O governo de São Paulo considera que o cenário ideal de aplicação da dose de reforço contra a covid-19, a chamada terceira dose, deve ser feito com um imunizante diferente das duas primeiras, mas qualquer uma das vacinas disponíveis e liberadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) são eficientes para alavancar a imunidade.
Essa analise foi feita pelo secretário de Saúde do estado, Jean Gorinchteyn, em entrevista à CNN. Ele reforçou que “temos que nos valer de todo e qualquer imunizante”.
A CoronaVac, produzida em São Paulo pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, foi retirada do plano de dose de reforço pelo Ministério da Saúde. O governo paulista afirma que a decisão do governo Bolsonaro não possui critério técnico.
A decisão que diminui a oferta de doses disponíveis para aplicar o reforço é rechaçada pelo governo de São Paulo como mais um boicote impetrado por Bolsonaro a João Doria, seu desafeto político e ao Instituto Butantan, produtor da vacina em parceria com o laboratório chinês, Sinovac.
Jean Gorinchteyn ressalta que estudos realizados na China mostram que a terceira dose da CoronaVac consegue elevar a produção de anticorpos em até 77%. “Portanto, é uma vacina boa e que deve estar inserida nessa vacinação. Por isso, o governo de São Paulo fará dessa maneira”, disse.
“Se eu tomei vacina da Pfizer ou AstraZeneca, posso receber outras doses? Essa intercambialidade ocorrerá”, defendeu o secretário. Ou seja, essas pessoas podem receber como reforço, a CoronaVac.
“O que precisamos é fazer imunização de forma ágil para proteger essas pessoas, principalmente porque já temos no nosso território a variante delta”, ressaltou.
“Se tivéssemos muito mais vacinas, e a segurança de ter mais vacinas, talvez a gente fizesse uma intercambialidade para todos os esquemas vacinais, não só de CoronaVac, AstraZeneca, Pfizer. Mas nós temos hoje um repositório de vacinas ainda limitado”, criticou o secretário.
Jean Gorinchteyn, afirmou ainda que a decisão do Ministério da Saúde de não incluir a CoronaVac no rol de vacinas para aplicação da 3ª dose foi “inadvertida”.
“Quando nós falamos da CoronaVac, que também de uma forma inadvertida não foi associada pelo Ministério para a 3ª dose, nós temos que entender que a estrutura dessa vacina é bem interessante porque ela coloca vários fragmentos do coronavírus e isso estimula o sistema imunológico”.
O governo de São Paulo já cobrou do Ministério da Saúde pela inclusão da CoronaVac no plano federal de administração da terceira dose. O planejamento da pasta inicia o novo ciclo de vacinação a partir de 15 de setembro.
“Estamos oficiando o Ministério da Saúde, para que a CoronaVac seja também inserida nessa plataforma de imunização com a terceira dose. Não é correto, não é justo, não é ético que tenhamos os dispositivos de vacina e esses dispositivos não sejam utilizados na sua plenitude”, disse Gorinchteyn, na quarta-feira (1º), em coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes.
Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan afirmou, na mesma coletiva que do ponto de vista técnico e científico a terceira dose com a CoronaVac aumenta a resposta imune, mas que “do outro lado”, do governo Bolsonaro, o posicionamento é político.
Faixa etária para iniciar o reforço
Em São Paulo, a partir de do próximo dia 6, segunda-feira, os idosos com 60 anos ou mais que completaram a vacinação há mais de 6 meses poderão receber a dose de reforço.
A idade estabelecida por São Paulo é outro ponto de divergência com o governo federal, já que o Ministério da Saúde estabeleceu a aplicação da dose adicional para pessoas com mais de 70 anos.
“Temos responsabilidade em prevenir formas graves e mortes. Por isso, São Paulo entende que idoso é todo aquele acima de 60 anos e, para que haja controle da pandemia, exatamente os vetores de transmissão, que são os jovens que saem, também têm que ser protegidos e imunizados”, afirmou Gorinchteyn.
Entrega de doses
Na manhã desta sexta-feira (3), o Instituto Butantan liberou mais 2 milhões de doses da CoronaVac ao Programa Nacional de Imunizações (PNI). Com o novo lote, o Instituto atinge a marca de 94,8 milhões de vacinas entregues ao Ministério da Saúde. A previsão do instituto é a de concluir a entrega das 100 milhões de doses até o dia 15 de setembro.
O prazo final para a entrega de todas as doses é 30 de setembro, mas o instituto tinha sustentado, até a semana passada, a promessa de que a entrega seria concluída no dia 31 de agosto.
Porém, em coletiva de imprensa na última segunda-feira (30), Dimas Covas, informou a mudança de planos e disse que a conclusão da entrega seria adiada também pela retirada do imunizante das opções disponíveis para a dose de reforço.
“Nós estamos reprogramando as entregas em virtude de dois fatos. O primeiro fato foi a própria manifestação do Ministério [da Saúde], que excluiu a vacina como sendo a vacina para a terceira dose. Então, isso muda um pouco a programação. Nós estamos reprogramando porque nós temos outros contratos a serem atendidos, outros estados, outros países, então nós estamos reprogramando, não vamos realizar as entregas das 54 milhões”, disse Dimas Covas no início da semana