Ministério da Saúde do Brasil comprou 117 milhões de doses de CoronaVac e quase 110 milhões foram administradas até 13 de julho”, afirmou.
Apuração da Folha de São Paulo, com base em dados oficiais, revela que apenas 1 em cada 10 crianças de 3 e 4 anos no Brasil recebeu a primeira dose contra Covid em três meses de campanha vacinal. Isso indica que, 13,9% das crianças dessa faixa etária já iniciaram o esquema vacinal. Já a vacinação completa (com duas doses) foi aplicada em apenas 4,2% das crianças dessa idade no país, informa o jornal.
Em 2022, pelo menos 900 crianças e adolescentes morreram em decorrência da Covid-19 no Brasil. Segundo o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, de 16 a 22 de outubro, 132 pessoas de zero a 19 anos faleceram em decorrência de Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) associada à Covid-19, e 776 meninos e meninas da mesma faixa etária morreram em consequência de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), também associada à doença.