“Esse um governo que não governa para construir. Só governa para destruir. É um estado de completa insolvência. Não governa e não quer governar”, afirmou a ex-ministra
A ex-senadora Marina Silva (Rede) afirmou que está empenhada em colaborar para a construção de uma nova candidatura nas eleições presidenciais de 2022, que seja uma alternativa aos nomes de Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para ela, é importante encontrar um caminho que possa superar essa polarização.
“Estou empenhada em ajudar a construir e viabilizar um projeto que coloque em primeiro lugar o que nós queremos para o Brasil, em lugar da priorização do nome de pessoas. Porque esse é um erro histórico que vem sendo cometido. Infelizmente, após tantos anos no poder de PT e PSDB, a semente que brotou foi o Bolsonaro”, disse, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”.
Por conta de todos os desmandos do governo, Marina Silva disse que, em nome da defesa da democracia, estará alinhada contra a reeleição de Bolsonaro.
“Eu trabalho para que possamos construir uma alternativa à polarização. Mas com a clareza de que a democracia é um balizador fundamental para esse debate. É claro que, nesse momento, nessa situação que o Brasil está vivendo, o Bolsonaro é o vetor de todas essas mazelas. Temos que ter a clareza dessas coisas. Mas quando você também estreita os caminhos em torno de escolher o que já está posto, não é escolha. A escolha pressupõe um terceiro. Quando esse terceiro ainda não existe, a gente tem de trabalhar para construir. É isso que eu estou fazendo. Numa clareza que a democracia é um valor que não vai ser relativizado e que o Bolsonaro é uma ameaça a esse valor”, afirmou.
Marina fez duras críticas a Bolsonaro por conta dos ataques do chefe do Executivo ao Supremo Tribunal Federal (STF) e às instituições democráticas. “Nós temos uma situação de completa desestabilização. É um governo que não governa para construir. Só governa para destruir. É um estado de completa insolvência. Não governa e não quer governar. Você tem um presidente da República, que, em plena pandemia, com essas condições todas que a gente tem, se ocupa o tempo todo em atacar o Supremo, atacar as instituições democráticas, agredir os jornalistas”, pontuou.
“A única coisa que dá a impressão é de um governo que não quer trabalhar. Só quer ficar contra estudo, contra Educação, contra tudo que é decente e civilizatório nesse país”, frisou a dirigente da Rede.
Ela ressaltou ainda que Bolsonaro conduziu mal a pandemia, dedicando-se a promover aglomerações e a desqualificar o trabalho dos governadores, além de fazer propaganda de remédios ineficazes no tratamento e prevenção da doença. A tudo isso, Marina acrescentou que o presidente flerta rotineiramente com a possibilidade de um golpe, que a líder política diz não acreditar que vá acontecer, apesar de reconhecer o desejo dele de ir “até às últimas consequências”.
Segundo Marina, que foi ministra do Meio Ambiente e também se candidatou à presidência em três oportunidades, é preciso pensar em um projeto para o Brasil, antes de definir um nome de candidato. Ela alerta, porém, que o tempo de construção dessa candidatura já deveria ter se iniciado.
“Esse projeto já deveria estar posto há muito tempo. Infelizmente, os atores que têm capacidade de fazer isso preferem, digamos assim, a velha estratégia da polarização. Acho que uma alternativa à polarização precisa ocupar esse lugar de reconexão com a sociedade pela sua proposta”, observou.
A ex-senadora avalia que esta alternativa é que vai abrir espaço para o debate de diversos temas, como desemprego, desigualdades sociais, disrupção tecnológica e enfrentamento a mudanças climáticas. “São mais de 14 milhões de desempregados. Mais de 19 milhões passando fome no nosso país. Então, esse é o momento de fazer o debate, de reconectar as pessoas com as possibilidades para o país. A gente enfrenta o problema das desigualdades sociais. Precisamos ver como a gente vai se integrar ao debate que está sendo feito no mundo”, pontuou.
Líder da Rede Sustentabilidade, ela afirmou que é preciso enfrentar a necessidade de mudanças no modelo de desenvolvimento “para que o Brasil não continue sendo um pária ambiental”. Salientou ainda que será preciso observar as políticas ambientais para entender o desenvolvimento da política econômica do país.
“Aqui não é o lugar do problema. Aqui é o lugar da solução. Se as pessoas querem uma agricultura que possa ser certificada, rastreada, aqui é onde se tem possibilidade de fazer isso. Se as pessoas querem produzir materiais com energia limpa, renovável e segura, aqui é o lugar, porque aqui a gente pode ter uma matriz energética 100% limpa. Com a biomassa, o vento, o sol, a hidroeletricidade”, disse.
Para a ex-senadora, todas estas questões precisam estar colocadas. “E depois a gente verifica qual é o melhor nome. É deste debate que eu participo e quero que ele seja aprofundado”.