O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e a Corregedoria da Polícia Militar realizaram uma operação para prender 54 policiais militares nesta terça-feira (18), acusados de receberem “mesadas” de traficantes integrantes da facção PCC (Primeiro Comando da Capital) na região. A ação foi nomeada de Ubirajara, bairro onde iniciou a investigação do esquema.
A operação quer desmembrar o esquema de corrupção que acontece no 22º batalhão da Polícia Militar, localizado na zona sul de São Paulo. Os 54 PMs alvos da operação são ligados à unidade.
A Corregedoria da Polícia Militar começou a monitorar em fevereiro os telefones que estavam sendo usados pelos PMs nas negociações com os traficantes e descobriu que a rede envolvia dezenas de policiais no esquema de propina do 22º Batalhão. Uma denúncia anônima chegou aos homens da Corregedoria. Segundo ela, policiais haviam abordado três pessoas naquele bairro. Os acusados estariam com drogas, mas, em vez de levar o trio para o 98.º Distrito Policial (Jardim Miriam), dois soldados teriam recebido o suborno de Sandro Gomes da Silva – capturado nesta quarta. Eles liberaram os dois maiores detidos e levaram à delegacia só uma adolescente. Em troca, receberam R$ 6 mil no dia 8. No dia 9, telefonaram para Silva, exigindo mais R$ 4 mil.
Desde fevereiro, quando foi iniciada a investigação sobre a participação deles no esquema, diversas provas foram coletadas a partir das interceptações telefônicas. A corregedoria da PM já analisou cerca de 82.000 ligações.
Os valores das propinas investigadas variavam de R$ 300 a R$ 10 mil. Em 23 de junho, um dos traficantes preso na última quarta-feira, Julio Cesar Oliveira Silva, o Revolta entregou R$ 300 para uma soldado, metade do valor pago pelo acusado para seu companheiro, um soldado, que foi buscar o dinheiro em sua moto, durante a folga – as propinas também eram pagas durante o serviço. Em outra ocasião, os PMs pediram R$ 50 mil para soltar um traficante envolvido com o tráfico de armas e munições para fuzis. Era 11 de abril. Como o bandido alegou não ter o dinheiro, os PMs aceitaram dar um desconto. Primeiro, a propina caiu para R$ 20 mil; depois, para R$ 5 mil e, finalmente, para R$ 4 mil, pagos em duas parcelas. O dinheiro foi dividido entre quatro PMs.
Os alvos da operação também são investigados por tráfico de drogas, associação para o tráfico e integração criminosa. Cinco traficantes do PCC envolvidos no esquema também foram presos na operação.
Foram cumpridos também 86 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Os nomes dos alvos não foram revelados.
A operação Ubirajara é comandada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Foram mobilizados promotores de Justiça e 450 policiais militares. Desses, 280 são corregedores e 170 são policiais do 2º Batalhão de Choque.