O país passa por uma temporada de chuvas intensas, que geram um alerta para a população. Estados como Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Santa Catarina, Bahia, Goiás e parte do Mato Grosso e do Tocantins estão sendo atingidos por temporais que já causaram desastres. A situação gera maior alerta devido à falta de investimento a para prevenção a enchentes e desmoronamentos pelo governo Bolsonaro.
No Rio de Janeiro, o Centro de Operações Rio (COR) informou, por meio do Sistema Alerta Rio, que o Rio de Janeiro tem previsão de tempo instável até a próxima sexta-feira (23) com chuvas persistentes.
O período crítico começou na última segunda-feira (19), com intensificação deste cenário durante a madrugada de terça-feira (20). A previsão é de chuva contínua ao longo do dia. Por conta das chuvas, voos foram cancelados.
Além da chuva, há previsão da ocorrência de ventos fortes, com velocidade de até 76 km/h durante a semana. De acordo com o Alerta Rio, a instabilidade desta semana ocorre devido à formação e à atuação de um fenômeno típico do verão, conhecido como Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), que potencializa as nuvens já carregadas de chuvas.
A Prefeitura de Rio das Ostras (RJ) declarou situação de emergência após as fortes chuvas desta semana. Nas redes sociais, moradores compartilham a situação da cidade que se encontra com ruas alagadas e carros ilhados.
De acordo com a Defesa Civil, o índice de chuva atingiu 158 milímetros nas últimas 24 horas e há possibilidade de transbordamento do Rio Jundiá, no entorno da Praia Âncora e Village Rio das Ostras.
SANTA CATARINA
A cidade de Balneário Camboriú, litoral de Santa Catarina, ficou com várias regiões debaixo d’água após as fortes chuvas que atingiram o Estado nos últimos dias.
Segundo o boletim divulgado pelo governo estadual, 10 municípios registraram ocorrências por conta dos temporais e três estão em estado de emergência.
As cidades em estado de emergência são: Balneário Camboriú, Barra do Sul e Navegantes. As que tiveram registros de ocorrência foram: Balneário Piçarras, Ilhota, Itapema, Jaraguá do Sul, Luiz Alves, Penha, Pomerode, Porto Belo, São José do Cerrito e Tigrinhos.
Segundo a Defesa Civil, Santa Catarina tem 43 pessoas desabrigadas, 33 em Balneário Camboriú e 10 em Barra Velha, e mais 22 desalojados, sendo 20 em Camboriú e dois em Barra Velha.
Em Balneário Piçarras, os temporais causaram danos nos sistemas de abastecimento. A captação e a estação de tratamento de água da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) estão alagadas, com redução do fornecimento nos bairros de Morretes e Nossa Senhora da Conceição.
ESPÍRITO SANTO
A Defesa Civil do Espírito Santo fez um alerta para as condições meteorológicas do estado para esta quarta-feira e destacou o aviso do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) reportando risco de chuva intensa para todo o estado, em nível de perigo.
No mesmo boletim divulgou a previsão do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) de “nível atenção devido às condições meteorológicas favoráveis para ocorrência de acumulados significativos de chuva pelo Estado”, que valem até o próximo sábado (24).
Os maiores acumulados de chuva nas últimas 24 horas entre os municípios que possuem estação meteorológica do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) foram registrados em Cachoeiro de Itapemirim (71,67 mm), seguido de Presidente Kennedy (55 mm) e Ecoporanga (50,95 mm).
São Mateus e Nova Venécia estão em risco alto de movimento de massa, o que inclui deslizamentos. O estado registra 1.274 desalojados e 228 desabrigados. A maior parte está no município de São Mateus com 1.245 desalojados e 194 desabrigados.
Ainda, a BR 101, no Norte do Espírito Santo, foi totalmente interditada. Há pontos de bloqueio no km 71, 5, em São Mateus, onde uma cratera se abriu, e no km 162, em Linhares, devido a um alagamento na pista.
BLOQUEIOS
As chuvas que atingem o Sul e o Sudeste já provocaram a interdição de diversas rodovias. Além do alto risco de deslizamentos em regiões de Minas Gerais e Espírito Santo. Também é alta a possibilidade de enxurradas, inundações e alagamentos nos dois estados, como o Rio de Janeiro e Santa Catarina.
