Os trabalhadores alemães foram submetidos às “maiores perdas salariais reais da história alemã do pós-guerra”. Muito pior do que no crash de 2008 e no lockdown do coronavírus, advertem os economistas Tom Krebs e Isabelle Weber. No início de 2024, produção agregada seguia 7% abaixo e os salários reais 10% abaixo dos valores de antes da crise.
Um estudo assinado por dois respeitados economistas alemães, Tom Krebs e Isabelle Weber, assinalou que sob crise energética de 2022, decorrente da política de Berlim de aderir às sanções dos EUA contra a Rússia e descartar o gás russo mais barato, diante do conflito na Ucrânia, os trabalhadores de colarinho azul e colarinho branco alemães tiveram que aceitar as “maiores perdas salariais reais da história alemã do pós-guerra”.
Krebs foi conselheiro do agora primeiro-ministro Olaf Scholz, quando este era ministro das Finanças, e é membro científico da Comissão do Salário Mínimo. Weber, que leciona nos EUA, integrou o conselho consultivo do atual ministro da Economia, o verde Robert Habeck, no governo Semáforo (social-democratas, verdes e liberal-democratas).
De acordo com os números do estudo, as perdas salariais reais na crise energética de 2022 foram muito maiores do que na época da crise financeira de 2008 e na crise do coronavírus de 2020.
O freio no preço da energia – eles apontaram – chegou tarde demais, fez os cidadãos se sentirem largados à própria sorte, inação que levou à ascensão da AfD mostrada nas pesquisas.
Krebs e Weber advertiram que a destruição da economia alemã pode ser irreversível. “No início de 2024, ainda não há sinais de recuperação econômica, com a produção agregada estando agora em torno de 7% abaixo e os salários reais cerca de 10% abaixo de sua tendência pré-crise.”
DESINDUSTRIALIZAÇÃO
Krebs e Weber também entraram no debate em curso sobre a “desindustrialização alemã”, apontando que, se não forem tomadas contramedidas imediatas, a Alemanha está ameaçada de perder sua força econômica.
“Este erro de política, juntamente com a falta de uma política industrial coerente, pode ter sido o início do fim da força industrial da Alemanha.”
Para o estudo, sinais que possam indicar uma “mudança de rumo” não são encontrados entre os parceiros da coalizão semáforo.
Por sua vez, o CDU [o partido da ex-primeira-ministra Angela Merkel], o maior de oposição ao Semáforo no parlamento, não está focado em aumentar o investimento ou crescer o poder de compra. Só pensa em cortar gastos.
UM MANÁ PARA A AfD
O estudo é demolidor em relação à gestão Scholz/Habeck. Nenhuma crise do pós-guerra fez com que o padrão de vida dos alemães caísse tanto quanto as consequências da crise energética e sua má gestão.
Os danos, eles se preocupam, podem não ser reversíveis.
Segundo o estudo, a reação tardia do governo Scholz à crise energética implicou em uma “redução acentuada do padrão de vida, com a qual as pessoas foram confrontadas”, o que explicaria em boa medida o avanço da AfD, a oposição de extrema-direita.
Já para o ministro Habeck, nada disso faz sentido. Os desafios colocados pela economia alemã foram “muito bem enfrentados” em geral,a transição energética está progredindo “rapidamente” e a Alemanha irá “atingir” suas metas climáticas para 2030.
Quanto à dissociação das fontes de energia russas, segundo Habeck, foi alcançada “sem grandes problemas” – a indústria alemã que o diga. Quem não vê dessa forma, diz o ministro encantado com Washington, está fazendo “críticas incompreensíveis”.
