Desrespeitando orientações dos médicos, que garantem que a pandemia só será vencida com a vacinação em massa, Russomanno diz que, se depender dele, só se vacina quem quiser
O candidato Celso Russomanno (Republicanos), desde que anunciou que teria a família Bolsonaro como cabo eleitoral na cidade de São Paulo, começou a cair nas pesquisas eleitorais e deu mais um passo nessa direção ao se juntar ao boicote do presidente da República à luta contra a Covid-19.
Assim como Bolsonaro, Russomanno disse que a vacina contra o coronavírus, esperada ansiosamente pela população do mundo todo, não deve ser para todos.
Desrespeitando as orientações dos médicos e especialistas, que garantem que a pandemia só será vencida definitivamente com a vacinação em massa, Russomanno diz que, se depender dele, só deverá ser vacinado quem quiser.
“Os nossos empregos foram embora, nós somos obrigados a uma série de coisas, agora querem obrigar a tomar vacina?”, questionou Russomanno. Não só os empregos foram embora, mas também 150 mil brasileiros morreram por conta da Covid-19, uma tragédia em curto espaço de tempo cuja única saída se encontra exatamente na vacinação. Tentar fechar esta porta é obrigar o país a perder mais vidas e mais empregos. Uma atitude criminosa que vai sair caro a quem embarcar nessa canoa.
“Eu sou um legalista, nós temos leis, e nós vamos cumprir as leis. A gente não pode inventar”, continuou. Por falar em inventar, a orquestração anti-vacina das milícias bolsonaristas na internet está convocando um ato contra a vacina para o dia 1º de novembro.
A última pesquisa do Datafolha, divulgada no dia 8 de outubro, sobre a influência do presidente da República na eleição de São Paulo, mostrou que 63% dos entrevistados disseram que não votariam de jeito nenhum num candidato apoiado por Bolsonaro.
Tudo indica que qualquer apoio seu em São Paulo é um tremendo abraço de afogado.
Nas intenções de voto para prefeito, ele [Russomanno], que liderava, vem em queda e já está em empate técnico com Bruno Covas (PSDB).
Na pesquisa RealTime Big Data, divulgada nesta segunda-feira (19), o candidato do Republicanos está com 25% e Covas vem avançando e já aparece com 24% da intenções de voto.
O embaraço de Russomanno na entrevista aumentou quando uma das repórteres perguntou a ele sobre os depósitos de R$ 89 mil de Fabrício Queiroz para a primeira-dama Michelle Bolsonaro e sobre outro vice-líder do governo, o senador Chico Rodrigues, preso com R$ 33 mil na cueca.
Ele tentou se esquivar e enrolou para não responder. Mas, sendo cobrado novamente sobre esses episódios, acabou dizendo que “ser amigo não é crime”. “Não se pode imputar crime a alguém por ser amigo”, justificou.
Ele repetiu a conversa de que conseguirá diminuir a dívida do município com a União por ser amigo de Bolsonaro. Como se a gestão das finanças públicas fosse uma simples ação entre amigos.
Sua demagogia já tinha sido desmascarada durante o debate da Band, por Orlando Silva, candidato do PCdoB. Orlando disse que ele tinha que parar de mentir porque “o Russomanno sabe que não é o presidente que decide esses assuntos, que é o Senado”. “Isso não é dinheiro de rachadinha, não é dinheiro do Queiroz”, alertou Orlando na ocasião.
Mas, ele insistiu na mentira durante a sabatina desta segunda-feira (19) no Estadão. “Eu posso dar alguns dados: a dívida está em R$ 57 bilhões; em 2030 ela vai ser em torno de R$ 200 bilhões. Ela tem de ser negociada, como o Rio de Janeiro já fez”, disse o candidato. “Ninguém melhor do que o governo federal para me dar apoio e transformar essa dívida num subsídio”, afirmou.
O número de Russomano é mentiroso. Segundo dados do Tesouro Nacional, até o fim de 2019, a dívida da Prefeitura de São Paulo com o governo federal totaliza R$ 26 bilhões.
O candidato foi obrigado a falar também sobre os 18 processos na Justiça que sua filha e seu genro respondem, por uma prática descrita como “esquema da pirâmide”. O caso foi revelado pelo Estadão no mês passado. Russomanno que se diz defensor dos direitos do consumidor, justificou o golpe dizendo que seu genro passou por problemas financeiros e que deve devolver o dinheiro.
“Isso não tem nada a ver comigo, nunca autorizei ninguém a usar meu nome, nem o meu genro. Ninguém nunca foi autorizado”, disse ele. “Não se trata de uma pirâmide. (Em uma) pirâmide, você tem de ter várias pessoas ‘embaixo’ para aumentar o investimento, conheço bastante isso. Se trata de contratos de mútuo, e o meu genro diz que vai vender os imóveis que tem, vai acertar com as pessoas que tem de acertar e, para mim, isso é ponto resolvido”, explicou o candidato.