Em São Paulo, a rodovia Rio-Santos (BR-101) está totalmente bloqueada no trecho entre o km 35, próximo à praia de Itamambuca, em Ubatuba, e o km 591, na região de Patrimônio, em Paraty (RJ), nos dois sentidos.
De acordo com a concessionária CCR RioSP, a interdição ocorre devido ao risco de deslizamentos de terra no local, atingido por fortes chuvas desde o início da semana. A empresa diz ainda que a medida é temporária e que uma nova avaliação deve ser feita nesta quinta (22), para análise da possibilidade de liberação da via.
No Paraná, as duas principais rodovias que ligam o estado a Santa Catarina estão parcialmente interditadas por causa de deslizamentos de terra. Uma delas, a BR-376, chegou a ficar totalmente bloqueada na última terça (21) e pode voltar a ter o tráfego interrompido a qualquer momento. A estrada segue com bloqueio parcial.
TRAGÉDIA BOLSONARISTA
Mesmo com o ano de 2022 sendo marcado por grandes tragédias após fortes chuvas e também por apelos por obras de gestores públicos e especialistas, diante do cenário de 457 mortes somente nos cinco primeiros meses deste ano, 2023 terá o menor orçamento federal para obras de encostas e de prevenção de sua história: a previsão é 95% menor.
O valor previsto ano a ano para a rubrica de “Apoio a Execução de Projetos e Obras de Contenção de Encostas em Áreas Urbanas”. A verba proposta pelo Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) para o próximo ano é de apenas R$ 2,7 milhões, a menor para esse tipo de obra desde a criação da rubrica, em 2012.
Os dados foram divulgados pelo portal UOL com base no sistema Siga, do Senado Federal, que tem como base o Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi). No caso de 2023, o valor proposto consta no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) do MDR, enviado ao Congresso.
Em 2012, ano em que mais se colocaram recursos para apoiar obras, o valor autorizado de gastos foi de R$ 997 milhões (corrigidos para junho de 2022 pelo IPCA, considerada a inflação oficial).
Para 2022, o governo colocou R$ 53,9 milhões no orçamento com essa mesma rubrica, o que representa um corte de 94,9%. Desse total, somente R$ 37 milhões foram empenhados.
Somente até maio deste ano, 457 pessoas morreram em enxurradas, deslizamentos e outros desastres decorrentes das chuvas no país, o que representa 26% do total registrado nos últimos dez anos, segundo dados da Confederação Nacional de Municípios (CNM).
Entre 2013 e maio de 2022, foram 1.756 mortes. As duas maiores tragédias causaram grande comoção até fora do país: em fevereiro, Petrópolis (RJ) teve um saldo de 233 mortes por conta de deslizamentos. Em maio, as chuvas levaram a deslizamentos de barreiras no Grande Recife e deixaram ao menos 100 mortos.
No caso do Recife, o Tribunal de Contas da União (TCU) alertou o governo federal, em 2020, que o atraso no repasse de verbas ao projeto de contenção de encostas deixaria milhares de pessoas vivendo em áreas de alto risco. Naquela época, as obras já se arrastavam havia oito anos. O cronograma dos trabalhos havia sido estipulado em 2012, mas não houve repasses regulares.
Para José Guilherme Schutzer, consultor da diretoria de Trabalho Técnico Social e Ambiental da Diagonal, uma empresa de consultoria de gestão socioambiental, o país tem se acostumado a assistir tragédias pelas chuvas sem uma reação à altura.
“No clima brasileiro, especialmente na região da costa, sabemos que vão vir as grandes tempestades. E elas são cada vez mais comuns: se antes eram mais espaçadas, agora estão mais concentradas. Essa torrencialidade causa efeitos danosos”, diz ele, que é professor de urbanismo e desenho da paisagem da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade de São Paulo (USP).
“A gente só não sabe dizer onde e quando, mas sabe que as tempestades vão ocorrer. É um pouco de tragédia anunciada que a gente vem vivendo.”, disse Guilherme Schutzer.