Logo após sua vitória (36,8% contra 30% de Milei) no primeiro turno das eleições presidenciais argentinas, Massa abriu diálogo com os radicais e outras forças políticas democráticas e se dispôs a formar um “governo de unidade nacional”, em campanha para vencer Milei no segundo turno
O candidato à Presidência da Argentina, Sérgio Massa, está dialogando com setores que não votaram ou apoiaram outros candidatos no primeiro turno em busca da construção de uma ampla frente para debelar o perigo constituído pelo fascista Javier Milei.
Em discurso feito após a confirmação de sua vantagem no primeiro turno, Massa se dirigiu àqueles “que votaram em branco, ou com aqueles que, por desespero ou raiva, ficaram em casa” e aos que “compartilham conosco valores democráticos como a educação pública, a independência dos poderes, a construção de valores institucionais que a Argentina merece e merece”
Ao se propor a formar um “governo de undade nacional, Massa destaca que seu “compromisso é construir mais ordem, mais segurança e não improvisação, construir uma pátria onde tenhamos capacidade onde nossos filhos possam optar por ir para a escola com um computador e não com uma arma na mochila”.
Massa, que é o atual ministro da Economia, ressaltou que instalará “um governo de unidade nacional construído com base em convocar os melhores, independentemente da sua força política”.
“Vamos convocar um governo de unidade nacional para construir uma indústria argentina forte”, continuou.
Sérgio Massa terminou o primeiro turno com 36,8% dos votos, enquanto Javier Milei obteve 30%.
Patrícia Bullrich, próxima ao ex-presidente Maurício Macri, teve 23,8%. O peronista Juan Schiaretti teve 6,7% e Myriam Bregman, também de esquerda, 2,8%.
DEMOCRATAS SE UNEM A MASSA
A vice-presidente nacional da União Cívica Radical (UCR), María Luisa Storani, declarou na terça-feira (24) que “é muito provável que apoiemos Massa” no segundo turno das eleições presidenciais.
A legenda apoiou Patrícia Bullrich no primeiro turno. María Luisa Storani disse que Javier Milei representa “uma proposta violenta da extrema direita”. “Obviamente vamos enfrentar Milei, isso está claro para nós”.
Na quarta (25), a direção nacional da UCR vai discutir a adesão à campanha de Sergio Massa.
Mesmo assim, adiantou que “vamos ocupar o lugar que o povo nos colocou, de oposição, isso é claro, seremos sempre a oposição e não o governo. Não sabemos qual será a decisão, mas é muito provável que apoiemos Massa”.
Outro dirigente histórico da legenda, Federico Storani, irmão de María Luisa, chamou Milei de “fascista” e defendeu o voto em Massa para combatê-lo.
Federico Storani acredita que Sergio Massa é um democrata e disse que “não há dúvida de que muitos radicais vão votar na única opção democrática que restou no segundo turno”.
Para ele, “não se pode ter neutralidade” em uma disputa envolvendo Milei, que é “antidemocrático”. Facundo Suárez Lastra, também líder dos “radicais” e ex-prefeito de Buenos Aires, falou abertamente que não votará em Javier Milei.
CONTRA A DESTRUIÇÃO DA CIÊNCIA
O meio acadêmico e científico argentino comemorou a vitória de Massa no primeiro turno, uma vez que a candidatura de Javier Milei propôs a privatização do Conicet (Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas), principal órgão incentivo e financiamento científico na Argentina, e o fechamento do Ministério da Ciência.
O biólogo molecular Alberto Kornblihtt disse que os argentinos votaram para “deter o fascismo”. Javier Milei “se apresenta como libertário mas que na realidade é um destruidor das conquistas populares”, argumentou o professor emérito da Universidade de Buenos Aires.
“Venceu claramente o modelo que privilegia o papel do Estado na educação e na saúde públicas, na cultura, na justiça social e na ciência e tecnologia como motor do desenvolvimento independente”, continuou.
Em agosto, milhares de cientistas, pesquisadores e estudantes realizaram uma manifestação contra os planos de Javier Milei para destruir a ciência no país.
No mês seguinte, um manifesto que caracteriza as posições de Milei como “anticientíficas” e “ignorantes” foi assinado por 1.400 pesquisadores argentinos que trabalham no exterior.
O texto destaca “a necessidade de um Estado que financie a produção de conhecimento para garantir o desenvolvimento”.
“Temos ideologias político-partidárias diferentes, mas estamos unidos pela preocupação com algumas mentiras que estão sendo contadas na campanha eleitoral argentina e que colocam em risco as possibilidades de crescimento que nosso país tem no futuro”, continua.