Uma nova operação das equipes das polícias Militar e Civil no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio, na manhã desta quinta-feira (21) foi transformada em tragédia. Segundo a PM, foram confirmadas 17 mortes de moradores da comunidade e de um policial que participava da ação.
Letícia Marinho Salles, de 50 anos, é uma das vítimas da ação. Ela foi atingida na manhã desta quinta-feira e chegou a dar entrada numa unidade de saúde, mas não resistiu aos ferimentos.
A ouvidoria da Defensoria Pública e a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil denunciaram a operação ilegal das polícias, que ignora a determinação do STF de aviso prévio ao Ministério Público e autorização judicial para este tipo de ação nas comunidades cariocas.
A ação tinha como alvo uma quadrilha de roubo de veículos. Durante a coletiva, o subsecretário operacional da Polícia Civil, Ronaldo Oliveira disse que preferia que “eles não tivessem reagido e a gente ter prendido os 15 ou 14, mas infelizmente eles escolheram atingir os policiais”.
Moradores do Complexo relatam um cenário de guerra em meio a operação, com “rajadas de tiros” e moradores sendo acordados pelo barulho das balas. “Já estamos no local mais seguro de nossa casa, já vai para quase 1 hora. Os tiros ecoam em nossos ouvidos. É desesperador demais. A nossa realidade não é perfeita igual muita gente pinta”, desabafou Renata Trajano.
“Meu barraco treme a cada rasante desse helicóptero, isso não é normal, banalização das nossas vidas não é normal”, completou a co-fundadora do Coletivo Papo Reto.
“Muitas rajadas de tiros nesse momento. O cenário é de guerra. Tiroteio intenso nessa manhã aqui no Complexo do Alemão”, relatou Rene Silva, fundador do Voz da Comunidade.
“Eu acabei de acordar com um tiro de fuzil entrando pelo teto da minha casa e acertando a barriga do meu marido, por causa da operação que está acontecendo no Alemão. E detalhe, eu moro a QUILÔMETROS DO ALEMÃO”, publicou Jully Azevedo, detalhando que o companheiro foi atingido de raspão após o disparo ser amortecido primeiro por uma parede.
“Não tem como nem entrar nem sair da comunidade. É muito tiro, muito tiro mesmo. Muita rajada. Mais cedo, também teve granada. Tá muito complicado”, descreveu um deles. “Essa guerra não é nossa. Minha mãe está com a casa toda furada de tiro e presa lá dentro sem poder sair. Nós do Complexo do Alemão só queremos paz”, disse outra moradora.
A PM confirmou que 400 agentes participam da operação no Alemão, com o auxílio de quatro helicópteros e dez veículos blindados. Na comunidade da Fazendinha, a base da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) “está sendo atacada por criminosos, que também derramaram óleo em via pública e atearam fogo em objetos”, segundo a corporação.
Além da presença no Alemão, policiais militares do 3ºBPM (Méier), do 41ºBPM (Irajá) e de outros batalhões do 2º Comando de Policiamento de Área estão nas comunidades de Juramento e Juramentinho.
Lideranças políticas denunciaram a ação da polícia e criticaram a atuação do governo Claudio Castro. Para o deputado federal e candidato ao governo do Rio, Marcelo Freixo, as operações policiais devem ser “planejadas e com a polícia bem treinada para combater o crime”.