A deportação de imigrantes contaminados com coronavírus tem sido uma constante que vem sendo acelerada pela administração Trump dos Estados Unidos para a Guatemala, ultrapassando – oficialmente e recentemente – a cerca de duas centenas. Desde que começou a pandemia até junho, os EUA deportaram 2.359 guatemaltecos, entre eles 361 menores. Em outras palavras, 10% dos deportados tinham o Covid-19.
O que soou o alerta mais alto foi que pelo menos seis migrantes deportados em 9 de junho dos Estados Unidos deram positivo para o Covid-19 ao chegar, fazendo com que o país latino-americano suspendesse voos por pelo menos um mês para evitar a fonte de contágio.
A partir daí um turbilhão de novos casos foi reportado por um funcionário de saúde do aeroporto que pediu para não ser identificado. Por sua parte o Ministério de Saúde informou que não daria detalhes dos contágios, alegando temer que os migrantes sejam estigmatizados.
O The New York Times condenou o que identificou como a prática do governo Trump de “exportar” coronavírus, que tem causado sérios danos à saúde e ao bolso dos estadunidenses. “Nesta pandemia, as deportações massivas não são somente cruéis, mas também perigosas para a saúde pública no estrangeiro e no local”, advertiu. E o jornal acrescentou ainda que é “perigoso porque semear e abastecer a pandemia em qualquer país, e ainda mais os que sofrem de corrupção e pobreza, somente prolongará a crise de saúde e agravará as condições que levaram à migração massiva de El Salvador, Guatemala, Colômbia, Honduras, Haiti e México”.
O voo em que chegaram os últimos migrantes portadores do coronavírus aterrisou na tarde de 9 de junho com 40 adultos e 10 menores procedente de Alexandria, Louisiana. Antes, Estados Unidos havia enviado um voo deste mesmo local em que ao menos outros 65 migrantes também estavam contagiados.
Segundo o doutor Edwin Asturias, da Comissão Presidencial Contra o Coronavirus, para minimizar o risco de vinda de um país tão contaminado, não apenas se solicitam provas médicas, mas que sejam enviados um máximo de 50 passageiros com distanciamento nos voos, que usem máscaras e sigam os protocolos de saúde. Devido ao alto número de contágios, a Guatemala suspendeu por pelo menos quatro vezes a chegada de deportados.
PROPAGAÇÃO DO VÍRUS
Um estudo da organização Refúgio Internacional assinalou que “as deportações e retornos realizados em meio à pandemia de Covid-19 agravam desafios e contribuem para a propagação do vírus”. De acordo com a entidade humanitária, a administração estadunidense tem erroneamente insistido na detenção contínua de solicitantes de asilo por parte do Serviço de Imigração e Controle de Aduanas (ICE), “em lugar de utilizar alternativas que permitam o distanciamento social”.
Na avaliação do Refúgio Internacional, “os guatemaltecos deportados durante a pandemia chegam em casa para enfrentar os crescentes níveis de insegurança alimentar e uma economia estancada que se vê obstaculizada pelos fechamentos de fronteiras e as restrições de movimento”. “Tanto adultos como crianças enfrentam estigmas e riscos crescentes de ataques violentos, à medida em que o medo e a informação errônea sobre a enfermidade continuam se estendendo”, frisou.
Além de ter sido escanteado por Trump, o presidente da Guatemala, Alejandro Giammattei foi atropelado pelo envio de deportados contaminados. Giammattei afirmou que “isso de aliados dos Estados Unidos não é verdadeiro”, pois “a Guatemala é aliada dos Estados Unidos, os Estados Unidos não são aliados da Guatemala”, concluiu.