Em sem lugar entra o procurador da República Alessandro José Fernandes de Oliveira, que tem larga atuação no combate ao crime organizado. Oliveira é considerado um procurador discreto e técnico, com experiência em casos criminais e de corrupção
Em meio a pressões de setores do Judiciário, evidenciadas com mais ênfase pelo Procurador Geral da República, Augusto Aras, a Força Tarefa da Lava Jato de Curitiba anunciou na terça-feira (01) a saída de Deltan Dallagnol do comando da equipe de investigações. O motivo apresentado pelo promotor para o seu afastamento foi uma doença de sua filha mais nova.
Segundo o promotor, a filha, de 1 ano e 10 meses, está apresentando sinais de problemas no desenvolvimento e que, por isso, vai precisar se dedicar. “Temos 14 procuradores da Lava Jato. Agora, pai e mãe da minha filha pequena são só eu e minha esposa. É uma questão da família de dar atenção à saúde dela nesse momento tão importante e precioso pro desenvolvimento dela”, justificou.
Em sem lugar entra o procurador da República Alessandro José Fernandes de Oliveira, que tem larga atuação no combate ao crime organizado. Oliveira é considerado um procurador discreto e técnico, com experiência em casos criminais e de corrupção. Ele atuou nos acordos de colaboração premiada do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro e do lobista Jorge Luz, assinados durante a gestão da procuradora-geral da República Raquel Dodge.
Dallagnol, ao contrário de seu substituto, vinha sendo criticado internamente no MPF por ter revelado um estilo personalista à frente da Lava-Jato. Ele é alvo de procedimentos no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) que poderiam afastá-lo do caso. Em 2019, Dallagnol chegou a ser advertido pelo CNMP por fazer críticas públicas a integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF).
Recentemente uma acusação da defesa do ex-presidente Lula contra ele foi arquivada pelo CNMP, não por mérito, mas sim por prescrição de data.
O ex-juiz e ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, comentou em rede social a saída de Deltan Dallagnol da Lava Jato e parabenizou a atuação do promotor à frente do grupo de Curitiba. Disse que seu trabalho “alcançou resultados sem paralelo no combate à corrupção no país”.
“Apesar de sua saída por motivos pessoais, espero que o trabalho da Força Tarefa possa prosseguir”, acrescentou Moro.
Alessandro Oliveira assume o comando da Lava-Jato de Curitiba em um momento de embate da força-tarefa com a gestão de Augusto Aras, devido a um pedido da PGR para ter acesso aos bancos de dados sigilosos da operação. A medida, que obrigava os procuradores a entregarem todo o arquivo de investigações para o Procurador-Geral da República, foi questionada pelos procuradores, e interrompida por decisão do STF.
O novo chefe da Lava Jato participou de um pedido de demissão coletiva contra Raquel Dodge, realizado pelos procuradores do grupo da Lava-Jato na PGR, em protesto contra uma manifestação feita por ela que arquivou sumariamente quatro anexos da colaboração premiada de Léo Pinheiro, sem permitir que houvesse investigação. O procurador foi um dos que discordaram da manifestação de Dodge e, em conjunto com os colegas, pediu desligamento da função.
Procurador da República desde 2004 e membro da Procuradoria da República no Paraná desde 2012, Alessandro tem graduação em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e em Segurança Pública pela Academia Policial Militar do Estado do Paraná. É mestre em direito das relações sociais pela UFPR e professor em disciplinas de direito penal, processual penal e persecução patrimonial.
Entre as pressões exercidas contra a Lava Jato, há também a intenção de Aras de desativar as forças tarefas especiais de combate à corrupção. Ele teria até o dia 10 de setembro para decidir a respeito do assunto, mas, a subprocuradora-geral da República, Maria Caetana Cintra Santos, integrante do Conselho Superior do órgão, deferiu na segunda-feira (31) uma liminar determinando a prorrogação dos trabalhos da Lava Jato pelo prazo de um ano.
A decisão agora deverá passar pelo colegiado do órgão, no qual Aras perdeu a maioria após demonstrar muitas afinidades com os planos do governo Bolsonaro.
Além do revés com a decisão da subprocuradora, Aras também sofreu nesta semana outra derrota na composição da vice-presidência do colegiado. O Conselho Superior do Ministério Público Federal (MPF) elegeu na terça-feira (01), por 6 votos a 4, contra Aras, o subprocurador-geral José Bonifácio Borges de Andrada como vice-presidente do colegiado.